São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2010

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FOCO

Hino do Grêmio vira terapia para garoto com doença rara

Neco Varella/Folhapress
João Victor, 6, em sua casa, em Porto Alegre

MARCEL MERGUIZO
DE SÃO PAULO

"O certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver", diz trecho do hino do tricolor gaúcho.
No entanto, especialmente para um garoto gremista, foi o clube que esteve a seu lado há alguns meses, quando ele esteve hospitalizado com risco de morte. E a ajuda veio em forma de hino.
João Victor Goelzer Medeiros vai entrar em campo só no último jogo do Grêmio no Brasileiro, dia 5, contra o Botafogo. Mas, ao completar seis anos, anteontem, já contou sua história ao elenco e ao técnico Renato Gaúcho, em um treino no Olímpico.
O garoto se recuperou da doença de Still -uma artrite reumatoide juvenil-, que o deixou 21 dias no hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, sendo 15 no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) e cinco em coma induzido, sedado, com respirador artificial. Com risco de morte.
João Victor, segundo os pais e o médico, recuperou- -se da doença -rara na intensidade que o acometeu- graças ao tratamento com antibióticos e corticoides, mas, também, ao estímulo do clube ao qual torce.
O garoto, nos dias de CTI, teve o quarto decorado com fotos, bandeiras e ouvia constantemente músicas conhecidas, entre elas várias versões do hino gremista.
"Os médicos nos contaram que o último sentido que a pessoa perde é a audição. Por isso, o estimulávamos assim", lembra a mãe, Adriana Goelzer."De repente, desacordado, entubado, tocou o hino do Grêmio. Ele mexeu a mão, um pouco a cabeça, e os batimentos [cardíacos] aumentaram", conta ela.
O pediatra intensivista João Mafalda Krauzer, que acompanha a recuperação de João Victor, confirma o efeito positivo que os estímulos têm no tratamento.
"Notamos na prática que isso libera hormônios, e eles ajudam na recuperação. Para trazer a criança de volta, ela precisa de algo familiar", declarou Krauzer. "No caso do João, ele é extremamente ligado ao futebol, é a paixão dele. Se fosse uma menina, podia ser a Barbie. O importante é essa colaboração", conclui o médico, que também é gremista.
O garoto deixou o hospital em meados de julho, mas ainda não está totalmente recuperado da doença, que começou como uma infecção no pulmão. Mesmo assim, foi a todos jogos do Grêmio no Olímpico desde agosto, graças a uma promessa do pai, feita ainda no CTI -viu o time trocar de técnico e sair da zona de rebaixamento para o sexto lugar no Brasileiro.
Certo dia, quando falava com o filho, o gerente de call center Marcus Medeiros disse que, ao sair do hospital, o levaria a um jogo. Então ouviu: "Quando?". Era a primeira vez que o garoto falava desde a internação.
Hoje, às 19h30 (de Brasília), João Victor não vai ao Olímpico. Estava tudo planejado: festa de aniversário no sábado e jogo contra o Atlético-PR no domingo. Mas, na semana passada, a CBF antecipou em um dia o confronto. Festa e jogo coincidiram, o que não diminui a torcida de João Victor, segundo a mãe.
"Foram vários fatores que salvaram meu filho: médicos, hospital, fé, como agimos em cada um dos 21 inacabáveis dias de internação e na volta para casa, até a vibração e o amor que ele nutre pelo Grêmio desde que se conhece por gente. Sem dúvida, ajudou e ainda o ajuda muito", conclui Adriana.


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