São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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TOSTÃO

A experiência é relativa

No jogo mais importante do ano, o experiente Rogério teve uma infantil e decisiva falha, mas merece o perdão

OS LEITORES de alguns Estados, fora São Paulo, que leram a minha coluna de quarta-feira passada não devem ter entendido nada, já que foi republicada uma antiga coluna. A Folha já informou o erro no espaço "Erramos". Falhas acontecem com as grandes empresas e com os melhores jogadores, como Rogério Ceni.
O Inter mereceu o título e pode repetir nos próximos anos o sucesso nacional e internacional do São Paulo. Para isso, vai precisar manter a qualidade, mesmo com a inevitável troca de alguns jogadores.
Isso não é fácil. O São Paulo, que fez isso muito bem nos últimos tempos, teve neste ano um time pior do que o do ano passado. No lugar do excepcional Amoroso, entrou o esforçado, solidário e limitado Leandro, supervalorizado por Muricy e pela imprensa.
No jogo mais importante do ano, o experiente Rogério teve uma infantil e decisiva falha. Por tudo de extraordinário que já fez para o São Paulo, ele merece mil perdões. O experiente Clemer também falhou feio no segundo gol.
Esses erros nos ensinam mais uma vez que a experiência é relativa. Como escreveu Pedro Nava, a experiência é como um farol virado para trás. Na frente, continua tudo escuro.

Talento e garra
Na estréia de Dunga na seleção brasileira, gostei de ver o auxiliar Jorginho assistindo ao jogo lá de cima, onde se vê melhor o conjunto. Espero ainda que o Jorginho, ao assumir o cargo, tenha se afastado imediatamente da atividade de empresário de atletas, que exercia ao lado do ex-jogador Bebeto.
Dunga armou a equipe contra a Noruega com dois volantes e um meia de cada lado, bem abertos.
Era o eu que esperava, mas não era o que queria. Desde 1966, há 40 anos, quando a Inglaterra ganhou a Copa, passando pelo Brasil no Mundial de 94, a maioria das equipes joga dessa forma, como vimos no Mundial da Alemanha, inclusive a seleção brasileira, com Ronaldinho e Kaká atuando abertos, marcando no próprio campo para depois tentarem chegar ao ataque.
Esse esquema tático é bom, com vantagens e desvantagens, como todos os outros. A principal vantagem é ter uma linha de quatro no meio-campo protegendo os quatro defensores. A principal desvantagem é não ter um armador pelo meio, mais próximo dos dois atacantes.
A principal função de um técnico é ajudar os jogadores, principalmente os melhores, a jogarem tudo o que sabem. Por isso, Ronaldinho e Kaká deveriam atuar de uma maneira parecida com a que jogam nos seus clubes.
Pelo jeito -espero que esteja enganado-, os dois vão substituir e atuar como fizeram Elano e Daniel Carvalho contra a Noruega e como atuaram no Mundial. Se foram fracasso o time e os dois na Copa, por que repetir essa formação?
O excepcional meia ofensivo Raí, que se destacava por atuar próximo e/ou dentro da área adversária, fracassou também na Copa-94 porque jogou de meia-direita recuado, marcando no campo do Brasil para depois avançar. Parreira repetiu o erro com Ronaldinho e Kaká.
Além de Rafael Sobis, Ronaldinho e Kaká, faltaram na última convocação Ricardo Oliveira, Josué, Mineiro e Júlio César. Não dá nem para comparar Ricardo Oliveira com Vágner Love e Josué com Dudu Cearense.
Eu queria ver também a seleção, com tantos craques, jogar como o São Paulo e Inter. É o estilo organizado e guerreiro dos dois times que fazem os atletas atuarem melhor e correrem mais, e não o contrário. É a união do talento com a garra.


tostao.folha@uol.com.br

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