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NATAÇÃO
Confederação contata prefeitura e alavanca R$ 26 mil mensais para Eduardo Fischer, mas fica com 66% do valor
CBDA põe pedágio em patrocínio público
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
As primeiras cifras assustaram
Eduardo Fischer. Em janeiro, o
nadador soube que havia obtido
um contrato mensal de patrocínio
que ultrapassava os R$ 26 mil,
uma proeza na austera realidade
do esporte olímpico do Brasil.
Animado, o atleta fez planos
ambiciosos para a Olimpíada de
Atenas, em agosto. Mas não demorou para se decepcionar.
Fischer descobriu que a Confederação Brasileira de Desportos
Aquáticos gerenciará toda a verba. Mais: ficará com 66% do valor.
O dinheiro do patrocínio vem
de um acordo entre a Prefeitura
de Joinville, cidade onde o atleta
nasceu e treina até hoje, e o governo de Santa Catarina.
Cada parte deve desembolsar
oito parcelas mensais de R$
13.382,50 para ajudar o nadador
de 23 anos, recordista continental
dos 100 m peito e uma das principais revelações das piscinas.
Só que, dos R$ 26.765,00 depositados a cada mês, a entidade que
coordena os esportes aquáticos
no Brasil vai tomar R$ 17.765,00
para cobrir "outros gastos com o
atleta". Fischer recebe um salário
de R$ 6.000, e seu técnico, Ricardo
Carvalho, os R$ 3.000 restantes.
"O valor que sobra para mim é
muito ínfimo em relação ao total.
Por que o dinheiro precisa ir para
a CBDA?", questiona o atleta.
O estranhamento só aumenta
quando se constata que o projeto
de Joinville foi concebido, escrito
e encaminhado à cidade catarinense pela própria confederação.
O contrato, a que a Folha teve
acesso, começou a ser lucubrado
em outubro do ano passado.
Na época, Coaracy Nunes Filho,
presidente da CBDA, procurou
Antônio Lennert, diretor da Fundação Municipal de Esportes de
Joinville. Ofereceu ao catarinense
um projeto para que a cidade auxiliasse Fischer na preparação para a Olimpíada da Grécia.
O valor inicial do projeto era de
R$ 238.120,00. A prefeitura julgou
o montante alto demais, reduziu-o para R$ 214.120,00 e combinou
de dividir os gastos com o governo do Estado. Cada um, portanto,
arcaria com R$ 107.060,00.
No âmbito estadual, o patrocínio ainda não foi normatizado.
Em Joinville, o projeto já foi aprovado na Câmara e virou a lei número 4.934, do dia 2 de março.
Fischer, assim, pode começar a
receber já na próxima semana.
Mas ainda quebra a cabeça para
tentar entender o que será feito
com a parte da CBDA.
"Eles dizem que o dinheiro é
meu, que eu posso pegar quando
precisar. Só que eu estou precisando dele agora. Não quero e
não posso esperar", conta o competidor, que não foi consultado na
elaboração do documento.
No texto, a confederação detalha mês a mês como utilizará a
verba retida. São despesas com
"análises biomecânicas", "apoio
médico local" e gastos com participação do nadador em eventos
nacionais e internacionais.
"Nós não ficamos com nada,
absolutamente nada. Toda a verba que chega é revertida para o
Fischer", explica Coaracy.
A confederação, contudo, já
possui outras fontes de dinheiro
para investir em infra-estrutura,
treinamento e participação de
seus nadadores em torneios.
Do Comitê Olímpico Brasileiro,
a CBDA arrecada 4% do montante repassado às confederações pela Lei Piva. Em 2003, esse valor
correspondeu a R$ 1,5 milhão.
Além disso, a entidade levou
outros R$ 5 milhões no ano passado da parceria que mantém com
os Correios desde 1991.
"Outros nadadores da seleção
brasileira que não têm patrocínio
ou apoio de prefeituras também
vão fazer os mesmos exames, as
mesmas viagens, e nem por isso
terão dinheiro descontado. A
CBDA tem outras fontes para
bancar essas coisas", diz Fischer.
O fato que mais chama a atenção no contrato do nadador é um
"auxílio financeiro" mensal destinado a Ricardo Moura, diretor
técnico de natação da CBDA.
Apesar de viver no Rio, onde fica a sede da entidade, e não acompanhar a rotina diária do catarinense, ele vai levar R$ 1.200, metade da Prefeitura de Joinville e metade do governo do Estado.
"Meu técnico e preparador físico trabalham de graça há pelo
menos um ano. Não tenho como
pagá-los. Se o patrocínio será
mesmo utilizado comigo, quero
ao menos R$ 6.000 de cara para
pagar os atrasados", diz o atleta.
Apesar dos protestos, a confederação mantém sua posição. Segundo Coaracy, existem dois outros contratos semelhantes aos de
Fischer para serem fechados.
O primeiro foi encaminhado ao
governo de Pernambuco, em benefício de Joanna Maranhão, recordista brasileira nos 400 m medley. O outro foi produzido para o
amapaense Jader Souza, do quarteto que levou ouro no 4 x 100 m
livre no Pan de Santo Domingo.
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