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BASQUETE
Garimpo
MELCHIADES FILHO
"Prezado Melchiades: apesar da
sua coluna ser sobre basquete,
gostaria de comentar um assunto
que diz respeito ao esporte em geral. É sobre a reportagem do garoto de 2,18 m que joga no Real Madrid. Ele diz que, até ser chamado
por um empresário, sua única atividade esportiva tinha sido "um
pouquinho" na escola. Todos nós
sabemos que a estrutura esportiva em nossas escolas inexiste. Porém, mesmo assim, é um absurdo
que um garoto com esse potencial
físico nunca tenha sido notado e
encaminhado por um professor
de educação física da sua escola
para um clube, para aprender
basquete ou vôlei. E o pior é que
casos como o dele devem acontecer aos montões. Sei que os professores são mal remunerados etc. e
tal, mas para mim isso é demonstração de total descaso e desprezo
pela profissão que exercem, porque, ainda que não sejamos remunerados como achamos que
deveríamos ser, o mínimo que devemos ter é respeito e, se possível,
amor pelo trabalho que fazemos,
porque na verdade ele é o reflexo
do que nós somos. Esse é o maior
exemplo da mentalidade ainda
muito forte em nosso país, de que,
se o governo nada faz, por que eu
deveria fazer alguma coisa?"
A mensagem, do atento leitor
Antonio, alude a uma reportagem publicada no dia 25 de fevereiro, quando a Folha destacou a
história do mais alto jogador de
basquete do Brasil em atividade.
Leandro Bredariol, 19, fora descoberto há três anos por um empresário nas ruas de Itatiba, interior de SP. Hoje, está na Espanha,
aprendendo os rudimentos do esporte no Real Madrid.
O que surpreendeu/indignou o
leitor é que até então o jovem gigante não tivera nenhum contato
com uma bola de basquete.
Os técnicos também se espantaram. "Jogador assim tem que ser
observado. Vou até anotar o nome", declarou Hélio Rubens, da
seleção brasileira e do Vasco.
"Que beleza! Pivô é artigo de ouro
no Brasil", disse Guerrinha, campeão paulista pelo Bauru. "Não
posso saber de tudo", lamentou
Lula, da equipe nacional juvenil.
E quem é que sabe, ou pode ficar sabendo? Sem um circuito
amador desenvolvido, sem um
campeonato interescolar permanente, sem centros públicos para
praticantes, sem nenhum tipo de
competição para não-iniciados,
há pouquíssimos canais no país
para a revelação de talentos.
Vale lembrar o caso de Sandro
Varejão, 2,11 m, outro grandalhão que percorreu o inusitado
trajeto jornal-seleção. A comissão
técnica nunca tinha ouvido falar
nele até a Folha publicar, em junho de 1997, uma reportagem sobre o pivô. À época, após uma
passagem discreta pelo circuito
universitário norte-americano,
Varejão tentava ser selecionado
pela NBA. Um mês depois, rejeitado pela liga americana, com
base apenas no currículo divulgado pelo jornal, Varejão foi convocado por Hélio Rubens.
Alguma coisa está errada quando é a imprensa que resolve os
problemas de garrafão da seleção.
NOTAS
Pepita 1
A vitória do Brasil sobre os
EUA, campeões olímpicos e
mundiais, foi importante. Primeiro, mostrou que o time tem
uma base sólida, capaz de jogar
tanto em velocidade como em
meia quadra. Segundo, rompeu a série invicta, 16 jogos internacionais, do rival, plantando um trauma que (tomara!)
pode reaparecer em Sydney.
Pepita 2
Janeth, a líder da seleção,
diagnosticou com precisão as
chances brasileiras na corrida
olímpica. Serão seis adversários com chances de chegar ao
pódio: EUA e Austrália, no pelotão de elite, além de Cuba,
Eslováquia, França e Polônia.
Pepita 3
Comenta-se muito a falta de
renovação do basquete masculino nacional. Mas é preciso estender a preocupação ao feminino. A Argentina já está arranhando a hegemonia brasileira
nas categorias de base.
E-mail melk@uol.com.br
Melchiades Filho escreve às terças-feiras
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