São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Sentar ou não na janelinha

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Por não ter prestígio para sentar na janelinha, Alexandre Gama foi desrespeitado pelo Romário e pelo inábil presidente do Fluminense, David Fischel, que "educadamente" impôs a escalação do jogador.
Por causa de condutas prepotentes como essa, muitos leitores ficam indignados quando elogiamos o Romário. Não se deve misturar as coisas. O ex-genial craque Romário tem de ser reconhecido como um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. Nada mais do que isso.
Em qualquer atividade, os astros são especiais por suas obras. O sucesso costuma também empobrecer o ser humano. A criatura engole o criador.
Alexandre Gama, com a sua inexperiência, vontade de não prejudicar o Fluminense e garantir o antigo emprego de funcionário do clube, o que é compreensível para um jovem, aceitou a imposição. Depois se arrependeu, chorou e disse que nunca mais aceitará essa pressão. Foi uma lição para o técnico. Isso vale mais do que mil palavras, como diz o sábio ditado.
Todos nós já fizemos concessões em nossas vidas que não deveríamos ter feito. Os que têm caráter sofrem e aprendem. Os que não têm continuam engolindo sapos e se aproveitam disso. Fazem qualquer coisa por um bom emprego, dinheiro ou prestígio.
Neste momento, a dúvida para o Alexandre Gama não é se vai ou não escalar o Romário. Deveria ser um ou outro. Se não for assim, o técnico vai começar mal a sua carreira e dificilmente sentará um dia na janelinha.
Sentar ou não na janelinha. Eis a questão!

Lambança e violência
Muito pior do que os treinadores conservadores, previsíveis e que nunca mudam a maneira de jogar das suas equipes são os inventores, confusos e delirantes, que trocam o esquema tático e jogadores a cada partida e que se acham mais importantes do que o espetáculo, mais decisivos do que os atletas.
Mário Sérgio sabia que o São Paulo era melhor e arriscou, o que seria correto, mas não do jeito que fez, ao colocar de zagueiros dois fraquíssimos volantes, principalmente Emerson, sem nenhuma noção da posição. Além disso, o técnico pôs o jovem Thiago Junio para marcar individualmente o Grafite.
A marcação individual funciona, desde que seja também por setor e num jogador que atue numa faixa determinada de campo. Raramente dá certo contra um atacante veloz e que se movimenta por todos os lados. Ao sair da área, o zagueiro deixa grandes espaços na defesa.
Após a chegada do novo técnico e a vitória por 3 a 2 contra o Guarani, os torcedores do Atlético-MG se iludiram, como é freqüente, que o time era outro. Isso e mais a pressão no estádio Independência dariam a vitória. Com os gols logo sofridos, alguns violentos torcedores se desesperaram e prejudicaram ainda mais o time com os objetos atirados em campo. Isso já aconteceu outras vezes no Independência.
As deficiências do Atlético-MG não tiram o brilho do São Paulo, que já pode até sonhar com o título. O time é outro com Leão. Mas falta mais um bom atacante. Grafite não vai resolver sozinho. Ele não é um perna-de-pau nem um craque.

Único e espetacular
Hoje, Milan e Barcelona fazem um grande clássico pela Copa dos Campeões. Por atuar em casa, ter um número maior de jogadores excepcionais e por ser forte em todos os setores, o Milan tem mais chances de vencer.
Não sei qual esquema tático seria melhor hoje para o Barcelona, mas o time deveria jogar no ataque, como sempre faz, com uma linha de três atacantes (Ronaldinho Gaúcho é um deles) e mais dois armadores talentosos que avançam (Xavi e Deco). O futebol precisa de equipes diferentes, que saiam da mesmice.
Espero ainda que o Ronaldinho Gaúcho jogue o seu futebol espetacular, imprevisível, único e eficiente, como tentou fazer contra a Colômbia em Maceió e não conseguiu.

Conivência
Os clubes do Rio de Janeiro precisam se unir e ter a coragem, que nunca tiveram, para tentar colocar na federação estadual um presidente competente e sem nenhuma vinculação com o anterior. Os dirigentes foram sempre omissos e coniventes com a atual situação.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Par de vasos
Próximo Texto: Automobilismo: "Rei do GP Brasil", Prost ressurge para salvar pátria na F-1
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.