São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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Pan leva Brasil a provar taco e grama

Com cerca de 500 jogadores federados em todo o país, seleções de hóquei farão sua estréia nos Jogos no evento do Rio

Desde 2005, Santa Catarina abriga o QG do primeiro time olímpico permanente feminino, garimpado em salas de aula do Estado


Rodrigo Paiva/Folha Imagem
A argentina naturalizada brasileira Virgína Kumvich, 29, uma das mais experientes da seleção de hóquei, posa com Thalita Cabral, 16, uma das promessas do time

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A cena se repetiu por quase três meses. Cláudio Rocha batia de porta em porta nas salas de aula de escolas em Florianópolis para tocar seu garimpo.
Na primeira vez que citava o hóquei na grama, os rostos se contorciam. O que era aquilo?
Mesmo assim, dezenas de garotas aceitaram o convite: participar da peneira de um esporte que não conheciam. Misto de curiosidade e procura por desafios, típico de adolescentes.
De taco em punho, 60 garotas, com 17 anos ou menos, reuniram-se em 2004 para os testes. Jogos despretensiosos de futebol, também na grama, eram o mais próximo que haviam chegado da modalidade.
"Essas meninas são pioneiras que largaram tudo em nome dessa aventura. Estamos praticamente criando o esporte", diz Cláudio, técnico da primeira seleção feminina do país.
A escolha pelas garotas não foi aleatória. Tentar atingir a elite será tarefa espinhosa para o Brasil. E, mesmo começando do zero, ainda é muito mais fácil atingir o feito no feminino.
Por isso, os prazos são bem extensos. E os pés permanecem no chão até com o oba-oba que antecede os Jogos Pan-Americanos. O projeto é classificar o país para a Olimpíada-16 e vencer um Pan. Mas não o do Rio.
"A forma como elas assimilam o esporte têm sido rápida, mas precisamos de dez anos para revelar algo. Aproveitaremos o Pan para divulgar o esporte. Mas medalha é difícil", fala Sydnei Rocha, presidente da confederação nacional.
O hóquei sobre grama tem cerca de 500 atletas federados no Brasil. No Pan de Santo Domingo-03, o país levou um representante, entre os árbitros.
Era Cláudio Rocha, que também divide seu tempo de treinador com a papelada da confederação, da qual é diretor.
No fim do ano passado, ele se livrou de outra ocupação: era jogador da seleção. Mas férias só devem durar até o Pan. "Consigo fazer as duas coisas, mas, como as equipes são jovens, às vezes ficava complicado me ausentar de uma delas."
No Sul-Americano, em 2006, ele sentiu o peso da dupla função. Se não treinasse com o masculino, corria o risco de criar mal-estar com os colegas. Não estar com o técnico às vésperas do jogo, por outro lado, deixava as meninas inseguras.
"Eu via que sentiam falta. Mas farei o meu por fora, vou cuidar do físico e fazer treinos técnicos. Acredito que até o Pan elas estejam mais confiantes e que eu possa encerrar minha carreira de jogador em um evento tão importante", diz.
Cláudio é o único atleta em atividade que disputou todas as competições com a seleção. Experiência bem distinta da que teve ao começar o trabalho com as meninas -advogado, ele estudou educação física para assumir a nova função quando foi para Florianópolis em 2003.
Desde o meio de 2005, após outras peneiras, a seleção olímpica permanente tem base em Santa Catarina. "Quem chegou de outra cidade divide apartamento, tem alimentação e ajuda de custo. Todas estudam. É como um estágio remunerado."
O projeto só saiu do papel graças à verba da Lei Piva. A confederação recebeu cerca de R$ 450 mil no último ano.
A seleção também contou com algumas coincidências que reforçaram o elenco. Virgínia Kumvich, 29, uma das mais experientes do time, por exemplo, decidiu se unir ao grupo após ver reportagem na TV.
Argentina, casada com um brasileiro e há quatro anos no país, a jogadora disputava jogos de hóquei aos sábados. "Já estava com faniquito para voltar a jogar. É bonito ver a vontade das meninas. Ainda falta ritmo, precisam competir mais, mas tecnicamente estão bem", diz.
Ainda na fase de aprendizado, o time teve seu primeiro teste em novembro, no Sul-Americano. Perdeu todos os jogos, terminou em quarto e último, mas as atletas saíram satisfeitas. "Claro que vi falhas, mas fiquei contente porque conseguiram jogar", diz o técnico.


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