São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

A realeza do choque


Quem gostou da rodada foi o Cruzeiro, mas o Choque-Rei foi uma festa para os amantes do futebol

DESTA vez não teve pimenta no vestiário, mas dentro do campo sim. Foi, sob qualquer ponto de vista, uma tarde memorável no Palestra Itália. Aliás, foram vários jogos em um. Houve equilíbrio, alternância de domínio entre os times, alterações táticas, câmbios de marcha. E o que parecia se encaminhar para a vitória folgada do tricolor acabou em empate com sabor de vitória alviverde. Pênalti, catimba, expulsões, defesas espetaculares, "meio gol" (a bola cabeceada por Alex Mineiro que caiu em cima da linha), quatro gols "inteiros". Para quem gosta de futebol, foi uma festa. Da perspectiva fria dos números, o empate paulistano só beneficiou o Cruzeiro, que fez muito bem a sua parte vencendo o Atlético-MG e recuperou a vice-liderança. Mas quem foi ao Palestra Itália não esquecerá tão cedo a tarde de ontem. Em outra página deste caderno, PVC certamente estará destrinchando, com a categoria habitual, o desenho tático da partida. Mas não há como negar que o tal "fator humano" pesa, e pesa muito. O primeiro tempo, por exemplo, contrapôs dois jogadores em especial. Do lado palmeirense, Léo Lima parecia ter levantado do lado errado da cama. Estabanado, cometeu desnecessariamente o pênalti que abriu a vantagem para o São Paulo logo aos 6 minutos. Depois, errou um passe na intermediária que originou o segundo gol tricolor. Do outro lado, Rogério Ceni exalava um aparente estado de graça. Bateu o pênalti muito bem, defendeu três finalizações à queima-roupa e viu, depois de batido pela cabeçada de Alex, a bola quicar caprichosamente em cima da linha do gol. Vanderlei Luxemburgo percebeu que não era o dia de Léo Lima (que, para piorar, tinha cartão amarelo) e o trocou por Pierre no segundo tempo. "Agora é tarde", pensei, o que prova que nunca deixamos de nos surpreender com o futebol. A lição foi amarga para os torcedores são-paulinos que, ao ver que o alviverde, mesmo com maior posse de bola, não conseguia furar a boa defesa tricolor, passaram a gritar "Silêncio no chiqueiro". E o silêncio se rompeu. Uma jogada luminosa de Denílson (justo ele, cria do Morumbi) deu ao incansável Kléber a chance de fazer, "de ponta de bota", seu merecido gol, inflamando de novo o jogo. O empate veio dois minutos depois, num lance em que o acaso pesou mais do que qualquer coisa. A bola alçada na área por Leandro foi desviada por Dagoberto e pegou Rogério no contrapé. Era como se o sortilégio que protegia o goleiro tricolor tivesse sido rompido -e justamente por Dagoberto, que tinha feito o segundo gol são-paulino e vinha torrando a paciência dos rivais. Aqui, outra curiosa simetria. Dagoberto de um lado, Kléber do outro: difícil saber qual dos dois é mais catimbeiro e reclamão. Difícil também saber qual é mais letal. Eu, que já fui fã de Dagoberto, hoje fico com o marrudo palmeirense.

Todos contra o líder
A Lusa, que lutava apenas por sua sobrevivência, nunca contou com uma torcida virtual tão grande. Ao entrar no Canindé, ontem, o Grêmio tinha contra si "o resto do mundo". E perdeu.

jgcouto@uol.com.br

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