São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Leão ignora Kia e assume ser salvação

Treinador do Corinthians diz não ter conversado com o presidente da MSI e que será um prazer superar o Palmeiras

Contratado pelo presidente, ele diz ter carta-branca para afastar jogadores e que sua relação com os argentinos não difere das com os outros


EDUARDO ARRUDA
ENVIADO ESPECIAL A JARINU

Emerson Leão, 57, faz questão de dizer: é um homem do presidente. O do Corinthians, que fique claro. Porque o da MSI, Kia Joorabchian, ele disse ainda não ter conversado e não saber "nem onde está". Parece, aliás, não fazer questão disso.
O treinador, que comanda o time hoje pela segunda vez, às 18h10, no estádio do Pacaembu, contra o Botafogo, acredita ser a "última tentativa" do clube para tentar sair da lama.
A crença do técnico em ser o salvador, que se afina ao discurso do presidente Alberto Dualib, expõe ainda mais o racha entre o clube alvinegro e sua parceira, que, de acordo com cartolas corintianos, foi contrária à chegada de Leão. Com um discurso diferente de seus antecessores, que sempre trataram o iraniano como o chefe máximo da parceria, o técnico falou à Folha.

 

FOLHA - O que representa voltar ao Corinthians depois de mais de 20 anos?
EMERSON LEÃO -
Todo clube em que eu trabalhei, eu fui chamado de novo. E faltava o Corinthians para mim. Isso faz com que me sinta bem, porque, em vez de deixar problema, você deixa solução e saudade. Não deixa rastro não. Só que gostaria de ter chegado de uma maneira mais tranqüila. Cheguei com um pepino danado.

FOLHA - Você sempre afirmou que foi pautado pela honestidade, cresceu com isso, valores passados pelo seu pai...
LEÃO -
Hoje eu vejo que isso é virtude, antigamente era obrigação. Ser honesto, verdadeiro, transparente era obrigação. O meio é perigoso, porque virou uma fantasia, um comércio muito grande.

FOLHA - O presidente da Fifa, Joseph Blatter, deu declarações dizendo que o Corinthians vive de negociatas de jogadores, que a MSI não tem transparência em suas transações. Você teme ser envolvido em algo irregular?
LEÃO -
É muito simples definir. Eu fui contratado por uma equipe, o Corinthians. Na minha área, que é a do futebol, a contratação ou a venda de jogadores passa pelo meu crivo. E eu sou responsável por aquilo que peço.

FOLHA - Mas você sabe, por exemplo, como as negociações de jogadores são feitas no Corinthians?
LEÃO -
A minha área é técnica, dentro do campo. Tudo o que se passa lá é responsabilidade minha. A responsabilidade fora do campo compete ao presidente. Acredito que ele não vai querer ter problemas, como você e eu. Acho que você tem que representar o melhor possível a nação corintiana. Não pode deixar furo não.

FOLHA - Você acha que esses problemas envolvendo o clube e a parceira podem atrapalhar o desempenho do time?
LEÃO -
Eu fui contratado para que isso não floresça e não apareça. Eu não estou preocupado com esse outro lado. A minha preocupação é a de promover uma sintonia exata entre os jogadores. O Corinthians é muito maior do que seu futebol. Eu cuido do futebol, e pode ter certeza de que aqui dentro não vai envolver nada.

FOLHA - Se você precisar afastar um jogador, terá total autonomia para isso?
LEÃO -
Eu tenho carta-branca. Mesmo porque, caso você trabalhe amarrado, não irá prosperar. Mas também você tem de ter o bom senso de não fazer bobagem.

FOLHA - Como tem sido a sua relação com os argentinos?
LEÃO -
Igual, sem uma única vírgula a mais, à que mantenho com os brasileiros. Eu não treino três atletas, eu treino uma equipe. A dura e o elogio vão na mesma proporção a todos.

FOLHA - Você mantém aquela posição de não indicar argentinos para suas equipes?
LEÃO -
Eu sempre procuro a minha semente. Se tenho boas sementes, eu tenho de trabalhar com elas com satisfação. Acredito que, se o intercâmbio entre brasileiros e argentinos fosse mais intenso, o relacionamento seria melhor.

FOLHA - Por que o Corinthians campeão do ano passado chegou a essa situação?
LEÃO -
Foi um espanto para todos. No ano passado, o Corinthians estava em estado de êxtase. Precisamos colocar os jogadores numa linha de produção e fazer as coisas certas e em série e ter os afinadores, que são as estrelas.

FOLHA - O presidente Alberto Dualib disse que o time precisava de um técnico chato...
LEÃO -
É isso mesmo. É isso que falam eu sou. Porque sou aquele que cobra, aquele que exige, que não mente.

FOLHA - Como você avalia o potencial do grupo?
LEÃO -
Eu não posso avaliar, mas sei que tem. Não estabeleci limite para eles crescerem. Eu só sei que eles têm obrigação de crescer porque do jeito que estava era uma vergonha. Todos os treinadores que vieram tentaram fazer o melhor. E eu acho que sou a última tentativa. Tentaram tanto e, depois, falaram: "Vamos no Leão". Foi isso o que aconteceu.

FOLHA - O presidente disse que você era a única solução.
LEÃO -
Quando o presidente diz isso, ele já me empurrou na parede e apertou o pescoço. Então eu tenho que dar resultado, e ele tem que aparecer.

FOLHA - Como se muda a mentalidade de estrelas?
LEÃO -
O jogador tem que ter confiança em você. O dia em que você for cúmplice pode ter o pior elemento possível no time que ele será fiel a você e você a ele. Aqui há atletas muito competitivos e com egos muito inflados. Sabendo conduzir, vai para onde você quiser.

FOLHA - É algo pedagógico?
LEÃO -
Da mesma maneira que o filho fica bicudo, ele lhe alimenta com um beijo saboroso. O problema é maior quando há aquele falso, que não demonstra o que é. Os rabugentos, deixa-os comigo.

FOLHA - Dirigentes do Palmeiras estão dizendo que poderão ser cobrados por deixar você ter saído se terminar à frente do Palmeiras...
LEÃO -
Eu já estava à frente no São Caetano. Pretendo fazer isso aqui e, se puder passar pelo Palmeiras, será um prazer.


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