São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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RITA SIZA

De besta a bestial


Quando provam o seu mérito, os portugueses são elevados aos píncaros dos heróis


A SELECÇÃO portuguesa está na final do Mundial sub-20, um feito que imediatamente lhe valeu um milhão de comparações com a chamada "geração de ouro" do futebol português, que se sagrou campeã em 1989 e 1991 com um time que incluía o Figo ou o Rui Costa. Ao contrário do Brasil, o adversário de hoje, as selecções portuguesas não são clientes habituais destes torneios -e, por isso, quando provam o seu mérito ou demonstram a sua categoria até a final, são elevadas aos píncaros dos heróis.
Pois desta vez ninguém se deu ao trabalho de pôr um nome à equipa nacional antes da partida para a Colômbia -nem ouro nem prata, ainda que do rabo da gata. Na verdade, a selecção viajou quase incógnita: na mídia portuguesa, este campeonato não provocou o mínimo interesse, nem levantou qualquer expectativa.
Aliás, muita gente nem nunca ouvira falar (ou vira atuar) estes jogadores. Mesmo a TV estatal, que por obrigações de serviço público transmite até um jogo de solteiros contra casados que envolva Portugal, só começou a mostrar os jogos dos sub-20 quando a selecção chegou às semifinais.
Depois da qualificação para a final, foi a euforia. Até amigos que nunca demonstraram o mínimo interesse por futebol tinham mensagens de apoio e elogio publicadas no Facebook: que estes sim, são genuínos, disciplinados, humildes e trabalhadores; que estes não, não são como os outros, as estrelas que todos conhecemos, os superfamosos que sempre prometem tanto e tanto nos desiludem...
Não quero aqui, de maneira nenhuma, desvalorizar a prestação da selecção sub-20, mas a sua história na Colômbia confirma como, aqui em Portugal, é muito fácil passar de besta a bestial.
O contrário também é possível, e José Mourinho, em Madri, parece determinado a prová-lo. O comportamento do treinador português no último jogo da Supertaça Espanhola, em Barcelona, é inqualificável e simplesmente inadmissível -mesmo se Mourinho fosse o tal "Especial" que julga ser. Ainda por cima não é, como as sucessivas derrotas com o Barcelona demonstram.
Oxalá os responsáveis do real madrid (ou a federação espanhola) tomem medidas que deixem clara a sua intransigência com semelhantes "bestialidades". Mourinho deve ser exemplarmente punido. Se nada acontecer, corremos o risco de ver os treinadores do futuro copiar este seu estilo, da mesma forma e com a intensidade com que os jogadores sub-20 estão determinados em repetir as conquistas da "geração de ouro".


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