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TOSTÃO
Viva os mil gols do Romário
Mais importante que a marca é que ele parece ter computador no corpo, que calcula onde ele deve ir para receber a bola livre
C
ONTINUA A POLÊMICA sobre os
mil gols de Romário, já que
muitos gols, não sei quantos,
foram feitos antes de ele ser profissional. Romário nunca contestou isso. Só disse que os 998 gols foram
feitos por ele. Ele não inventou os
gols, confirmam os pesquisadores.
Se os gols são dele, viva os mil gols.
Outra discussão é a razão de Romário ficar sempre livre na área para finalizar. Alguns dizem que a bola
procura o artilheiro e que Romário
tem uma identidade mágica com a
bola. Essas e outras frases bonitas
que existem no imaginário do futebol costumam não ter nada a ver
com a realidade. Futebol é também
ficção.
Para continuar entre a ficção e a
realidade, Romário parece ter um
computador instalado em seu corpo, que, em uma fração de segundos,
calcula a velocidade da bola, os movimentos corporais dos companheiros e adversários e mostra para onde
ele tem de ir para receber a bola livre. Os especialistas chamam essa
capacidade de inteligência sinestésica. Nome bonito e pomposo.
O que não se discute é o talento de
Romário, com ou sem mil gols. Porém não há dúvida de que, para a história, mil é mais importante do que
999 gols. Vivemos em um mundo de
convenções, que precisa de símbolos para contar a história. Romário
sabe disso.
Por causa de seu caráter simbólico, de representação, nunca confie
inteiramente em nenhuma história,
em nenhuma biografia, seja de
quem for. A história nunca conta
toda a verdade.
Empate pode ser bom
Dizem que os velhinhos da International Board estudam acabar
com o empate no futebol, por meio
de cobranças de pênaltis após o jogo ou de outras formas, como a
adotada na Liga Independente dos
EUA, onde há uma disputa depois
da partida entre o atacante, que sai
com a bola da intermediária para
fazer o gol, e o goleiro.
Apesar de a mudança de acabar
com o empate ser simpática e de
poder estimular o aumento do número de gols, sou contra. O empate
faz parte da vida e do jogo. É também uma metáfora de justiça e de
generosidade.
Essa idéia de que tudo tem de ter
um vencedor, que a derrota é um
fracasso e que a vida é uma busca de
conquistas, sucesso e prêmios, é característica da utilitária e hipócrita
sociedade americana, exportada
para o Brasil e para o mundo.
Amistosos
Espero que os dois amistosos da
seleção sirvam para Dunga criar
opções técnicas e táticas, como jogar com quatro defensores, dois volantes, uma linha de três meias, formada por Kaká, Ronaldinho e Robinho, e mais um atacante. Os três
meias não precisam ter posições fixas. Nesse desenho tático, Elano,
bom jogador, xodó de Dunga, titular da seleção e reserva do Shaktar
Donetsk, da Ucrânia, teria de ser
reserva ou jogar de volante (há outros melhores nessa posição). Dificilmente Dunga vai deixar de colocar três marcadores no meio-campo. Aí, teria de sair um dos meias.
Com a não-convocação de Edmílson, titular nos jogos anteriores, Dunga poderá escalar um volante mais recuado (Gilberto Silva)
e outro mais leve, com mais mobilidade, que defende e ataca, como
Josué ou Mineiro. Mas, pelas últimas convocações e para manter a
"coerência", que pode se transformar em uma enganosa obsessão, é
mais provável a escalação de Dudu
Cearense ao lado de Gilberto Silva.
A dupla formada por Josué e Mineiro, que brilhou durante muito
tempo no São Paulo, terá dificuldade de dar certo, pois a seleção, diferentemente do São Paulo, joga com
dois zagueiros, além de dois laterais que apóiam bastante.
tostao.folha@uol.com.br
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