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Leão ignora Kia e assume ser salvação
Treinador do Corinthians diz não ter conversado com o presidente da MSI e que será um prazer superar o Palmeiras
Contratado pelo presidente, ele diz ter carta-branca para afastar jogadores e que sua relação com os argentinos não difere das com os outros
EDUARDO ARRUDA
ENVIADO ESPECIAL A JARINU
Emerson Leão, 57, faz questão de dizer: é um homem do
presidente. O do Corinthians,
que fique claro. Porque o da
MSI, Kia Joorabchian, ele disse
ainda não ter conversado e não
saber "nem onde está". Parece,
aliás, não fazer questão disso.
O treinador, que comanda o
time hoje pela segunda vez, às
18h10, no estádio do Pacaembu,
contra o Botafogo, acredita ser
a "última tentativa" do clube
para tentar sair da lama.
A crença do técnico em ser o
salvador, que se afina ao discurso do presidente Alberto Dualib, expõe ainda mais o racha
entre o clube alvinegro e sua
parceira, que, de acordo com
cartolas corintianos, foi contrária à chegada de Leão.
Com um discurso diferente
de seus antecessores, que sempre trataram o iraniano como o
chefe máximo da parceria, o
técnico falou à Folha.
FOLHA - O que representa voltar ao
Corinthians depois de mais de 20
anos?
EMERSON LEÃO - Todo clube em
que eu trabalhei, eu fui chamado de novo. E faltava o Corinthians para mim. Isso faz com
que me sinta bem, porque, em
vez de deixar problema, você
deixa solução e saudade. Não
deixa rastro não. Só que gostaria de ter chegado de uma maneira mais tranqüila. Cheguei
com um pepino danado.
FOLHA - Você sempre afirmou que
foi pautado pela honestidade, cresceu com isso, valores passados pelo
seu pai...
LEÃO - Hoje eu vejo que isso é
virtude, antigamente era obrigação. Ser honesto, verdadeiro,
transparente era obrigação. O
meio é perigoso, porque virou
uma fantasia, um comércio
muito grande.
FOLHA - O presidente da Fifa, Joseph Blatter, deu declarações dizendo que o Corinthians vive de negociatas de jogadores, que a MSI não
tem transparência em suas transações. Você teme ser envolvido em
algo irregular?
LEÃO - É muito simples definir.
Eu fui contratado por uma
equipe, o Corinthians. Na minha área, que é a do futebol, a
contratação ou a venda de jogadores passa pelo meu crivo. E
eu sou responsável por aquilo
que peço.
FOLHA - Mas você sabe, por exemplo, como as negociações de jogadores são feitas no Corinthians?
LEÃO - A minha área é técnica,
dentro do campo. Tudo o que se
passa lá é responsabilidade minha. A responsabilidade fora do
campo compete ao presidente.
Acredito que ele não vai querer
ter problemas, como você e eu.
Acho que você tem que representar o melhor possível a nação corintiana. Não pode deixar
furo não.
FOLHA - Você acha que esses problemas envolvendo o clube e a parceira podem atrapalhar o desempenho do time?
LEÃO - Eu fui contratado para
que isso não floresça e não apareça. Eu não estou preocupado
com esse outro lado. A minha
preocupação é a de promover
uma sintonia exata entre os jogadores. O Corinthians é muito
maior do que seu futebol. Eu
cuido do futebol, e pode ter certeza de que aqui dentro não vai
envolver nada.
FOLHA - Se você precisar afastar
um jogador, terá total autonomia
para isso?
LEÃO - Eu tenho carta-branca.
Mesmo porque, caso você trabalhe amarrado, não irá prosperar. Mas também você tem
de ter o bom senso de não fazer
bobagem.
FOLHA - Como tem sido a sua relação com os argentinos?
LEÃO - Igual, sem uma única
vírgula a mais, à que mantenho
com os brasileiros. Eu não treino três atletas, eu treino uma
equipe. A dura e o elogio vão na
mesma proporção a todos.
FOLHA - Você mantém aquela posição de não indicar argentinos para
suas equipes?
LEÃO - Eu sempre procuro a
minha semente. Se tenho boas
sementes, eu tenho de trabalhar com elas com satisfação.
Acredito que, se o intercâmbio
entre brasileiros e argentinos
fosse mais intenso, o relacionamento seria melhor.
FOLHA - Por que o Corinthians
campeão do ano passado chegou a
essa situação?
LEÃO - Foi um espanto para todos. No ano passado, o Corinthians estava em estado de êxtase. Precisamos colocar os jogadores numa linha de produção e fazer as coisas certas e em
série e ter os afinadores, que
são as estrelas.
FOLHA - O presidente Alberto Dualib disse que o time precisava de um
técnico chato...
LEÃO - É isso mesmo. É isso
que falam eu sou. Porque sou
aquele que cobra, aquele que
exige, que não mente.
FOLHA - Como você avalia o potencial do grupo?
LEÃO - Eu não posso avaliar,
mas sei que tem. Não estabeleci
limite para eles crescerem. Eu
só sei que eles têm obrigação de
crescer porque do jeito que estava era uma vergonha. Todos
os treinadores que vieram tentaram fazer o melhor. E eu acho
que sou a última tentativa. Tentaram tanto e, depois, falaram:
"Vamos no Leão". Foi isso o
que aconteceu.
FOLHA - O presidente disse que você era a única solução.
LEÃO - Quando o presidente
diz isso, ele já me empurrou na
parede e apertou o pescoço.
Então eu tenho que dar resultado, e ele tem que aparecer.
FOLHA - Como se muda a mentalidade de estrelas?
LEÃO - O jogador tem que ter
confiança em você. O dia em
que você for cúmplice pode ter
o pior elemento possível no time que ele será fiel a você e você a ele. Aqui há atletas muito
competitivos e com egos muito
inflados. Sabendo conduzir, vai
para onde você quiser.
FOLHA - É algo pedagógico?
LEÃO - Da mesma maneira que
o filho fica bicudo, ele lhe alimenta com um beijo saboroso.
O problema é maior quando há
aquele falso, que não demonstra o que é. Os rabugentos, deixa-os comigo.
FOLHA - Dirigentes do Palmeiras
estão dizendo que poderão ser cobrados por deixar você ter saído se
terminar à frente do Palmeiras...
LEÃO - Eu já estava à frente no
São Caetano. Pretendo fazer isso aqui e, se puder passar pelo
Palmeiras, será um prazer.
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