São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Depressão e euforia

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após seguidas e graves contusões, o meia palmeirense Pedrinho retornou aos gramados. O jogador teve também problemas emocionais e usa medicamento para depressão, o que já tinha sido avisado à CBF. Mesmo assim, Pedrinho foi suspenso após ser detectada a presença da substância bupropiona na urina. É incompreensível que um atleta não possa nem tratar de sua doença. O erro foi corrigido, e o jogador, liberado para atuar.
É terrível para um atleta jogar com depressão. No momento em que está triste, sem vontade de fazer nada e quer ficar sozinho, tem de jogar, conviver com milhares de pessoas, dar entrevistas, sorrir e ser um homem agradável.
Antes de dizer que um jogador está em má fase técnica e que tudo vai passar, os médicos e os treinadores deveriam investigar a presença de problemas emocionais. São muito comuns. Os atletas não têm somente músculos, cartilagens, ossos, tendões etc, eles também têm alma.
Se a depressão é uma doença comum, inclusive nos jovens, certamente não é rara nos atletas, que enfrentam diariamente grandes desafios, dentro e fora de campo. Mais difícil ainda do que fazer um belíssimo gol é conviver com a fama e o sucesso.
Há no esporte e em toda a sociedade pessoas preconceituosas, machistas e mal informadas, que acham a depressão uma frescura, "coisa de mulher", principalmente num jovem atleta. Por isso e outros motivos, a maioria dos jogadores esconde os sintomas de depressão. Têm medo de serem rotulados de fracos.
A depressão é uma doença biológica e psicológica como qualquer outra, que pode ser tratada com sucesso com terapia e/ou medicamento. Além disso, mais triste do que a tristeza da depressão é a euforia dos alienados.

Explosão de alegria
A comemoração de um gol, principalmente numa partida importante, é um dos poucos momentos em que os atletas exteriorizam as emoções.
Verdadeira catarse. Isso faz bem à saúde física e mental.
Após um gol, há manifestações de todos os tipos: os jogadores pulam, gritam palavrões, se abraçam, se beijam (na boca pega mal), correm para a galera, dão cambalhotas e muitas outras. Tive um colega que, ao mesmo tempo que abraçava os companheiros, xingava todos pelo nome. Ninguém se sentia ofendido. Depois da partida, negava com convicção tudo que tinha dito.
Nem todas as comemorações de gol são permitidas, bem-vindas e saudáveis. Mas deveríamos ser mais transigentes com essas explosões de alegria.
Quando o jovem Diego comemorou o gol do Santos em cima do símbolo do São Paulo, ele não quis ofender o rival. Quis apenas se divertir.
A escolha do lugar foi feita pela emoção, e não pela razão. No inconsciente, não existem o certo, o errado e o politicamente correto.

Importância do clássico
Atlético-MG e Cruzeiro fazem hoje o clássico local da rodada. Ainda não entendi a opinião dos que acham os clássicos de times de uma mesma cidade mais emocionantes nos Estaduais do que nos regionais e no Brasileiro. Vai depender do momento das equipes. Nas mesmas condições, um clássico local pelo Brasileiro é muito mais importante.
Muito mais decisivo do que a disputa por preciosos pontos, Atlético x Cruzeiro será um divisor na alma das equipes. Quem for derrotado perderá a confiança e dificilmente vai se recuperar nas partidas seguintes. Isso já aconteceu muitas vezes. Após a derrota para o Vasco, esse será o grande problema do Flamengo.
O vitorioso do clássico, ao contrário, ganhará forças emocionais poderosas e terá boa chance de ficar entre os oito primeiros. O empate será razoável para o Atlético e péssimo para o Cruzeiro.
Alguns torcedores do Atlético gostaram e levaram a sério a minha brincadeira no meio de semana, quando escrevi que talvez a melhor solução para o Galo seja escalar o zagueiro Nem de centroavante, ponto fraco da equipe. Quem sabe dê certo no Cruzeiro a troca do Fábio Júnior pelo Cris.
Se os grandalhões zagueiros fazem tantos gols de cruzamento com a bola parada, por que não fariam também com a bola em movimento, já que a maior parte dos gols sai de bolas cruzadas? Essa é uma opção tática que ainda não foi usada pelos treinadores, nem pelo Mário Sérgio, que já colocou centroavante de lateral.
Neste momento, não sei se estou brincando ou escrevendo sério.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br



Texto Anterior: Entidade quer segurar atletas até nas folgas
Próximo Texto: Panorâmica - Tênis: Agassi é finalista do Masters Series de Madri
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.