São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008 |
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MOTOR Sobre sorrisos que não voltarão
FÁBIO SEIXAS EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE PRIMEIRA VITÓRIA da Toro Rosso, primeira vitória em Monza de um carro italiano não-Ferrari desde 1956, pole, vencedor e pódio mais jovens da história... Marcas que trouxeram uma graça do tamanho do sorriso de Vettel ao último fim de semana da F-1. A graça do novo, do tabu quebrado, do diferente. E que não têm a ver com a chuva (choveu pra todos), com o motor Ferrari de última geração (Massa e Raikkonen, claro, usam o mesmo) ou com algum lance de sorte (o alemão comandou a prova com classe). Mas que têm tudo a ver com outra efeméride, menos badalada nos relatos pós-GP. Foi a primeira vitória de um "costumer car" desde 1970, quando Stewart ganhou em Jarama com um March 701 do velho Tyrrell. Numa tradução livre, seria algo como "equipe-cliente". Tyrrell foi lá no balcão da March, em Bicester, deixou uma grana, levou dois carros -um para Stewart, outro para Servoz-Gavin. Três meses depois, o escocês ganhou a corrida da Espanha. Ah, sim: havia outros três modelos 701 em ação em Jarama naquela tarde, e um deles deu o primeiro pódio para o então novato Mario Andretti. Era assim que a F-1 funcionava. Era por isso que a variedade de vencedores era maior, que o surgimento de talentos era mais freqüente, que existiam mais histórias para contar. Uma bela história foi contada no domingo. Mas talvez seja das últimas em muito tempo. Porque a exceção aberta para que a Toro Rosso utilize o chassi antigo da Red Bull acabará no fim do ano que vem. Exceção, escreva-se, que só há porque a Red Bull pagou US$ 4 milhões à Force India para não criar caso neste e no próximo Mundial. As últimas versões do Pacto de Concórdia -e a próxima, tudo indica- proibiam a "equipe-cliente". Cada time deve ser um construtor. Por quê? A única explicação que encontro é na soberba que a categoria vestiu dos 80 para cá, uma fixação chata na idéia de seletividade. Se é verdade que esse marketing ajudou a fazer da categoria o que ela se tornou, também é que 1) sem concorrência, o rigor pode ser relaxado, 2) caras e cores novas no pódio podem ser uma estratégia mais eficiente e 3) no fim da temporada, o poder das grandes não seria abalado. Talvez o sorriso de Vettel e os sorrisos que ele proporcionou transformem alguns conceitos. Talvez os times grandes e médios percebam que uma vitória alienígena não dói. Talvez Mosley -suprema ironia, um dos donos da March- e Ecclestone se convençam de que um grid com 20 carros é uma ignomínia. Mas talvez não aconteça nada disso e a Toro Rosso tenha de ser vendida a um milionário obscuro ou a um grupo de investidores, para fechar as portas logo depois. E o 14 de setembro de 2008 será apenas um sorriso amarelo. Uma pena. Mas este segundo cenário é a aposta da coluna. fseixas@folhasp.com.br
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