São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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Clube enfrenta década de turbulências políticas

da Reportagem Local

O suposto suborno é o segundo grande escândalo que atinge a Lusa em menos de dois anos. Em março do ano passado, o então presidente Manoel Gonçalves Pacheco foi forçado a deixar o cargo após a Folha ter comprovado operações irregulares nas vendas dos meias Zé Roberto e Rodrigo ao Real Madrid, da Espanha.
Quando Lusa e Portuguesa Santista se enfrentaram em Santos, no dia 1º de março, Pacheco não ocupava a presidência da Lusa havia 45 dias. No dia 15 de janeiro, ele se licenciou do cargo. O que era para ser provisório tornou-se definitivo em meados de março.
O clube viveu até então um período de instabilidade em que não se sabia se Pacheco voltaria ou não. Líderes do grupo de situação, as famílias Lico e Casado impediram a volta de Pacheco.
É a disputa política no clube que contribuiu para a revelação de irregularidades. Os conselheiros que dirigiram a Lusa até meados de 1992 tentam retomar o poder das mãos das famílias Lico e Casado -que, juntas, detêm pelo menos um terço de todos os conselheiros, sem contar os seus aliados.
Foi por isso, por exemplo, que a oposição enviou um de seus conselheiros ao encontro do goleiro Nasser no ano passado. O objetivo era gravar declarações que pudessem ser usadas na eleição presidencial do clube, disputada entre Amílcar Casado e Joaquim Alves Heleno, da oposição.
Segundo Nasser, alguém o procurou por telefone, mas nunca houve um encontro pessoal. Pelo menos abertamente, o assunto não foi tocado na eleição, e até a comissão de sindicância que investigava o caso interrompeu os trabalhos.
Dentro do Conselho Deliberativo, a oposição se manifesta também na contestação ao balanço anual do clube, que apresentou prejuízo no ano passado.
A oposição critica a atitude de Casado de não permitir o acesso irrestrito dos conselheiros aos documentos contábeis da Lusa. O pedido precisa ser feito por escrito, especificando cada contrato.
Para Casado e seus aliados, todas essas atitudes têm apenas o objetivo de conturbar o ambiente.
Apesar das recentes crises políticas, a Lusa cresceu nos últimos cinco anos, mais do que nos dez anteriores. O orçamento do clube passou de US$ 3 milhões anuais até US$ 21 milhões no ano passado, antes da desvalorização do real.
Mesmo sem vencer um campeonato desde o Paulista-73, o clube acumulou nesse período algumas de suas maiores conquistas no futebol. Desde 1995, tem chegado quase sempre às semifinais dos campeonatos Paulista e Brasileiro.
Esse desempenho acabou transformando o clube, pela primeira vez na história, em alvo das convocações da seleção brasileira, nos casos de Zé Maria, Zé Roberto, Rodrigo, César e Leandro.
Oposição e situação só coincidem num ponto. Nenhuma das 16 pessoas da Lusa ouvidas nos últimos três dias deixou de enfatizar que agia "por amor ao clube" e que o outro lado só se movia por interesses próprios. (MD)



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