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MOTOR
A bélica F-1
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A Benetton divulgou nesta
semana que foi vítima de
hackers no ano passado e que essa
seria a principal razão para seu
motor passar de revolucionário a
fiasco em apenas um semestre.
Segundo um cartola do time,
ex-agentes da Stasi, o serviço secreto da extinta Alemanha Oriental, conseguiram invadir arquivos
da fábrica francesa via internet e
surrupiaram detalhes construtivos importantes do novo motor.
A intenção seria vender esses segredos para outros construtores
da F-1, o que não foi comprovado.
Durante as investigações, a Renault contou com apoio das polícias de três países, sem, no entanto, obter os nomes dos culpados
ou de seus eventuais clientes.
A história é saborosa, embora
não seja suficiente para explicar o
fosso em que a Benetton caiu desde que o time foi adquirido pela
vencedora fábrica francesa.
A empresa alega que foi obrigada a mudar profundamente seu
projeto, o que comprometeu o desenvolvimento da nova unidade
-sua principal característica é a
angulação inédita dos cilindros,
de 111 graus, e um comando de
válvulas ditado por um sistema
eletromagnético que permitiria
muito mais rotações por minuto.
O episódio poderia se restringir
a apenas outro caso de espionagem industrial, que acontece aos
montes na indústria automobilística. Mais do que isso, porém, evidencia os porões escuros da F-1,
que nasceu após a Segunda Guerra Mundial para, entre outras
coisas, absorver uma mão-de-obra altamente especializada,
disciplinada e desempregada: militares de todas as espécies.
Até mesmo Silverstone, que
abrigou a primeira corrida da categoria, em 1950, tem origem bélica, era um aeroporto militar.
Com uma grande oferta de pessoal e fabricantes de automóveis
livres de demandas governamentais e prontos para vender carros
ao público comum, a F-1 encontrou terreno fértil para crescer.
É aí que acontece, por exemplo,
a introdução maciça da aeronáutica no esporte a motor, algo que
revolucionaria os carros nas décadas subsequentes -mais recentemente, novos materiais e a
eletrônica cumpriram papel semelhante, sendo inoculados na
categoria para, mais tarde, chegarem aos veículos de passeio.
Ocorre que, junto com um monte de engenheiros, vieram também para a F-1 todo tipo de gente
que uma guerra consegue produzir. E quando eles tomaram pé da
situação, o lado comercial da categoria explodiu curiosamente na
mesma época que a demanda de
armas se intensificou de novo, em
regiões mais pobres do planeta.
Ecclestone, entre outros dirigentes do esporte, teve o nome ligado
a esse tipo de comércio, algo nunca comprovado. Foi ele, porém,
que manteve a F-1 na África do
Sul a despeito do boicote ao Apartheid, tirou a Argentina do calendário pouco antes da Guerra das
Malvinas e conseguiu incluir um
evento ocidental numa Hungria
ainda alinhada à URSS. Claro,
um trânsito muito grande, mesmo para um dirigente esportivo.
Em geral, pouca gente na F-1
gosta de falar dos subterrâneos da
categoria. Mas, como aconteceu
agora, por vezes eles afloram.
Hakkinen fez uma corrida perfeita em Silverstone e comprovou
a tese de que, se estivesse em forma desde o início do ano, a história do campeonato seria diferente
a despeito da crise da McLaren.
Regulamento
Uma reunião de construtores com Charlie Whitting realizada logo
depois do GP da Inglaterra adiou para o final do ano qualquer mudança nas regras de motor. Ou seja, a patrulha sobre as velocidades
finais anunciada por Mosley logo depois da morte do fiscal australiano, no início da temporada, foi inócua. Das sugestões feitas, as
principais foram refutadas: baixar a capacidade para 2.500 cc, o
que o Pacto de Concórdia proíbe até 2007; e o banimento dos motores de classificação, que provocaria muitas "quebras" no sábado.
Rali
Após anos confinada a limites regionais, a categoria vive momento
inédito de ascensão no Brasil. O Rali dos Sertões, por exemplo, que
aguarda sua inclusão no Mundial da modalidade em 2003, cresceu
a ponto de absorver até mesmo problemas que atormentam grandes ralis no exterior. Encerrado ontem, produziu três mortes, nenhuma delas, porém, vinculada diretamente à competição.
E-mail: mariante@uol.com.br
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