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MOTOR
Uma história sobre pés no chão
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Era uma vez um tricampeão
de F-1 que tinha uma razoável conta bancária, o título de
"sir" e um filho que queria seguir
seus passos como piloto.
O pai consentiu, mas desde que
o moleque não largasse os estudos. Aos 19 anos, Paul conseguiu
uma vaga no curso de ciências
políticas. Jackie cumpriu a promessa e o matriculou na escola de
pilotagem de Brands Hatch, sob o
pseudônimo de Robin Congdon.
O rapaz passou quatro anos
aprendendo. Na faculdade e na
pista. E em 88, diploma na mão,
mas ainda decidido a tentar a
sorte no automobilismo, ganhou
dois presentes do pai. O direito a
usar o sobrenome. E uma equipe.
Paul Stewart até conquistou
uma vitória ou outra na F-Ford e
na F-3. Chegou à F-3000 e, em 93,
mais por influência do pai do que
por talento, testou para a Arrows.
Fora do cockpit, porém, revelou-se um tremendo administrador. E a ficha caiu. Paul percebeu,
enfim, que aquele era o seu futuro
e resolveu pendurar o capacete.
Ao longo dos anos, a Paul Stewart Racing estabeleceu-se como
a principal equipe de categorias
de base da Inglaterra, o que não é
pouco. Colecionou títulos na F-3 e
na F-Vauxhall e correu a F-3000.
Em 96, Paul e Jackie imaginaram estar maduros o suficiente
para a F-1 e para lá foram. A Stewart Grand Prix estreou em 97 e,
em três anos, mostrou de novo
que os escoceses eram do ramo:
tornou-se uma equipe respeitada.
Conquistou uma pole, venceu
um GP e terminou 99 como o
quarto melhor time, empurrado
por um Ford Cosworth que tinha
os idênticos 810 cavalos da Ferrari, mas que era 17 kg mais leve.
As façanhas chamaram a atenção da Ford, e Detroit fez uma
proposta de US$ 160 milhões pelo
time. Os Stewart, em princípio, relutaram. Mas entregaram os pontos diante da ameaça da montadora de eleger a Benetton destinatária de seus melhores motores.
Assim, em Melbourne-2000, a
F-1 viu a estréia da Jaguar. Os antigos donos lá estavam, ocupando
cargos executivos, mas só ficaram
por mais um mês: Paul descobriu
um câncer no cólon e decidiu se
afastar do time. O pai o seguiu.
A direção da Ford, que meses
antes contratara o desempregado
Eddie Irvine por US$ 12 milhões
anuais, entrou em parafuso sem a
experiência dos Stewart por perto.
E passou a torrar mais dinheiro.
Em cinco temporadas, a Jaguar
teve oito pilotos e quatro chefes,
nenhum deles com experiência de
sucesso como dirigente de F-1.
Deu no que deu. Detroit, sob nova direção, cansou-se da gastança
e colocou tudo à venda. Foram
meses de incerteza até que apareceu o salvador: Dietrich Mateschitz. E a "Austosport" desta semana traz uma foto dos mecânicos da Jaguar, sorridentes, brindando com latinhas de Red Bull.
O austríaco é, como os Stewart,
louco por velocidade. É, como os
Stewart, um "self-made man",
um sujeito que começou do nada
e que tomou a inspiração para a
bebida energética de um colega
japonês que varava noites estudando. É, como os Stewart, alguém que vai manter os pés no
chão, já que tirará o dinheiro do
bolso. E ser como os Stewart é, no
mínimo, um excepcional começo.
Do Oriente
Se a F-1 perdeu a Ford, seduziu de vez a Honda. O anúncio de ontem
lembra o da transição Stewart-Jaguar. Mas dá para apostar que o desfecho será bem diferente. Esses japoneses têm história e não brincam
em serviço. Já os japoneses da Toyota...
No Oriente
Outro que ganhou uma equipe do pai tricampeão, Nelsinho Piquet
corre amanhã em Macau, espécie de Mundial da F-3. Outros dois
brasileiros largam: Fábio Carbone e Lucas Di Grassi.
Em tempo...
Paul Stewart está vencendo a luta contra o câncer e vez ou outra aparece na F-1 para ver os amigos.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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