São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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Espiões e assédio forjaram campeões

Diretoria são-paulina monta rede de informação para ter elenco vencedor

No início da temporada, empresários apresentam entre 30 e 40 atletas ao São Paulo, que busca dados até sobre comportamento

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No escritório do empresário Juan Figer, Juvenal Juvêncio, então diretor de Futebol do São Paulo, viu um jogador passar pela porta aberta. Não o reconheceu, mas perguntou ao empresário quem era o atleta. Tratava-se do atacante Leandro.
Juvêncio, que fora ao local falar sobre outro negócio, quis saber a situação do jogador. Já estava quase fechado com o Fluminense. O atual presidente do clube ligou para o auxiliar-técnico Milton Cruz e para o treinador Muricy Ramalho, que fizeram elogios ao atacante.
Mais informações colhidas, e Juvêncio e João Paulo de Jesus Lopes, então diretor de planejamento, passaram a seduzir Figer e Leandro. À noite, ele fechava com o São Paulo.
Ocorrida no início do ano, a cena é um exemplo de como foi montado o time campeão Brasileiro de 2006.
Juvêncio (agora presidente) e Jesus Lopes (atual diretor de Futebol) são responsáveis pela palavra final. Acertam valores e condições dos contratos.
Mas, para tomar as decisões, contam com uma rede de informantes. O principal é o auxiliar-técnico Milton Cruz, que indica, busca dados e até faz o primeiro contato com atletas.
Mas ainda há quatro ex-jogadores ligados ao São Paulo que também são ouvidos. Estão espalhados pelo Brasil, e seus nomes são mantidos em sigilo.
Jogadores do próprio time e outros membros da comissão técnica, inclusive o técnico Muricy Ramalho, completam a lista de detetives. Só são analisados DVDs com jogos inteiros- nada de melhores momentos.
"Procuramos informações técnicas, físicas e de comportamento sobre os jogadores. Para isso, o processo muda em cada caso", diz Jesus Lopes.
Alguns atletas já foram vetados por não seguirem a conduta esperada pelos dirigentes. Ou seja, quem conta com noitadas, bebidas e encrencas no currículo tem pouca chance.
Dos que passaram no teste, boa parte chegou ao clube por meio de empresários.
No início da temporada, os dirigentes contabilizam entre 30 a 40 ofertas. A maioria delas não interessa. Mas há outros que fecham, como Ilsinho, André Dias, Miranda e Danilo.
O meia só joga no time por indicação de seu agente, Gilmar Rinaldi, ex-goleiro do clube.
Os outros três foram oferecidos à diretoria são-paulina quando tinham transferências quase fechadas com outros clubes. Todos foram observados em jogos da Série A, e acertaram com o time do Morumbi quando seus compromissos anteriores expiraram.
Por isso, clubes como Atlético-PR e Goiás já acusaram o São Paulo de aliciar atletas. Os são-paulinos admitem que colhem informações antes de procurar os clubes.
"Mas só vamos atrás de atletas sem contrato ou com seis meses para o fim", defende-se Jesus Lopes.
Foi o caso do volante Josué. Por dois anos o São Paulo quis contar com ele, mas o Goiás pedia alto. A meses do final do seu acordo goiano, o time paulista assinou pré-contrato.
O Atlético-PR irritou-se ao perder Aloísio, que gerou até briga jurídica, vencida até agora pelos são-paulinos.
Em todos os casos, há uma preocupação com o sigilo.
Mineiro foi contratado na surdina. Com medo do vazamento da notícia, Jesus Lopes marcou encontro com o volante na casa de sua irmã. "Deve ter um porteiro, pipoqueiro ou um fantasma que sempre conta as coisas que acontecem no Morumbi", brinca.
Na moita, o São Paulo conquistou o Brasileiro-06, quarto título da equipe em dois anos.


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