São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009

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Copa-2014 deve ser mais poluente que África e Alemanha

Mundial-2010 será recordista em emissões de gases, mas Brasil, por sua extensão, caminha para superar essa marca

Documento divulgado pelo comitê africano mostra que transporte aéreo e distância entre sedes serão os maiores vilões ambientais em junho

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana em que chefes de Estado discutiram, em Copenhague, metas para conter o aquecimento global, o comitê organizador da Copa da África do Sul divulgou um estudo que calcula a quantidade de gases causadores de efeito estufa que será emitida no evento de 2010.
Segundo o documento, o Mundial sul-africano caminha para ser o evento esportivo com mais emissões da história. E, ao que tudo indica, a Copa-2014 deve bater essa marca negativa.
O estudo, fruto de parceria entre o governo sul-africano e o Consulado da Noruega, estima que o total de emissões na África do Sul será de 2,75 milhões de toneladas de CO2-equivalente (unidade padronizada de medida para gases do efeito estufa), mais do que o dobro do emitido nos Jogos de Pequim.
Descontando-se os gases liberados pelos aviões que vão transportar torcedores, atletas e autoridades para o país africano, o evento emitirá 896,7 mil toneladas de CO2- -equivalente -oito vezes mais do que a Copa na Alemanha. O estudo diz que o excessivo uso do transporte aéreo entre as sedes explica a discrepância.
"As distâncias entre as sedes na África do Sul são muito maiores do que as da Alemanha. E a falta de trens de alta velocidade ligando as cidades africanas fará com que a maioria dos visitantes voe múltiplas vezes entre as sedes, tornando o total de emissões muito maior", aponta o documento.
Tal como a África do Sul, o Brasil carece de transporte ferroviário de qualidade interligando as cidades-sedes. Sendo assim, o meio de transporte preferencial em 2014 também será o aéreo, com o agravante de que o Brasil é muito mais extenso que a África do Sul.
O torcedor que em 2014 quiser assistir a jogos nas duas sedes mais distantes, Porto Alegre e Manaus, fazendo uma escala em Brasília -não há voo direto-, deixará uma pegada de 0,37 tonelada de CO2-equivalente. Esse valor é mais do que o dobro do que será emitido por quem voar entre as sedes sul-africanas mais distantes, Cidade do Cabo e Nelspruit, segundo cálculos obtidos no site Carbon Footprint.
A África do Sul vem tomando medidas para tentar neutralizar o carbono emitido, mas as ações estão voltadas, principalmente, para a mitigação de emissões das obras nos estádios e do transporte dentro das cidades, que respondem somente por 9% do total de gases-estufa liberados na Copa.
O evento sul-africano ainda receberá a ajuda das federações representadas no Mundial. Segundo o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), cerca de 20 das 32 seleções classificadas, entre as quais o Brasil, disseram-se dispostas a compensar as emissões de CO2 provocadas por seus trajetos de avião.
Mas a ajuda é simbólica, uma vez que as emissões das delegações são ínfimas frente às dos milhares de visitantes que chegarão de avião ao país em 2010.
Segundo o estudo, o custo para mitigar as emissões internas deve ser de US$ 9 milhões (R$ 16,1 milhões). O dobro deve ser despendido para neutralizar voos internacionais. Assim, a cifra pode chegar a US$ 27,6 milhões (quase R$ 50 milhões).


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