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TÊNIS
Los hermanos
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Seu Oscar vibrou muito na
pequena Venado Tuerto ao
ver o filho dar os primeiros passos,
naquele inverno gelado de 1983.
Não só por ver seu primogênito
crescer saudavelmente. Mas porque poderia, finalmente, dar-lhe
uma pequena raquete.
Professor de tênis, Oscar levou o
filho ao Club Centenario quando
o garoto tinha quatro anos. O pequeno Guillermo, homenagem de
seu Oscar a Guillermo Vilas, foi
para o tênis em vez de trilhar o
caminho dos amigos, que sonhavam com o River Plate.
Campeão juvenil de Roland
Garros, Guillermo Coria venceu
na final David Nalbandian. Em
dupla, juvenis, ganharam um título em Wimbledon.
Nalbandian, aliás, também começou cedo. Aos cinco anos, já
dava as primeiras e desengonçadas raquetadas. Como Coria, poderia ter sucumbido à paixão pelo futebol e o River, mas seguiu no
tênis. Ainda garoto, chegou ao caneco do Aberto dos EUA, batendo
um tal de Roger Federer.
Outros dois garotos argentinos
também flertaram com o futebol,
mas seguiram no tênis.
Com sete anos, Gastón Gaudio
vibrou como nunca quando a Argentina, com Diego Maradona,
tirou a Inglaterra da Copa-1986;
Agustín Calleri precisou de muito
sangue frio para deixar de acompanhar com os melhores amigos
os jogos do Boca Juniors.
Não à toa esses quatro batalhadores marcaram em Hamburgo a
primeira semifinal entre compatriotas em um Masters Series. Fato idêntico havia acontecido em
torneios menores, com suecos,
australianos, franceses, espanhóis
e norte-americanos.
Nossos vizinhos aproveitaram a
fase de Guillermo Vilas, 39 títulos,
a maioria no fim dos anos 70 e começo dos 80, e, quase simultaneamente, de José-Luis Clerc. Emendaram com Gabriela Sabatini,
uma das melhores do mundo nos
anos 80 e início dos 90.
Por aqui, o tênis só ganhou espaço quando Gustavo Kuerten
conquistou Roland Garros, em
1997. Até então, quem queria ser
jogador de tênis? Ser atleta era ser
jogador de futebol.
E a atitude dos juvenis, então?
Quanta diferença! Para os nossos
jovens, a falta de patrocínio é
sempre a razão da carreira interrompida, atrasada e, fracassada.
Para nossos "hermanos", é uma
motivação, algo que empurra o
tenista para longe de casa, para
as vitórias lá fora. Sem "apoio",
nossos garotos sentem-se livres
para fracassar, passam até a ter
uma desculpa. Muitos não têm
força, ânimo ou cabeça para comer o pão que o adversário amassou, encarar a distância dos pais,
a saudade das namoradinhas, a
falta das mordomias de casa.
Não raro, é possível ver em torneios juvenis os pequenos argentinos se aquecendo, acompanhando os jogos dos rivais, enquanto nossos garotos correm
atrás de uma internet, um telefone, notícias de casa e do futebol.
Por essas e outras que, agora,
em Roland Garros, a partir de segunda, os argentinos vão torcer
com fé para Coria, Calleri, Nalbandian, Gaudio, Juan Ignacio
Chela, Mariano Zabaleta, José
Acasuso, todos entre os top 50. E a
gente... Bem, boa sorte, Guga!
Em Paris
Ironicamente, coube a outro argentino, Marcelo Charpentier, tirar
Fernando Meligeni de Roland Garros. Marcos Daniel, Francisco
Costa e Ricardo Mello também não passaram do qualifying. A Argentina tem ainda quatro tenistas na segunda rodada do quali.
No Nordeste
Começa hoje, em São Luís, a segunda etapa do Grand Slam infanto-juvenil da CBT. São mais de 150 jovens de 19 Estados.
Na Grande São Paulo e no Sul
Na segunda, o Guarulhos Tênis Clube recebe a segunda etapa do Circuito Banco do Brasil, com mais de 365 tenistas. A terceira etapa do
Credicard MasterCard Juniors Cup começa na segunda, em Joinville.
E-mail reandaku@uol.com.br
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