São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

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TOSTÃO

Viva os mil gols do Romário

Mais importante que a marca é que ele parece ter computador no corpo, que calcula onde ele deve ir para receber a bola livre

C ONTINUA A POLÊMICA sobre os mil gols de Romário, já que muitos gols, não sei quantos, foram feitos antes de ele ser profissional. Romário nunca contestou isso. Só disse que os 998 gols foram feitos por ele. Ele não inventou os gols, confirmam os pesquisadores. Se os gols são dele, viva os mil gols.
Outra discussão é a razão de Romário ficar sempre livre na área para finalizar. Alguns dizem que a bola procura o artilheiro e que Romário tem uma identidade mágica com a bola. Essas e outras frases bonitas que existem no imaginário do futebol costumam não ter nada a ver com a realidade. Futebol é também ficção.
Para continuar entre a ficção e a realidade, Romário parece ter um computador instalado em seu corpo, que, em uma fração de segundos, calcula a velocidade da bola, os movimentos corporais dos companheiros e adversários e mostra para onde ele tem de ir para receber a bola livre. Os especialistas chamam essa capacidade de inteligência sinestésica. Nome bonito e pomposo. O que não se discute é o talento de Romário, com ou sem mil gols. Porém não há dúvida de que, para a história, mil é mais importante do que 999 gols. Vivemos em um mundo de convenções, que precisa de símbolos para contar a história. Romário sabe disso.
Por causa de seu caráter simbólico, de representação, nunca confie inteiramente em nenhuma história, em nenhuma biografia, seja de quem for. A história nunca conta toda a verdade.

Empate pode ser bom
Dizem que os velhinhos da International Board estudam acabar com o empate no futebol, por meio de cobranças de pênaltis após o jogo ou de outras formas, como a adotada na Liga Independente dos EUA, onde há uma disputa depois da partida entre o atacante, que sai com a bola da intermediária para fazer o gol, e o goleiro.
Apesar de a mudança de acabar com o empate ser simpática e de poder estimular o aumento do número de gols, sou contra. O empate faz parte da vida e do jogo. É também uma metáfora de justiça e de generosidade. Essa idéia de que tudo tem de ter um vencedor, que a derrota é um fracasso e que a vida é uma busca de conquistas, sucesso e prêmios, é característica da utilitária e hipócrita sociedade americana, exportada para o Brasil e para o mundo.

Amistosos
Espero que os dois amistosos da seleção sirvam para Dunga criar opções técnicas e táticas, como jogar com quatro defensores, dois volantes, uma linha de três meias, formada por Kaká, Ronaldinho e Robinho, e mais um atacante. Os três meias não precisam ter posições fixas. Nesse desenho tático, Elano, bom jogador, xodó de Dunga, titular da seleção e reserva do Shaktar Donetsk, da Ucrânia, teria de ser reserva ou jogar de volante (há outros melhores nessa posição). Dificilmente Dunga vai deixar de colocar três marcadores no meio-campo. Aí, teria de sair um dos meias. Com a não-convocação de Edmílson, titular nos jogos anteriores, Dunga poderá escalar um volante mais recuado (Gilberto Silva) e outro mais leve, com mais mobilidade, que defende e ataca, como Josué ou Mineiro. Mas, pelas últimas convocações e para manter a "coerência", que pode se transformar em uma enganosa obsessão, é mais provável a escalação de Dudu Cearense ao lado de Gilberto Silva.
A dupla formada por Josué e Mineiro, que brilhou durante muito tempo no São Paulo, terá dificuldade de dar certo, pois a seleção, diferentemente do São Paulo, joga com dois zagueiros, além de dois laterais que apóiam bastante.

tostao.folha@uol.com.br


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