DA REPORTAGEM LOCAL

Seis dias. Foi este o tempo que Ricardo Mello precisou para coroar a reviravolta em sua carreira.
Ontem, após cinco jogos surpreendentes, o tenista de 23 anos conquistou seu primeiro título de um torneio de elite e pôs fim à mesmice brasileira no circuito mundial. Desde 1998, apenas Gustavo Kuerten erguia troféus de eventos da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
A vitória em Delray Beach foi mais uma mostra da impressionante ascensão do brasileiro. Ontem, ele derrotou por 7/6 e 6/3 o cabeça-de-chave número um da competição e 24º colocado no ranking mundial Vincent Spadea.
Mello já havia superado seu melhor resultado duas rodadas antes, ao bater o francês Jerome Golmard. O tenista nunca passara das quartas-de-final de um ATP.
E foi exatamente nesta fase, mas no Aberto dos EUA, que o brasileiro iniciou sua ascensão. Ele foi o único tenista do país a avançar à terceira rodada do Grand Slam e também surpreendeu ao bater, logo na estréia, o argentino Juan Ignacio Chela, então top 20. Com isso, passou a ocupar a 100ª posição no ranking e o posto de número dois do Brasil.
Ontem, na Flórida, Mello também escreveu seu nome na história do tênis profissional do país. Apenas seis jogadores haviam vencido campeonatos de primeira linha desde 1970: Thomaz Koch, Carlos Alberto Kirmayr, Jaime Oncins, Luiz Mattar, Fernando Meligeni e Gustavo Kuerten. Os dois primeiros têm apenas um título cada um.
A última vitória, excluídas as de Guga, foi de Meligeni, campeão no saibro de Praga (República Tcheca), em maio de 1998.
A mesmice brasileira no topo do circuito foi acompanhada de perto por Mello, que tem Kuerten como um de seus principais modelos no tênis.
O baixinho tenista, de 1,75 m, tinha 16 anos quando Guga conquistou seu primeiro título de Roland Garros, em 1997. Um ano antes, conseguiu contra o ídolo seu primeiro ponto no ranking da ATP. A partida era válida pela primeira rodada de um challenger em Campinas, e Mello foi derrotado por 6/2 e 6/1.
Sua carreira começou a deslanchar em 2001, quando conquistou seu primeiro challenger, em Campos do Jordão, e pela primeira vez entrou na quadra para um torneio da ATP, na Costa do Sauípe.
Neste ano, o brasileiro deu um salto de qualidade e passou a encarar mais desafios. Disputou qualificatórios e conseguiu entrar na chave principal dos Abertos de Austrália, França e EUA, e do Masters Series de Miami, considerado o quinto Grand Slam.
"Foi a melhor coisa que já me aconteceu. Provei que posso jogar com os melhores. Este é o nível que eu sempre quis atingir", disse ele, que ganhou 19 dos 21 jogos que fez desde julho.
A euforia pela decisão inédita atrapalhou o tenista ontem.
Mello começou o jogo com a mesma tranqüilidade que o fez virar resultados complicados durante o torneio -ele esteve atrás no marcador na segunda rodada e nas quartas-de-final.
O brasileiro manteve seu saque no primeiro set até o tie-break, quando finalmente conseguiu se impor e fechar em 7/2.
Na segunda etapa, obteve uma quebra no quarto game e administrou a vantagem. No último game, no entanto, patinou. Nervoso, o tenista desperdiçou três match points antes de fechar.
Campeão, Mello beijou o chão e, com a bandeira brasileira enrolada no corpo, levantou seu primeiro troféu.


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