São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 2006

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TOSTÃO

O enigma da Copa

NO RECENTE congresso da Fifa, com as presenças dos técnicos das seleções, que trabalharam ou não na Copa, todos concordaram que a qualidade técnica do Mundial foi uma decepção. Qual o principal motivo desse fracasso? Este é o grande mistério para os treinadores. No congresso, eles não chegaram a nenhuma conclusão. Dizem que foi criada uma comissão de notáveis, formada por treinadores, matemáticos, psicólogos e amigos da Fifa para esclarecer o grande enigma. Provavelmente irão concluir que foi o acaso.
O acaso é muito freqüente nas nossas vidas, mas às vezes ele serve para encobrir a nossa ignorância e a nossa prepotência. Contam que alguém presente ao congresso, talvez um intruso -ou um técnico mais humilde ou mais distraído-, sugeriu a hipótese de que o futebol feio e chato da Copa da Alemanha foi decorrente da rigidez dos esquemas táticos e da excessiva preocupação dos treinadores em não arriscar, recuar demais as suas equipes e colocar no mínimo oito jogadores atrás da linha da bola, primeiro se defendendo, para depois contra-atacar.
Dizem ainda que ninguém levou a sério essas estranhas explicações para o fracasso técnico do Mundial.

Repetição
No mesmo congresso da Fifa, foi constatado que 19 das 32 seleções jogaram no 4-4-2, cinco no 3-5-2 (todas eram equipes mais fracas) e as outras não tiveram esquemas fixos. Os professores concluíram que o 4-4-2 é ainda o esquema mais efetivo e que vai durar muito tempo. Já são 40 anos de vida e provavelmente serão mais 40. É a compulsão à repetição. Enquanto isso, o Barcelona, dirigido pelo holandês Rijkaard, campeão da Europa e bi da Espanha, único time do mundo que encanta, joga de uma maneira bem diferente, não só pelo desenho tático como pela postura ousada, marcando por pressão e chegando ao ataque com muitos jogadores.


O acaso é bem freqüente em nossas vidas, mas às vezes ele serve para encobrir nossa ignorância e prepotência

Os técnicos presentes ao congresso da Fifa devem achar que o Barcelona é um time atípico, excêntrico e que não serve de referência. No tradicional 4-4-2, utilizado também pelo Brasil na Copa, os times jogam com dois volantes, um meia aberto de cada lado e dois atacantes. Uma variação, bastante usada pelos técnicos brasileiros, é atuar com uma linha de três no meio-campo e mais um meia ofensivo próximo dos dois atacantes. Nenhuma das principais seleções jogou dessa forma na Copa.
Outra variação, abandonada há muito tempo pelos técnicos europeus e comum ainda no Brasil, é escalar dois meias ofensivos perto de dois atacantes, como faz o atual time do Corinthians e jogou o São Paulo contra o Internacional.
Nesse esquema, há quatro jogadores próximos do gol adversário, mas os dois volantes ficam sobrecarregados na marcação e as jogadas ofensivas, muito centralizadas, como tem ocorrido no Corinthians com os meias Carlos Alberto e Roger. No São Paulo, isso não aconteceu porque Danilo atuou quase como um ponta-esquerda.

Colaborador
Segundo informações do jornal "Estado de Minas", Ricardo Gomes, técnico do Bordeaux, será colaborador do Dunga na Europa, observando jogadores e passando informações para o técnico. Boa escolha. Ricardo Gomes é bastante respeitado na Europa. Aliás, aproveito para corrigir com várias semanas de atraso o erro que cometi ao escrever que Ricardo Gomes foi zagueiro da seleção na Copa de 94. Ele se contundiu e foi cortado. Não confie na memória de um homem que chega aos 60 anos.

tostao.folha@uol.com.br


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