São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ GERALDO COUTO Know-how do gol
DO SEGUNDO gol brasileiro, uma jogada quase de handebol, não vou dizer nada. Felipão Scolari esgotou o assunto, com ironia, comentando a partida para a TV sul-africana: "Tocar a mão na bola uma vez é falta. Tocar duas vezes, não. É uma nova regra". O mais surreal foi o juiz ter perguntado depois ao próprio Luis Fabiano se tinha ajeitado a bola com o braço. O atacante, com o ar mais inocente, respondeu que não, claro. O locutor sul-africano riu: "Nunca vi uma coisa dessas antes". Nem eu. Para que não me acusem de torcer contra, digo que muito provavelmente (porque nunca se pode ter certeza absoluta) o Brasil venceria o jogo de todo jeito, com ou sem a "mão do Senhor". A superioridade brasileira no primeiro tempo foi tão grande que às vezes parecia que nossa seleção tinha um jogador a mais em campo. A Costa do Marfim não oferecia perigo algum. O Brasil também ameaçava pouco, é verdade. Mas o primeiro gol revelou uma eficiência de que raras seleções dispõem, em uma Copa do Mundo de tantos gols perdidos. Dessa vez foi o ex-craque nigeriano Jay-Jay Okocha que, no intervalo do jogo, definiu com precisão: "O Brasil teve meia chance. E converteu". O espaço que Kaká achou entre os zagueiros, o passe simples e milimétrico, o tempo de bola exato de Luis Fabiano (um segundo adiante, teria ficado impedido; um segundo atrás, teria perdido a frente para o zagueiro), tudo isso configurou um prodígio de competência. No segundo tempo, tudo ficou confuso, por causa da lambança do juiz e dos entreveros entre os jogadores das duas equipes. Mas só tomamos o gol porque, como no primeiro jogo, a defesa relaxou. Reveja o lance: quatro defensores brasileiros olham para a bola e se esquecem de cuidar de Drogba, simplesmente o melhor jogador adversário. Tudo indica que a seleção de Dunga vai longe. Por sua eficiência e pela fraqueza dos oponentes. E quem quiser entender por que os jogos desta Copa do Mundo andam tão aborrecidos deve ler a coluna de Vinicius Torres Freire, publicada ontem no caderno Mercado, da Folha, sob o título "A economia do futebol chato". Está tudo lá, com clareza e concisão admiráveis. jgcouto@uol.com.br Texto Anterior: Para Eriksson, Brasil esteve "quase perfeito" Próximo Texto: Xico Sá: Sambinha do agouro Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |