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Atletas foram espiões dos comunistas
Estudo revela uso de campeões olímpicos pela Alemanha Oriental como agentes do serviço secreto na Guerra Fria
Cerca de 3.000 membros
de delegações esportivas produziram relatórios para
a polícia política quando competiam no exterior
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Siegfried Brietzke não viajava o mundo apenas em busca de
medalhas. Entre 1965 e 1984, o
remador tricampeão olímpico
pela ex-Alemanha Oriental
conciliou seu garimpo por títulos em torneios internacionais
com uma função secreta raramente atribuída a um homem
do esporte. Ele era espião.
A atividade soa incomum,
mas 25 pesquisadores provaram que o remador não era exceção. Em um documento histórico de 700 páginas, jogaram
luz sobre um episódio nebuloso
por mais de 30 anos e revelaram que 3.000 pessoas ligadas
ao movimento olímpico -entre atletas, cartolas e médicos-
atuaram como agentes no país.
O estudo virou livro, que será
lançado no mês que vem.
Segundo os pesquisadores,
os atletas e os dirigentes envolvidos produziram relatórios regulares para a Stasi, polícia política da fatia alemã dominada
pelos comunistas após o término da 2ª Guerra Mundial.
Os informes abordavam desde detalhes da segurança dos
países que os esportistas visitavam até o comportamento de
companheiros de equipe que
cogitavam abandonar o regime.
"Os esportistas e os dirigentes utilizados na espionagem
precisavam colocar tudo o que
viam no papel. Afinal, estamos
na pátria-mãe da burocracia.
Assim, conseguimos localizar
os envolvidos e reconstituir os
passos desta parceria", disse à
Folha Giselhe Spitzer, professor da Universidade de Berlim
e coordenador do estudo.
Ele explica que a escolha de
campeões para o trabalho de
agentes secretos não era aleatória. Eles deixavam o país com
freqüência e não costumavam
se opor aos chamados e às ordens dos comunistas.
O pesquisador não encontrou indícios de coação, mas explica que os atrativos oferecidos pela Stasi aos competidores-espiões eram irrecusáveis.
Os mais devotos, como
Brietzke, ouro nas Olimpíadas
de 1972, 1976 e 1980, recebiam
um salário mensal que equivaleria hoje a R$ 200 pelas informações amealhadas.
"Hoje parece pouco. Mas, em
um país comunista, onde atletas não contavam com contratos de patrocínio e precisavam
conciliar treinos com trabalho,
essa quantia significava muito", afirma Spitzer.
Competidores e dirigentes
menos badalados, que não deixavam a Alemanha com regularidade, obtinham regalias por
serviços prestados ao Estado,
como financiamentos especiais
para a aquisição de imóveis.
Não por acaso, o número de
esportistas seduzidos pela polícia não parou de crescer. Pelas
contas de Spitzer, 10% dos integrantes da delegação da Alemanha Oriental nos Jogos de 1972
agiram como espiões.
Na edição de Los Angeles-1984, os informantes já dominavam 25% do time olímpico.
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