São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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FUTEBOL
Emerson Leão e família de Farah têm propriedades no interior paulista
Novo técnico da seleção é sócio de presidente da FPF

DA REPORTAGEM LOCAL
E DO PAINEL FC

As ligações do novo técnico da seleção brasileira, Emerson Leão, com o presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, vão além da mútua admiração no campo esportivo.
Leão, na verdade, é sócio da família Farah em propriedades rurais no interior de São Paulo.
O próprio presidente da FPF confirmou ontem que Eduardo José Farah Filho mantém sociedade com o treinador.
"Não sei se a sociedade ainda existe ou não. Ela começou há muito tempo, mas não sei se continua até hoje. Meu filho não é mais dirigente de futebol, e por isso não vejo problema em existir esse negócio. O Leão realmente é meu amigo, mas também tenho amizade com outros treinadores", afirmou o presidente da FPF.
Apesar de negar que ele próprio tenha fazendas no interior paulista em sociedade com Leão, a Folha apurou que o presidente da federação costuma falar abertamente a presidentes de clubes, a assessores e a amigos sobre seus negócios com o goleiro que conquistou o tricampeonato mundial em 1970, na Copa do México.
Farah refutou a informação de que tenha tido papel decisivo na escolha de Leão como sucessor de Wanderley Luxemburgo no comando da seleção brasileira.
"Sempre fui um defensor dele, mas não fui consultado. Se eu tivesse indicado, aí que a CBF não o escolheria como técnico. Mas acho que o Leão merece, por ser extremamente competente. Por mim, ele já teria participado de duas Copas, em 1990 e 1994."
Coincidência ou não, após o anúncio de que Leão assumiria o time nacional Farah passou a criticar a instalação das duas CPIs que investigam o futebol.
O discurso atende aos interesses do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que vem trabalhando nos bastidores para brecar as investigações em Brasília.
"Acho que as CPIs são ruins para o futebol. Mas, se for para existirem, que sejam feitas de forma transparente. Na minha opinião, as CPIs só servem para gastar o dinheiro do povo", disse Farah.
A amizade do dirigente paulista com o novo técnico da seleção começou em 1989, quando Leão dirigiu o Palmeiras.
Mas a relação só se tornou íntima em meados da década de 90, quando o dirigente paulista foi decisivo para a transferência de Leão para o futebol japonês, onde o ex-goleiro treinou o Shimizu S-Pulse e o Verdy Kawasaky.
Quando deixou o Brasil, Leão deixou vago um apartamento seu em São Paulo.
Uma filha de Farah, então recém-casada, foi morar na residência que era do treinador.
Em 1998, Leão novamente contou com o auxílio do Farah para conseguir um emprego em um clube da elite do futebol paulista.
Na época patrocinado pela Unicór, do empresário Renato Duprat Filho, o Santos precisava de um treinador, e Farah indicou seu amigo Leão.
Duprat atendeu ao apelo do presidente da federação e contratou o técnico, que levou o Santos ao título da Copa Conmebol, torneio sul-americano que Leão também havia conquistado no Atlético-MG, um ano antes.
No Guarani, no qual Eduardo José Farah Filho teve cargo diretivo, Leão também teve passagem como treinador.
Pessoas próximas a Farah e funcionários da FPF disseram que Emerson Leão era visto com frequência na sede da entidade.
O dirigente disse que ficou surpreso com a nomeação de Leão. Ele considerava a indicação do tetracampeão Carlos Alberto Parreira, técnico do Atlético-MG, mais provável.
"Na atual situação, o menos arriscado seria acertar com Parreira, porque ele tem um excelente currículo internacional. Mas considero a decisão por Leão acertada", disse o dirigente.
(ERICH BETING, FERNANDO MELLO e JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)


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