São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

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Para Rivellino, o 9 atrapalha o 10

Um dos heróis do tri diz que má fase de Ronaldo, a quem deixaria no banco, prejudica Ronaldinho

Campeão em 70 com a 11, ídolo corintiano jogou Copa seguinte com a 10, como faz Ronaldinho agora, após ter sido penta envergando a 11


TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Campeão do mundo em 70 e principal jogador brasileiro em sua participação no primeiro Mundial da Alemanha, em 74, quando tirou a camisa 11 e vestiu a 10, Roberto Rivellino, 60, saiu em defesa de Ronaldinho e elegeu o Fenômeno como um dos culpados pelo início insosso do Brasil neste Mundial.
Para o ex-corintiano, a falta de mobilidade de Ronaldo na frente está matando a criatividade de seu xará do Barcelona. Sugeriu a barração do atacante e também culpou Parreira por escalar dois jogadores de estilos parecidos [Ronaldo e Adriano] quando têm opções no banco como o ex-santista Robinho, para mudar a partida.
Rivellino questionou ainda a não-convocação de Rivaldo, a quem considerou o nome da última Copa, e disse que a mística da camisa 10 não existe mais.
Um dos principais jogadores da era pós-Pelé na seleção brasileira, Rivellino vê sua carreira se misturar em várias coincidências com a de Ronaldinho.
Os dois estrearam como coadjuvantes num Mundial vestindo a camisa 11 e voltaram para o Brasil como destaques e campeões do mundo.
Em sua segunda Copa, agora como principal jogador da seleção, Ronaldinho repete o histórico de Rivellino, que em 74, também na Alemanha, herdou a 10 de Pelé na campanha em que a seleção terminou com o quarto lugar no Mundial.
A habilidade que Ronaldinho desenvolve também tem nas raízes uma coincidência com Rivellino: o futsal. Além disso, os dois marcaram sua saída nos clubes que os revelaram com momentos de turbulência.
Enquanto Rivellino foi execrado pela torcida corintiana após a perda do título paulista de 74 para o Palmeiras -acabou negociado com o Fluminense-, estendendo o jejum de títulos do clube por mais três anos, Ronaldinho também deixou o clube que o fez nascer para o futebol pela porta dos fundos. Num episódio em que a Fifa precisou intervir para solucionar o impasse da sua saída do Grêmio para o Paris Saint-Germain, Ronaldinho chegou a ficar quase seis meses parado e foi taxado de mercenário pela torcida gremista.

 

FOLHA - O que você está achando desse começo do Brasil na Copa?
ROBERTO RIVELLINO -
O time está deixando muito a desejar. Há oito meses, o quadrado estava funcionando bem, mas agora estão deixando muito a desejar.

FOLHA - Ronaldinho não conseguiu deslanchar. Você acha que ele está sentindo o peso da camisa 10?
RIVELLINO -
Claro que não. Esse negócio de camisa não tem nada a ver. Não para o Ronaldinho. O que vale é quem está vestindo. O Ronaldinho está sendo prejudicado pelo Ronaldo, que não se mexe na frente. Ele não encontra espaço.

FOLHA - Então Ronaldo está prejudicando a seleção?
RIVELLINO -
Que ele está fora de forma é visível. Acho que o ideal seria ele se preparar melhor e entrar no segundo tempo dos jogos. Com a experiência que tem, entraria em melhores condições para atuar.

FOLHA - E porque você acha que o Ronaldinho não consegue repetir na seleção o futebol que encanta a todos no Barcelona?
RIVELLINO -
Bom, o Ronaldinho é o melhor jogador do mundo há dois anos e todo mundo espera muito dele. Mas no Barcelona ele joga com dois atacantes que se mexem na frente. Na seleção, ele tem Ronaldo e Adriano. Não sei se é o posicionamento errado. Acho que o Parreira deveria ver isso. Mas isso é com ele [Parreira].

FOLHA - Então você acha que o Ronaldinho não está sentindo o peso de estar na Copa?
RIVELLINO -
Não. Em 2002 ele foi muito bem, fez gols importantes e terminou como um dos destaques, ao lado do Rivaldo.

FOLHA - O Rivaldo foi o camisa 10 do Brasil em 2002. Você gostou da participação dele?
RIVELLINO -
Falaram muito do Ronaldo, mas para mim o Rivaldo foi o destaque, o grande nome da Copa de 2002. Não sei porque não foi chamado.

FOLHA - O que você está achando dos jogadores que usam a camisa 10 neste Mundial?
RIVELLINO -
Olha, esse negócio de camisa 10 no futebol acabou. Antes era um diferencial, mas hoje não tem mais nada. Para mim, quem está chamando a atenção é o Riquelme, da Argentina. Joga demais.

FOLHA - Você vê alguma semelhança sua com o Ronaldinho?
RIVELLINO -
Acho que na habilidade. O futebol de salão faz com que a gente tenha uma boa puxada de bola. Já ouvi ele dizer que aprendeu a dar o elástico comigo. Mas acho que taticamente somos diferentes. Ele joga mais na frente, é quase que um atacante, chegando mais e finalizando. Eu era mais um armador de jogadas, gostava de criar e achar espaços para os homens de frente.


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