São Paulo, terça-feira, 21 de março de 2000


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BASQUETE
Garimpo

MELCHIADES FILHO

"Prezado Melchiades: apesar da sua coluna ser sobre basquete, gostaria de comentar um assunto que diz respeito ao esporte em geral. É sobre a reportagem do garoto de 2,18 m que joga no Real Madrid. Ele diz que, até ser chamado por um empresário, sua única atividade esportiva tinha sido "um pouquinho" na escola. Todos nós sabemos que a estrutura esportiva em nossas escolas inexiste. Porém, mesmo assim, é um absurdo que um garoto com esse potencial físico nunca tenha sido notado e encaminhado por um professor de educação física da sua escola para um clube, para aprender basquete ou vôlei. E o pior é que casos como o dele devem acontecer aos montões. Sei que os professores são mal remunerados etc. e tal, mas para mim isso é demonstração de total descaso e desprezo pela profissão que exercem, porque, ainda que não sejamos remunerados como achamos que deveríamos ser, o mínimo que devemos ter é respeito e, se possível, amor pelo trabalho que fazemos, porque na verdade ele é o reflexo do que nós somos. Esse é o maior exemplo da mentalidade ainda muito forte em nosso país, de que, se o governo nada faz, por que eu deveria fazer alguma coisa?"
A mensagem, do atento leitor Antonio, alude a uma reportagem publicada no dia 25 de fevereiro, quando a Folha destacou a história do mais alto jogador de basquete do Brasil em atividade.
Leandro Bredariol, 19, fora descoberto há três anos por um empresário nas ruas de Itatiba, interior de SP. Hoje, está na Espanha, aprendendo os rudimentos do esporte no Real Madrid.
O que surpreendeu/indignou o leitor é que até então o jovem gigante não tivera nenhum contato com uma bola de basquete.
Os técnicos também se espantaram. "Jogador assim tem que ser observado. Vou até anotar o nome", declarou Hélio Rubens, da seleção brasileira e do Vasco. "Que beleza! Pivô é artigo de ouro no Brasil", disse Guerrinha, campeão paulista pelo Bauru. "Não posso saber de tudo", lamentou Lula, da equipe nacional juvenil.
E quem é que sabe, ou pode ficar sabendo? Sem um circuito amador desenvolvido, sem um campeonato interescolar permanente, sem centros públicos para praticantes, sem nenhum tipo de competição para não-iniciados, há pouquíssimos canais no país para a revelação de talentos.
Vale lembrar o caso de Sandro Varejão, 2,11 m, outro grandalhão que percorreu o inusitado trajeto jornal-seleção. A comissão técnica nunca tinha ouvido falar nele até a Folha publicar, em junho de 1997, uma reportagem sobre o pivô. À época, após uma passagem discreta pelo circuito universitário norte-americano, Varejão tentava ser selecionado pela NBA. Um mês depois, rejeitado pela liga americana, com base apenas no currículo divulgado pelo jornal, Varejão foi convocado por Hélio Rubens.
Alguma coisa está errada quando é a imprensa que resolve os problemas de garrafão da seleção.

NOTAS
Pepita 1
A vitória do Brasil sobre os EUA, campeões olímpicos e mundiais, foi importante. Primeiro, mostrou que o time tem uma base sólida, capaz de jogar tanto em velocidade como em meia quadra. Segundo, rompeu a série invicta, 16 jogos internacionais, do rival, plantando um trauma que (tomara!) pode reaparecer em Sydney.

Pepita 2
Janeth, a líder da seleção, diagnosticou com precisão as chances brasileiras na corrida olímpica. Serão seis adversários com chances de chegar ao pódio: EUA e Austrália, no pelotão de elite, além de Cuba, Eslováquia, França e Polônia.

Pepita 3
Comenta-se muito a falta de renovação do basquete masculino nacional. Mas é preciso estender a preocupação ao feminino. A Argentina já está arranhando a hegemonia brasileira nas categorias de base.

E-mail melk@uol.com.br


Melchiades Filho escreve às terças-feiras


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