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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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AUTOMOBILISMO

Horas depois da morte da mãe, alemão brilha em Imola e, sem festa, sobe ao pódio pela 1ª vez no ano

Profissional, Schumacher vence dor e GP

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A IMOLA

Lembrou o pódio de nove anos atrás, no mesmo circuito de Imola. Em primeiro lugar, um Michael Schumacher cabisbaixo, circunspecto. Nada de festa, risos, champanhe. Após os hinos, uma saída discreta, em silêncio.
O mesmo homem de aço que já jogou carros em rivais, que tirou a Ferrari do maior jejum de sua história e que se igualou a Juan Manuel Fangio deu ontem seu maior exemplo de frieza e autocontrole dentro de um cockpit.
Horas depois da morte de sua mãe, Elisabeth Schumacher, ele venceu o GP de San Marino, quarta etapa do Mundial de F-1.
O líder do campeonato, Kimi Raikkonen, da McLaren, foi o segundo. Rubens Barrichello, companheiro do pentacampeão na Ferrari, completou o pódio.
Em coma induzido desde sexta-feira, quando passou por uma cirurgia para conter hemorragias internas, Elisabeth, 55, morreu na madrugada de ontem no Hospital Universitário de Colônia.
Michael, 34, e Ralf Schumacher, 27, já não estavam lá. Depois de obterem a primeira fila no grid no sábado, voaram num jatinho para a Alemanha, mas retornaram para Imola à noite. Só souberam da morte da mãe por telefone.
Até duas horas antes da largada, ainda havia dúvidas se os dois irmãos correriam o GP. A FIA (entidade máxima do automobilismo), então, os dispensou de todas as formalidades e protocolos, como o desfile dos pilotos e as entrevistas obrigatórias. A confirmação só veio quando Ralf saiu do caminhão da Williams vestindo macacão. E óculos escuros.
Às 13h25 (8h25 de Brasília), o ferrarista foi para os boxes. Às 13h29 entrou no cockpit e de lá não saiu até o fim da corrida.
Normalmente, ao parar no grid, os pilotos saem para conversar com os engenheiros e dar entrevistas -ontem, nenhum dos dois falou com a imprensa.
Nos 15 minutos em que ficou parado no grid, Michael só se mexeu para levantar um pouco seu capacete, ocultando os olhos.
Na largada, Ralf saiu melhor e conseguiu superar o irmão. Barrichello, terceiro no grid, manteve a posição, seguido por Juan Pablo Montoya, da Williams.
Logo, os três primeiros se destacaram, formando um pelotão. Na quarta volta, apenas 0s639 separavam o brasileiro do líder.
A situação permaneceu inalterada até a primeira rodada de pit stops. Ralf parou na 16ª volta. Michael aproveitou para puxar o ritmo, bateu o recorde do circuito na 17ª, fez sua parada na 18ª e voltou para a pista à frente do caçula.
Na liderança, ao volante do F2002, o carro do ano passado e que ontem se despediu da categoria, o pentacampeão sumiu da visão da concorrência. Na 30ª volta, já tinha folga de 9s944 para Ralf e de 10s911 para Barrichello.
Mais uma vez, o pelotão da frente só mudou nos boxes. Com uma plano de dois pits -contra três de Ferrari e Williams-, a McLaren colocou Raikkonen na segunda posição na 34ª volta.
Barrichello poderia até pensar em lutar com o finlandês não fosse um erro da Ferrari em sua última parada. O time se atrapalhou para trocar o pneu dianteiro esquerdo, perdeu seis segundos e o devolveu à pista ainda em quarto.
Irritado e gesticulando para a equipe, o brasileiro partiu para cima de Ralf, tomou o terceiro lugar a dez voltas do fim com uma bela ultrapassagem, mas não chegou a ameaçar Raikkonen.
Na frente, o pentacampeão aliviou nas voltas finais e alcançou sua primeira vitória neste ano, a quinta em Imola, a 65ª da vida.
Coroou, assim, um fim de semana perfeito nas pistas, com pole, vitória e volta mais rápida. Em 182 GPs disputados, foi a 13ª vez em que conseguiu a trinca.
Fora do carro, revelou uma faixa de luto amarrada ao braço direito, sua homenagem à mãe -horas depois, por intermédio da Ferrari, diria: "Ela gostaria que eu corresse. Tenho certeza".
Segurando o choro, Schumacher foi para o pódio mais triste desde o GP de San Marino de 94. Naquele 1º de maio morreu Ayrton Senna. Seu maior ídolo.



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