São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

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TOSTÃO

As coisas precisam ter nomes


Muitos torcedores iniciantes, jovens ou não, não querem só torcer. Querem entender. Assim, o futebol dá mais prazer


ASSIM COMO são publicados vários livros antes do Natal, muitos são lançados sobre futebol antes da Copa do Mundo. O leitor é que vai dizer se são bons ou de ocasião. Ou as duas coisas. Não há nada de pecaminoso nisso. Somos todos marqueteiros. Uns mais, outros menos.
Prefaciei, com prazer, a excelente enciclopédia "O Mundo das Copas", do jornalista paranaense Lycio Velloso Ribas. Outros bons livros foram lançados. O narrador Milton Leite escreveu "As Melhores Seleções Brasileiras de Todos os Tempos". Mauro Beting falou sobre "As Melhores Seleções Estrangeiras", e Marcelo Barreto, sobre "Os Maiores Camisas 10 do Futebol Brasileiro".
As listas de melhores causam muitas discussões. Alguns não concordam com os nomes, e outros acham que algum jogador está fora de lugar.
Pelé, ponta de lança, tornou-se o símbolo da camisa 10. Mas, dos outros dez escolhidos, três cracaços (Rivellino, Ademir da Guia e Dirceu Lopes) eram meias armadores. Os outros sete foram Zizinho, Zico, Kaká, Ronaldinho, Rivaldo, Raí e Neto. Sócrates, que jogava com a 8, estaria na minha lista dos melhores pontas de lança. Faltou também a Marta.
Os meias armadores eram típicos jogadores de meio-campo. Atuavam de uma área à outra. Eram organizadores e participavam da marcação. Os pontas de lança eram atacantes, artilheiros, que somente recuavam para receber a bola e, depois, chegar à frente.
Os atuais meias de ligação não têm a mesma função dos antigos pontas de lança nem dos antigos meias armadores. Alguns têm mais características de armadores, como Ganso. Outros se parecem mais com os pontas de lança, como Kaká.
A imprensa, de todo o mundo, do passado e do presente, fala que a seleção, na Copa de 1970, tinha vários camisas 10. Não é bem assim. Gerson e Tostão jogavam em seus clubes com a camisa 8. Gerson e Rivellino eram meias armadores. Tostão e Pelé eram pontas de lança.
A crônica esportiva deveria ter mais cuidado com a terminologia. As coisas precisam ter nomes para serem entendidas. Laterais são chamados de alas, e alas, de laterais. O mesmo time joga no 4-3-3, no 4-4-2, no 4-2-1-3 ou no 4-2-3-1. Jogador que atua pelo lado é chamado de atacante e de meia. Há inúmeros outros exemplos.
Muitos torcedores iniciantes no futebol, jovens ou não, não querem apenas torcer. Querem também entender. Quando se compreende bem, o futebol fica mais prazeroso.

O sonho não acabou
Se o técnico do Santos fosse um europeu, certamente escalaria Robinho, fixo, de um lado, e Neymar, fixo, de outro. É o esquema da moda na Europa, com dois volantes, uma linha de três meias e um centroavante. Assim, Robinho e Neymar seriam mais facilmente marcados.
Ainda bem que Dorival Júnior não entrou na onda. Os dois jogam, movimentam-se muito e estão, com frequência, perto um do outro. Confundem a marcação.
O Santos, sem perder a seriedade e a organização tática, recupera o futebol que sonhamos e que muitos achavam que não mais existia. O outro futebol, o burocrático e convencional, é o da maioria dos outros técnicos.


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