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Clube enfrenta década de turbulências políticas
da Reportagem Local
O suposto suborno é o segundo
grande escândalo que atinge a Lusa em menos de dois anos. Em
março do ano passado, o então
presidente Manoel Gonçalves Pacheco foi forçado a deixar o cargo
após a Folha ter comprovado operações irregulares nas vendas dos
meias Zé Roberto e Rodrigo ao
Real Madrid, da Espanha.
Quando Lusa e Portuguesa Santista se enfrentaram em Santos, no
dia 1º de março, Pacheco não ocupava a presidência da Lusa havia
45 dias. No dia 15 de janeiro, ele se
licenciou do cargo. O que era para
ser provisório tornou-se definitivo
em meados de março.
O clube viveu até então um período de instabilidade em que não
se sabia se Pacheco voltaria ou não.
Líderes do grupo de situação, as famílias Lico e Casado impediram a
volta de Pacheco.
É a disputa política no clube que
contribuiu para a revelação de irregularidades. Os conselheiros que
dirigiram a Lusa até meados de
1992 tentam retomar o poder das
mãos das famílias Lico e Casado
-que, juntas, detêm pelo menos
um terço de todos os conselheiros,
sem contar os seus aliados.
Foi por isso, por exemplo, que a
oposição enviou um de seus conselheiros ao encontro do goleiro
Nasser no ano passado. O objetivo
era gravar declarações que pudessem ser usadas na eleição presidencial do clube, disputada entre
Amílcar Casado e Joaquim Alves
Heleno, da oposição.
Segundo Nasser, alguém o procurou por telefone, mas nunca
houve um encontro pessoal. Pelo
menos abertamente, o assunto não
foi tocado na eleição, e até a comissão de sindicância que investigava
o caso interrompeu os trabalhos.
Dentro do Conselho Deliberativo, a oposição se manifesta também na contestação ao balanço
anual do clube, que apresentou
prejuízo no ano passado.
A oposição critica a atitude de
Casado de não permitir o acesso irrestrito dos conselheiros aos documentos contábeis da Lusa. O pedido precisa ser feito por escrito, especificando cada contrato.
Para Casado e seus aliados, todas
essas atitudes têm apenas o objetivo de conturbar o ambiente.
Apesar das recentes crises políticas, a Lusa cresceu nos últimos
cinco anos, mais do que nos dez
anteriores. O orçamento do clube
passou de US$ 3 milhões anuais até
US$ 21 milhões no ano passado,
antes da desvalorização do real.
Mesmo sem vencer um campeonato desde o Paulista-73, o clube
acumulou nesse período algumas
de suas maiores conquistas no futebol. Desde 1995, tem chegado
quase sempre às semifinais dos
campeonatos Paulista e Brasileiro.
Esse desempenho acabou transformando o clube, pela primeira
vez na história, em alvo das convocações da seleção brasileira, nos
casos de Zé Maria, Zé Roberto, Rodrigo, César e Leandro.
Oposição e situação só coincidem num ponto. Nenhuma das 16
pessoas da Lusa ouvidas nos últimos três dias deixou de enfatizar
que agia "por amor ao clube" e que
o outro lado só se movia por interesses próprios.
(MD)
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