São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Na volta, Geninho tucana pega, pega

Técnico, que estréia hoje no Corinthians, contra o Vasco, diz que não vai abandonar expressão que o derrubou em 2003

Contratado para levar time de volta à Libertadores, ele diz que clube tem fobia da competição e revela que quer psicólogo para os jogadores


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pega, pega continua, mas agora de outra forma. Em sua estréia no comando do Corinthians, hoje, contra o Vasco, o técnico Geninho, 57, diz que não irá aposentar o termo que deu início à sua queda no cargo em 2003. Em jogo que eliminou o clube paulista da Taça Libertadores daquele ano, ele gritou "pega, pega" para o lateral Roger em lance com D'Alessandro, do River Plate. Roger deu um pontapé, foi expulso, e o técnico caiu em desgraça. Em sua volta ao Parque São Jorge, ele diz que agora vai disfarçar o termo. "Diminui" e "encosta" são as novas expressões do treinador, que volta 10 kg mais magro do que na última passagem pelo clube. Em entrevista à Folha, ele diz que o Corinthians precisa de ajuda psicológica para vencer a Libertadores e revela que, se o time ganhar vaga no torneio em 2007, vai contratar um profissional para ajudar a equipe a superar esse trauma.

 

FOLHA - Você disse que hoje é um técnico mais maduro. O que mudou no Geninho de 2003 para agora?
GENINHO -
Eu tenho mais tranqüilidade para decidir. Acho que vejo as coisas com mais clareza, administro melhor os problemas e me sinto mais preparado para algumas situações. Acumulei aprendizado.

FOLHA - Quais foram os erros que você cometeu?
GENINHO -
Você erra sempre. Não um erro crasso de ter escalado errado. Mas poderia ter feito algumas coisas diferentes, conduzir o grupo de uma maneira diferente, fazer um trabalho pré-jogo diferente.

FOLHA - O pega, pega morreu na sua nova gestão?
GENINHO -
O pega, pega continua, mas talvez eu não use esse termo. Para evitar esse tipo de problema. Quem vive no futebol sabe que não tem a ver.

FOLHA - Mas você ficou marcado negativamente com isso...
GENINHO -
Esse termo causou a expulsão de um jogador e a desclassificação na Libertadores. Se eu tivesse ganho, o pega, pega ia ser exaltado. "Olha, o Geninho montou um time pegador". E é isso que queria dizer. O pega, pega é um time de marcação forte, não de pontapé, que vai agredir o adversário, mas um time que marque sem dar espaço. Mas hoje não uso o termo "pega". Uso "diminui", "encosta", porque aquele ficou marcado negativamente. Hoje me policio mais nas declarações.

FOLHA - Em 2003, não havia camisa do seu número para você dar os treinos. E agora?
GENINHO -
Eu emagreci bastante. O que me emagreceu foi ficar seis meses na Arábia. Eu perdi 18 kg lá. Tinha uma vida mais regrada, fazia academia, me cuidava mais, jogava tênis, não tinha chope. Quando voltei para Goiânia, não tinha muito tempo, parei de fazer exercícios e voltei a tomar chope. Dos 18 kg que perdi, ganhei oito, mas continuo dez mais magro. O uniforme do Corinthians hoje entra em mim.

FOLHA - Qual é seu peso agora?
GENINHO -
Estou com 104 kg.

FOLHA - Pretende voltar a malhar?
GENINHO -
Pretendo, porque ajuda a aliviar o estresse. Apesar de que é difícil falar que vou ter tempo de fazer academia. Nesta semana não almocei.

FOLHA - E o chope, deu tempo?
GENINHO -
Também não.

FOLHA - Você toma muito?
GENINHO -
Não, de vez em quando. Uma, duas vezes por semana, quando tenho um tempinho. Tomo dois, três e vou embora. Mesmo porque você não tem muita privacidade aqui. Em Goiás era mais tranqüilo, fazia mais vezes.

FOLHA - O que você encontrou de diferente na sua volta a São Paulo?
GENINHO -
Basicamente um Corinthians mais forte. Em 2003, tive que montar um time que foi bom e ganhou o Paulista e que, depois, foi desmontado. Lancei boa parte dessa meninada que está aí, como o Betão e o Coelho. Eu fico satisfeito com isso, mas eles queimaram etapas. Foram para o profissional sem passar pelo juniores.

FOLHA - Você não acha que é cada vez mais difícil o Corinthians ganhar a Libertadores?
GENINHO -
A Libertadores virou fobia para o clube. Está parecendo aqueles longos anos sem títulos paulistas. O time começa bem e, quando chega nos mata-matas e se vê numa situação de risco de desclassificação, o emocional pesa. Isso aconteceu comigo em 2003 e também agora. Tem que aprender a jogar a Libertadores.

FOLHA - Como se livrar da fobia?
GENINHO -
Tem que ser feito um trabalho de conscientização, trabalho psicológico forte.

FOLHA - Você pretende recorrer a alguma ajuda profissional?
GENINHO -
Se tudo correr bem e nos classificarmos, eu acho que sim. Seria um trabalho de assessoria nessa parte. Eu tenho um conhecimento, mas que é básico, nessa área. Se o Corinthians aprender a dominar os nervos, estar preparado para situações difíceis, pode chegar porque tecnicamente é capaz, mas perde para os nervos.

FOLHA - Desde a chegada da MSI vários jogadores já se desentenderam. O grupo está destemperado?
GENINHO -
Eu tenho tentado mostrar a eles que é fundamental que estejam unidos. Eu falo a eles que não temos que ser amigos fora daqui, mas que aqui temos que ser irmãos. Dependemos um do outro. Se um não tiver entrosado, atrapalha o resto. Mas você não consegue isso de uma hora para outra. Não consegui nesta semana, mas já melhorei muitas coisas.


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