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análise
Onze idéias sobre um time sem ideais
VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
1) Carlos Alberto Parreira
é um sujeito civilizado,
um alívio no ambiente do
futebol, em especial no grosseiro ambiente do futebol do
Brasil. É um estudioso do
futebol. Apesar de melhores,
pessoas estudiosas são mais
sujeitas ao risco de acreditar
demais em abstrações teóricas. No caso do futebol, em
abstrações táticas. O time
de Parreira é uma abstração:
um fantasma tático sem
alma.
2) Parreira é um sujeito
teimoso, como quase todo
técnico. Um teimoso adepto
de abstrações táticas. Quase
tirou o time da Copa de 1994
por não querer o atacante
Romário. Romário levou a
abstração de Parreira aos
EUA e marcou os gols que levaram um esquema tático
sem alma, embora funcional,
ao título.
3) O esquema do Parreira
2006 não tem alma nem é
funcional. Kaká e Gaúcho
caem demais pelos lados do
meio-campo. Emerson e Zé
Roberto têm de ficar presos
demais à frente da área. Há
um buraco no meio-de-campo. Ninguém arma o jogo para os atacantes. Há pouca e
falha marcação entre as intermediárias. O combate só
começa com os "cabeças-de-área", como se dizia antigamente.
4) Adriano também foi
deslocado para a ponta. Isolado, tem de voltar para buscar a bola. Mas Adriano é pesado. Não sabe buscar jogo.
Não tem modos de ponta.
Deixou de se projetar na direção do gol a fim de receber
a bola dos armadores. Como
os armadores não estão armando, a posição de Adriano
é um equívoco casado com
um engano, as posições de
Gaúcho e Kaká.
5) Ronaldo está inflado de
marketing e de superexposição. Não joga mais contra os
adversários, mas contra sua
imagem midiática, o que ele
chama de "pressão". Está fora de forma. Se fosse um mero atleta, bastaria treinar
mais. Como tornou-se uma
marca do negócio esportivo,
é escalado pela marquetagem. Mas marcas são intangíveis e incapazes de carregar o corpo e a cabeça pesados de Ronaldo Nazário.
6) A fama de Roberto Carlos e Cafu é um exagero propiciado por uma longa estiagem de laterais no futebol
brasileiro. Não são, claro,
equívocos terminais. Jogam
em times "top" do mercado
futebolístico, que não rasgam dinheiro. Mas os últimos grandes laterais do time
nacional foram Júnior e
Leandro. Houve um fruto de
entressafra, Leonardo. Depois, seca.
7) Cafu é um grande atleta.
Um sujeito simpático e cooperativo. Mas jamais soube
cruzar ou chutar bem. Quando cruzava a bola, ainda no
São Paulo, a gente ouvia o coro educado: "Cafu, vai comprar bambu".
8) Faz quase uma década
que Roberto Carlos é pouco
mais do que um gol de falta
contra a China. Entrega-se a
presepadas como doidas bicicletas dentro da área (lembra da Dinamarca?) ou como
a cabeçada para o alto e para
o meio da área contra a Austrália, que criou um tumulto
com Dida e Lúcio e quase resultou em gol dos cangurus.
9) Robinho e ainda mais
Fred tornaram-se celebridades instantâneas. Uma celebridade é um capricho transformado em mercadoria do
negócio de imagens e fofocas. Mas eles são bons jogadores. Robinho é muito bom,
talvez venha a ser excepcional. Mas jogou contra adversários cansados e em desvantagem no placar, mais descuidados com a defesa: teve
mais espaço. Ele, Juninho,
Cicinho (sai Cafu) e Gilberto
(sai Roberto) podem fazer a
diferença. Mas é um delírio
fazer deles os salvadores
da pátria.
10) Por falar em delírio: é o
que poderia ter havido se Kaká tivesse convertido em gol
o passe que recebeu de um
Ronaldo de costas, no início
da partida contra os cangurus. Um gol poderia ter exposto a defesa canguru mais
cedo. Poderia até ter dado
espaço para mais gols, até
de Ronaldo. Mas seria apenas um delírio, não uma
solução.
11) Por causa do mata-mata, a Copa do Mundo é um
torneio muito influenciado
pelos azares da sorte e pelo
Sobrenatural de Almeida. O
Brasil tanto pode ser eliminado por um gol contra de
canela de Lúcio, contra Gana, como ganhar bem da Itália, inflar-se de ânimo e atemorizar adversários até a final vitoriosa.
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