São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2004

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MOTOR

Uma história sobre pés no chão

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Era uma vez um tricampeão de F-1 que tinha uma razoável conta bancária, o título de "sir" e um filho que queria seguir seus passos como piloto.
O pai consentiu, mas desde que o moleque não largasse os estudos. Aos 19 anos, Paul conseguiu uma vaga no curso de ciências políticas. Jackie cumpriu a promessa e o matriculou na escola de pilotagem de Brands Hatch, sob o pseudônimo de Robin Congdon.
O rapaz passou quatro anos aprendendo. Na faculdade e na pista. E em 88, diploma na mão, mas ainda decidido a tentar a sorte no automobilismo, ganhou dois presentes do pai. O direito a usar o sobrenome. E uma equipe.
Paul Stewart até conquistou uma vitória ou outra na F-Ford e na F-3. Chegou à F-3000 e, em 93, mais por influência do pai do que por talento, testou para a Arrows.
Fora do cockpit, porém, revelou-se um tremendo administrador. E a ficha caiu. Paul percebeu, enfim, que aquele era o seu futuro e resolveu pendurar o capacete.
Ao longo dos anos, a Paul Stewart Racing estabeleceu-se como a principal equipe de categorias de base da Inglaterra, o que não é pouco. Colecionou títulos na F-3 e na F-Vauxhall e correu a F-3000.
Em 96, Paul e Jackie imaginaram estar maduros o suficiente para a F-1 e para lá foram. A Stewart Grand Prix estreou em 97 e, em três anos, mostrou de novo que os escoceses eram do ramo: tornou-se uma equipe respeitada.
Conquistou uma pole, venceu um GP e terminou 99 como o quarto melhor time, empurrado por um Ford Cosworth que tinha os idênticos 810 cavalos da Ferrari, mas que era 17 kg mais leve.
As façanhas chamaram a atenção da Ford, e Detroit fez uma proposta de US$ 160 milhões pelo time. Os Stewart, em princípio, relutaram. Mas entregaram os pontos diante da ameaça da montadora de eleger a Benetton destinatária de seus melhores motores.
Assim, em Melbourne-2000, a F-1 viu a estréia da Jaguar. Os antigos donos lá estavam, ocupando cargos executivos, mas só ficaram por mais um mês: Paul descobriu um câncer no cólon e decidiu se afastar do time. O pai o seguiu.
A direção da Ford, que meses antes contratara o desempregado Eddie Irvine por US$ 12 milhões anuais, entrou em parafuso sem a experiência dos Stewart por perto. E passou a torrar mais dinheiro.
Em cinco temporadas, a Jaguar teve oito pilotos e quatro chefes, nenhum deles com experiência de sucesso como dirigente de F-1.
Deu no que deu. Detroit, sob nova direção, cansou-se da gastança e colocou tudo à venda. Foram meses de incerteza até que apareceu o salvador: Dietrich Mateschitz. E a "Austosport" desta semana traz uma foto dos mecânicos da Jaguar, sorridentes, brindando com latinhas de Red Bull.
O austríaco é, como os Stewart, louco por velocidade. É, como os Stewart, um "self-made man", um sujeito que começou do nada e que tomou a inspiração para a bebida energética de um colega japonês que varava noites estudando. É, como os Stewart, alguém que vai manter os pés no chão, já que tirará o dinheiro do bolso. E ser como os Stewart é, no mínimo, um excepcional começo.

Do Oriente
Se a F-1 perdeu a Ford, seduziu de vez a Honda. O anúncio de ontem lembra o da transição Stewart-Jaguar. Mas dá para apostar que o desfecho será bem diferente. Esses japoneses têm história e não brincam em serviço. Já os japoneses da Toyota...

No Oriente
Outro que ganhou uma equipe do pai tricampeão, Nelsinho Piquet corre amanhã em Macau, espécie de Mundial da F-3. Outros dois brasileiros largam: Fábio Carbone e Lucas Di Grassi.

Em tempo...
Paul Stewart está vencendo a luta contra o câncer e vez ou outra aparece na F-1 para ver os amigos.

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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