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NÚMEROS PROVAM QUE ELE CAI EM JOGOS DECISIVOS
A questão Kaká
Ormuzd Alves/Folha Imagem
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Kaká caminha na concentração do São Paulo em Extrema |
Em recuperação de lesão na coxa, ídolo são-paulino tem amanhã, contra o Corinthians, mais uma oportunidade de mostrar que pode desequilibrar também nos mata-matas
PAULO GALDIERI
RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADOS ESPECIAIS A EXTREMA
Ele surgiu para a fama em uma
final, mas seu convívio com decisões tem sido ruim dali prá cá.
Ok, as kakazetes estão mais interessadas em seu sorriso ou seu
cabelo. Mas, para os torcedores
do São Paulo, a preocupação não
é a aparência. É a eficiência de Kaká em queda quando o time chega
a um mata-mata. Dos 11 principais fundamentos medidos pelo
Datafolha, Kaká sofre declínio em
8 quando comparados os números da primeira fase e dos mata-matas do Paulista-2003.
Quando a partida é decisiva, ele
perde mais bolas e erra muito
mais nas finalizações. Além de decair naquilo em que se destaca,
suas estatísticas em outros fundamentos (desarmes, lançamentos e
cruzamentos) também pioram.
O São Paulo enfraquece junto,
mas menos que seu ídolo (5 de 11
fundamentos). Seus colegas têm
consciência de que, de seu desempenho, dependem todos os são-paulinos. E quando o líder da seleção olímpica, o reserva da campanha do pentacampeonato mundial, o meia cobiçado por clubes
europeus, a promessa para o
meio-campo da Copa do Mundo
de 2006 decai, a toda equipe do
São Paulo padece junto.
"Ele sabe que o time depende
dele. Se ele estiver em campo, é
porque com certeza ele estará
bem. Se ele entrar e não jogar
bem, é até pior para a imagem dele", define o atacante Reinaldo,
que ontem treinou fazendo a função do companheiro.
Há três semanas Kaká não vem
treinando, queixando-se de dores
musculares na coxa direita.
Na verdade, ele está em uma sinuca de bico. Caso não jogue
amanhã, surgirão os detratores
dizendo que ele "amarelou". Se
entrar no sacrifício e o time perder, segue a pecha das finais.
Kaká mesmo definiu que em
uma decisão como esta do Paulista, diante do Corinthians, "ou você é vilão, ou você é herói".
Pois, até agora, ele não tem
mostrado muito heroísmo.
Seu começo foi promissor: em
2001, Kaká saiu da reserva dos juniores do São Paulo para estourar
fazendo os dois gols do título do
Torneio Rio-São Paulo.
Depois disso, veio uma série de
tropeços em mata-matas. No Brasileiro-2001, o São Paulo caiu
diante do Atlético-PR nas quartas-de-final. Em seguida, veio o
fracasso na final do Rio-SP de
2002, diante do Corinthians -algoz também na última Copa do
Brasil, dessa vez nas semifinais.
No Brasileiro-2002, a queda foi
diante do Santos nas quartas-de-final, após fazer a melhor campanha disparada na fase regular.
Kaká viu seus números irem a
pique. Sua média de finalizações
certas foi de 53,6% para 25%. Seus
dribles caíram quase pela metade
(de 4,5 por jogo para 2,5).
A história se repete no Paulista-2003. Sua porcentagem de mira
ao gol rival despencou de 40% para 0%. Seus lançamentos também
desapareceram. E ele se deixa desarmar mais vezes (de 8,5 roubadas por partida para 9,3).
A presença de Kaká na decisão é
quase certa. Já o lateral-direito
Leonardo, também contundido,
deve dar lugar a Gabriel, que ontem treinou em seu lugar. Ele terá
a missão de marcar o atacante corintiano Gil, enquanto o volante
Júlio Baptista ficará no encalço do
lateral Kléber, tentando anular o
setor esquerdo do rival.
Os treinos em Extrema (sul de
Minas Gerais) estão sendo especialmente ríspidos. Primeiro, Luis
Fabiano xingou Fábio Simplício
depois que o volante chamou a
atenção dele para marcar. "A gente sabe que o Luis é meio nervoso", aclamou Simplício.
Ontem, foi a vez de os atacantes
Reinaldo e Itamar, que treinou no
lugar de Kaká, se desentenderem.
O motivo foi um contra-ataque
fracassado. Após o treino, os dois
ainda discutiam asperamente.
Alheio a tudo isso, Kaká só faz
alongamento com os companheiros. Depois, sai para uma corridinha, enquanto os outros se engalfinham no coletivo. Falar com a
imprensa só um dia sim, o outro
não. O isolamento protege a esperança são-paulina para inverter a
vantagem corintiana após o 3 a 2
de domingo passado.
Até os dirigentes tentam protegê-lo. O supervisor Marco Aurélio
Cunha diz que sua queda de rendimento nos mata-matas é normal. "Nas decisões, você enfrenta
times mais fortes, com defesas
melhores. Os rivais dificultam
mais o trabalho dele. É normal ele
aparecer menos", argumenta Cunha. "As estatísticas servem para
muita coisa, dão muita informações, mas não explicam tudo",
completa o dirigente.
A lógica dele lembra uma célebre frase do escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910),
que dizia existir três tipos de mentiras: "As mentiras, as malditas
mentiras e as estatísticas".
"As estatísticas mostram o passado, mas não revelam o futuro",
afirma Cunha. Kaká terá amanhã
a chance de contrariá-las.
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