RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode entrar. A casa é sua.
Não tenho muito como explicar esse fenômeno, mas os dois principais campeonatos nacionais da Europa, os badalados Italiano e Espanhol, estão assistindo a um fato no mínimo curioso: os visitantes têm conseguido uma série de expressivos resultados.
O caso mais claro acontece na Espanha. Até agora, 36% dos jogos acabaram com vitória da "equipe de fora". O mandante saiu com os três pontos em 32% das partidas. É a primeira vez que os "forasteiros" levam vantagem sobre os "donos da casa" no país.
Na Itália, a coisa está tecnicamente empatada, para usar um termo eleitoral -são 38,8% de vitórias dos mandantes e 36,1% dos visitantes. Esse número, porém, já é histórico no país. Desde 1997, por exemplo, o máximo que os "forestiere" conseguiram foi chegar a 25% dos triunfos (ou seja, uma vitória a cada quatro jogos).
Ainda é início de temporada, mas a observação é válida porque em todos os outros campeonatos nacionais de expressão da Europa o dono da casa continua dando as cartas. Na Inglaterra, por exemplo, exatamente metade dos jogos acabou com vitória do anfitrião -em Portugal então, 53,7% das partidas foram "Coluna 1".
Notadamente, há supertimes no Espanhol (o Real Madrid já superou essa categoria) e na Itália. Alguém poderia dizer que essas máquinas ganham mesmo fora de seus domínios e, por isso, há um número bastante significativo de vitórias longe de casa. Mas há um relativo equilíbrio nos principais torneios desses dois países, que são, na verdade, ligas poderosas.
Alguém poderia dizer então que os dois campeonatos são tão parelhos que qualquer time pode ganhar em qualquer lugar. Tudo bem, mas não dá para não ver a diferença abissal entre os mais abastados e os menos favorecidos.
Prova de que o mandante não está mandando muito na nata do futebol europeu é a Copa dos Campeões (nesta fase final, que é a que realmente "faz barulho").
Neste ano, 33,3% dos jogos do torneio mostraram no final um placar favorável ao time "estrangeiro" -é uma vitória de visitante a cada três partidas. Comparando com a edição passada da liga, no mesmo ponto da disputa, vemos uma diferença absurda -só 8,3% dos jogos tinham sido vencidos pelos times de fora.
O Grupo H da Copa dos Campeões escancarou mais a tendência visitante, pois o Bayern viu Milan e La Coruña saírem vitoriosos de Munique, além de o time espanhol, surpreendentemente, cair por 4 a 0 na Galícia diante do clube italiano. Mas os Grupos A, C e G do torneio também apresentam mais vitórias de forasteiros do que dos donos da casa.
Nem devo mencionar alguns resultados que ocorreram na rodada da última semana das eliminatórias da Eurocopa -a Suíça fez 2 a 1 na boa Irlanda em Dublin, a Holanda dançou valsa (calcanhar de Kluivert para Seedorf...) em Viena nos 3 a 0 sobre a Áustria...-, pois essa disputa é bem diferente das que envolvem os clubes de elite do continente.
Mas o melhor jogo entre seleções nos últimos dias foi o amistoso entre Suécia e Portugal -os anfitriões da Euro-2004 venceram de virada, por 3 a 2, com gol nos minutos finais (fora de casa).
É bem provável que esse "momento dos visitantes" não dure muito tempo. Pelo menos é o que diz e manda a tradição do futebol. Mas, afinal, o que é o futebol?

A Juventus e o Scolari
O ex-técnico da seleção brasileira acompanharia ontem em Milão o clássico entre Inter e Juventus -já trocou bom papo com Héctor Cúper, o inimigo número um de Ronaldo. Segundo pesquisa feita por um dos principais jornais italianos nos últimos dias, cerca de 4% dos torcedores do país querem Felipão no comando da Azzurra -o favorito do povo para o cargo, que ainda não está vago, é Fabio Capello. Scolari, assim como a Juventus na partida de ontem, é um visitante e azarão em Milão, mas na atual fase dos visitantes...

A Juventus e a massa
Na mais recente pesquisa sobre torcida na Itália, a ""Velha Senhora" segue tranquila como o time mais popular do país. São 8,711 milhões de torcedores (35% dos fãs do país). Em segundo lugar, aparecem a Inter (4,639 milhões) e o Milan (4,579 milhões). O Napoli, rei do Sul, é o quarto no coração dos italianos (2,437 milhões). Na sequência, vêm Roma, Lazio, Torino, Fiorentina e Bologna.

E-mail rbueno@folhasp.com.br



Texto Anterior: Futebol: Arsenal perde invencibilidade de 30 jogos
Próximo Texto: Vôlei: Com atraso, CBV inaugura CT só em 2003
Índice