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Para Rivellino, o 9 atrapalha o 10
Um dos heróis do tri diz que má fase de Ronaldo, a quem deixaria no banco, prejudica Ronaldinho
Campeão em 70 com a 11, ídolo corintiano jogou Copa seguinte com a 10, como faz Ronaldinho agora, após ter sido penta envergando a 11
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Campeão do mundo em 70 e
principal jogador brasileiro em
sua participação no primeiro
Mundial da Alemanha, em 74,
quando tirou a camisa 11 e vestiu a 10, Roberto Rivellino, 60,
saiu em defesa de Ronaldinho e
elegeu o Fenômeno como um
dos culpados pelo início insosso do Brasil neste Mundial.
Para o ex-corintiano, a falta
de mobilidade de Ronaldo na
frente está matando a criatividade de seu xará do Barcelona.
Sugeriu a barração do atacante e também culpou Parreira por escalar dois jogadores de
estilos parecidos [Ronaldo e
Adriano] quando têm opções
no banco como o ex-santista
Robinho, para mudar a partida.
Rivellino questionou ainda a
não-convocação de Rivaldo, a
quem considerou o nome da última Copa, e disse que a mística
da camisa 10 não existe mais.
Um dos principais jogadores
da era pós-Pelé na seleção brasileira, Rivellino vê sua carreira
se misturar em várias coincidências com a de Ronaldinho.
Os dois estrearam como
coadjuvantes num Mundial
vestindo a camisa 11 e voltaram
para o Brasil como destaques e
campeões do mundo.
Em sua segunda Copa, agora
como principal jogador da seleção, Ronaldinho repete o histórico de Rivellino, que em 74,
também na Alemanha, herdou
a 10 de Pelé na campanha em
que a seleção terminou com o
quarto lugar no Mundial.
A habilidade que Ronaldinho
desenvolve também tem nas
raízes uma coincidência com
Rivellino: o futsal. Além disso,
os dois marcaram sua saída nos
clubes que os revelaram com
momentos de turbulência.
Enquanto Rivellino foi execrado pela torcida corintiana
após a perda do título paulista
de 74 para o Palmeiras -acabou negociado com o Fluminense-, estendendo o jejum de
títulos do clube por mais três
anos, Ronaldinho também deixou o clube que o fez nascer para o futebol pela porta dos fundos. Num episódio em que a Fifa precisou intervir para solucionar o impasse da sua saída
do Grêmio para o Paris Saint-Germain, Ronaldinho chegou a
ficar quase seis meses parado e
foi taxado de mercenário pela
torcida gremista.
FOLHA - O que você está achando
desse começo do Brasil na Copa?
ROBERTO RIVELLINO - O time está
deixando muito a desejar. Há
oito meses, o quadrado estava
funcionando bem, mas agora
estão deixando muito a desejar.
FOLHA - Ronaldinho não conseguiu deslanchar. Você acha que ele
está sentindo o peso da camisa 10?
RIVELLINO - Claro que não. Esse
negócio de camisa não tem nada a ver. Não para o Ronaldinho. O que vale é quem está
vestindo. O Ronaldinho está
sendo prejudicado pelo Ronaldo, que não se mexe na frente.
Ele não encontra espaço.
FOLHA - Então Ronaldo está prejudicando a seleção?
RIVELLINO - Que ele está fora de
forma é visível. Acho que o ideal
seria ele se preparar melhor e
entrar no segundo tempo dos
jogos. Com a experiência que
tem, entraria em melhores
condições para atuar.
FOLHA - E porque você acha que o
Ronaldinho não consegue repetir na
seleção o futebol que encanta a todos no Barcelona?
RIVELLINO - Bom, o Ronaldinho
é o melhor jogador do mundo
há dois anos e todo mundo espera muito dele. Mas no Barcelona ele joga com dois atacantes que se mexem na frente. Na
seleção, ele tem Ronaldo e
Adriano. Não sei se é o posicionamento errado. Acho que o
Parreira deveria ver isso. Mas
isso é com ele [Parreira].
FOLHA - Então você acha que o Ronaldinho não está sentindo o peso
de estar na Copa?
RIVELLINO - Não. Em 2002 ele
foi muito bem, fez gols importantes e terminou como um dos
destaques, ao lado do Rivaldo.
FOLHA - O Rivaldo foi o camisa 10
do Brasil em 2002. Você gostou da
participação dele?
RIVELLINO - Falaram muito do
Ronaldo, mas para mim o Rivaldo foi o destaque, o grande
nome da Copa de 2002. Não sei
porque não foi chamado.
FOLHA - O que você está achando
dos jogadores que usam a camisa 10
neste Mundial?
RIVELLINO - Olha, esse negócio
de camisa 10 no futebol acabou.
Antes era um diferencial, mas
hoje não tem mais nada. Para
mim, quem está chamando a
atenção é o Riquelme, da Argentina. Joga demais.
FOLHA - Você vê alguma semelhança sua com o Ronaldinho?
RIVELLINO - Acho que na habilidade. O futebol de salão faz
com que a gente tenha uma boa
puxada de bola. Já ouvi ele dizer que aprendeu a dar o elástico comigo. Mas acho que taticamente somos diferentes. Ele
joga mais na frente, é quase que
um atacante, chegando mais e
finalizando. Eu era mais um armador de jogadas, gostava de
criar e achar espaços para os
homens de frente.
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