São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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Por que Pelé não quer acordo com Teixeira

JUCA KFOURI
da Equipe de Articulistas

² "Eu não posso fazer acordo com quem dirige uma organização que eu já acusei de corrupta no passado."
A frase é de Pelé, que continua a falar:
"Se eu topasse um acordo, as pessoas iriam me perguntar se fui eu quem mudou ou o presidente da CBF. E acho que nenhum de nós dois mudou.
O que eu digo desde 1993 ainda não foi esclarecido.
Aliás, mais uma vez, quando surge uma proposta de CPI sobre atos da CBF, o que vejo são tentativas desesperadas, as mesmas usadas para que a Lei Pelé não fosse aprovada, para evitar a investigação. E eu pergunto: por quê? Quem não deve não teme.
Quando publicaram que tinha irregularidades na minha empresa, o que fiz? Pedi uma auditoria da Receita Federal. E não deu em nada.
Quando denunciaram irregularidades no ministério, o que fiz? Apurei e demiti os envolvidos, gente da minha confiança.
Eu sei que poderão me acusar de não estar vendo os interesses do Brasil, de atrapalhar o projeto de fazer a Copa do Mundo aqui em 2006.
Eu sei até que estão articulando apelos do presidente Fernando Henrique, do ACM e do Michel Temer.
Não foi só o Hawilla que me procurou com insistência nesses últimos dias propondo um entendimento, pedindo que eu sentasse com o Ricardo Teixeira. Ele chegou até a me perguntar como reagiria diante de um apelo do Fernando Henrique.
Mas eu disse a ele que não vejo nenhum sentido. Afinal, não sou mais ministro, eles não precisam de mim para nada.
Eu não tenho nenhum problema pessoal com o Ricardo, eu tenho é pena, porque acho que ele não dorme bem.
Eu ajudei a eleição dele em 1989, a pedido do João Havelange, e ele não cumpriu nada que prometeu, não modernizou coisa alguma em nosso futebol, ao contrário, as coisas só pioraram de lá para cá.
Fazer um entendimento com ele seria o mesmo que me acertar com o Koja, que tiramos da presidência do Santos por corrupção.
O Hawilla me falou que um acordo poderia abrir possibilidades de negócios com a Pelé Sport & Marketing, mas nós não precisamos disso.
Se a minha opção na vida fosse só ganhar dinheiro, eu teria ido jogar na Europa, e não ficaria tanto tempo no Santos. O meu nome limpo é o meu maior patrimônio.
Na verdade, o Ricardo Teixeira quer é meu aval para se candidatar à presidência da Confederação Sul-Americana. Ele precisa da minha imagem para ganhar credibilidade.
A Copa de 2006 não tem chance de ser aqui. Só por milagre. Acabei de voltar de uma reunião na Fifa e foi o que ouvi de todo mundo. No máximo, o que vai acontecer é o seguinte: vai ter gente ganhando dinheiro em torno da idéia.
É o que eu vou dizer ao presidente Fernando Henrique e a quem me procurar para falar disso.
E eu quero dar um basta definitivo nesses rumores de acordo. Já falei no "Cartão Verde", mas parece que nem você acreditou no que eu disse."
Tudo o que está escrito acima foi dito por telefone e depois lido frase a frase para que Pelé conferisse.
²


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras


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