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AUTOMOBILISMO
Horas depois da morte da mãe, alemão brilha em Imola e, sem festa, sobe ao pódio pela 1ª vez no ano
Profissional, Schumacher vence dor e GP
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A IMOLA
Lembrou o pódio de nove anos
atrás, no mesmo circuito de Imola. Em primeiro lugar, um Michael Schumacher cabisbaixo, circunspecto. Nada de festa, risos,
champanhe. Após os hinos, uma
saída discreta, em silêncio.
O mesmo homem de aço que já
jogou carros em rivais, que tirou a
Ferrari do maior jejum de sua história e que se igualou a Juan Manuel Fangio deu ontem seu maior
exemplo de frieza e autocontrole
dentro de um cockpit.
Horas depois da morte de sua
mãe, Elisabeth Schumacher, ele
venceu o GP de San Marino, quarta etapa do Mundial de F-1.
O líder do campeonato, Kimi
Raikkonen, da McLaren, foi o segundo. Rubens Barrichello, companheiro do pentacampeão na
Ferrari, completou o pódio.
Em coma induzido desde sexta-feira, quando passou por uma cirurgia para conter hemorragias
internas, Elisabeth, 55, morreu na
madrugada de ontem no Hospital
Universitário de Colônia.
Michael, 34, e Ralf Schumacher,
27, já não estavam lá. Depois de
obterem a primeira fila no grid no
sábado, voaram num jatinho para
a Alemanha, mas retornaram para Imola à noite. Só souberam da
morte da mãe por telefone.
Até duas horas antes da largada,
ainda havia dúvidas se os dois irmãos correriam o GP. A FIA (entidade máxima do automobilismo), então, os dispensou de todas
as formalidades e protocolos, como o desfile dos pilotos e as entrevistas obrigatórias. A confirmação só veio quando Ralf saiu do
caminhão da Williams vestindo
macacão. E óculos escuros.
Às 13h25 (8h25 de Brasília), o
ferrarista foi para os boxes. Às
13h29 entrou no cockpit e de lá
não saiu até o fim da corrida.
Normalmente, ao parar no grid,
os pilotos saem para conversar
com os engenheiros e dar entrevistas -ontem, nenhum dos dois
falou com a imprensa.
Nos 15 minutos em que ficou
parado no grid, Michael só se mexeu para levantar um pouco seu
capacete, ocultando os olhos.
Na largada, Ralf saiu melhor e
conseguiu superar o irmão. Barrichello, terceiro no grid, manteve a
posição, seguido por Juan Pablo
Montoya, da Williams.
Logo, os três primeiros se destacaram, formando um pelotão. Na
quarta volta, apenas 0s639 separavam o brasileiro do líder.
A situação permaneceu inalterada até a primeira rodada de pit
stops. Ralf parou na 16ª volta. Michael aproveitou para puxar o ritmo, bateu o recorde do circuito
na 17ª, fez sua parada na 18ª e voltou para a pista à frente do caçula.
Na liderança, ao volante do
F2002, o carro do ano passado e
que ontem se despediu da categoria, o pentacampeão sumiu da visão da concorrência. Na 30ª volta,
já tinha folga de 9s944 para Ralf e
de 10s911 para Barrichello.
Mais uma vez, o pelotão da frente só mudou nos boxes. Com uma
plano de dois pits -contra três de
Ferrari e Williams-, a McLaren
colocou Raikkonen na segunda
posição na 34ª volta.
Barrichello poderia até pensar
em lutar com o finlandês não fosse um erro da Ferrari em sua última parada. O time se atrapalhou
para trocar o pneu dianteiro esquerdo, perdeu seis segundos e o
devolveu à pista ainda em quarto.
Irritado e gesticulando para a
equipe, o brasileiro partiu para cima de Ralf, tomou o terceiro lugar
a dez voltas do fim com uma bela
ultrapassagem, mas não chegou a
ameaçar Raikkonen.
Na frente, o pentacampeão aliviou nas voltas finais e alcançou
sua primeira vitória neste ano, a
quinta em Imola, a 65ª da vida.
Coroou, assim, um fim de semana perfeito nas pistas, com pole, vitória e volta mais rápida. Em
182 GPs disputados, foi a 13ª vez
em que conseguiu a trinca.
Fora do carro, revelou uma faixa de luto amarrada ao braço direito, sua homenagem à mãe
-horas depois, por intermédio
da Ferrari, diria: "Ela gostaria que
eu corresse. Tenho certeza".
Segurando o choro, Schumacher foi para o pódio mais triste
desde o GP de San Marino de 94.
Naquele 1º de maio morreu Ayrton Senna. Seu maior ídolo.
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