São Paulo, sábado, 21 de julho de 2001

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MOTOR

A bélica F-1

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A Benetton divulgou nesta semana que foi vítima de hackers no ano passado e que essa seria a principal razão para seu motor passar de revolucionário a fiasco em apenas um semestre.
Segundo um cartola do time, ex-agentes da Stasi, o serviço secreto da extinta Alemanha Oriental, conseguiram invadir arquivos da fábrica francesa via internet e surrupiaram detalhes construtivos importantes do novo motor.
A intenção seria vender esses segredos para outros construtores da F-1, o que não foi comprovado. Durante as investigações, a Renault contou com apoio das polícias de três países, sem, no entanto, obter os nomes dos culpados ou de seus eventuais clientes.
A história é saborosa, embora não seja suficiente para explicar o fosso em que a Benetton caiu desde que o time foi adquirido pela vencedora fábrica francesa.
A empresa alega que foi obrigada a mudar profundamente seu projeto, o que comprometeu o desenvolvimento da nova unidade -sua principal característica é a angulação inédita dos cilindros, de 111 graus, e um comando de válvulas ditado por um sistema eletromagnético que permitiria muito mais rotações por minuto.
O episódio poderia se restringir a apenas outro caso de espionagem industrial, que acontece aos montes na indústria automobilística. Mais do que isso, porém, evidencia os porões escuros da F-1, que nasceu após a Segunda Guerra Mundial para, entre outras coisas, absorver uma mão-de-obra altamente especializada, disciplinada e desempregada: militares de todas as espécies.
Até mesmo Silverstone, que abrigou a primeira corrida da categoria, em 1950, tem origem bélica, era um aeroporto militar.
Com uma grande oferta de pessoal e fabricantes de automóveis livres de demandas governamentais e prontos para vender carros ao público comum, a F-1 encontrou terreno fértil para crescer.
É aí que acontece, por exemplo, a introdução maciça da aeronáutica no esporte a motor, algo que revolucionaria os carros nas décadas subsequentes -mais recentemente, novos materiais e a eletrônica cumpriram papel semelhante, sendo inoculados na categoria para, mais tarde, chegarem aos veículos de passeio.
Ocorre que, junto com um monte de engenheiros, vieram também para a F-1 todo tipo de gente que uma guerra consegue produzir. E quando eles tomaram pé da situação, o lado comercial da categoria explodiu curiosamente na mesma época que a demanda de armas se intensificou de novo, em regiões mais pobres do planeta.
Ecclestone, entre outros dirigentes do esporte, teve o nome ligado a esse tipo de comércio, algo nunca comprovado. Foi ele, porém, que manteve a F-1 na África do Sul a despeito do boicote ao Apartheid, tirou a Argentina do calendário pouco antes da Guerra das Malvinas e conseguiu incluir um evento ocidental numa Hungria ainda alinhada à URSS. Claro, um trânsito muito grande, mesmo para um dirigente esportivo.
Em geral, pouca gente na F-1 gosta de falar dos subterrâneos da categoria. Mas, como aconteceu agora, por vezes eles afloram.

Hakkinen fez uma corrida perfeita em Silverstone e comprovou a tese de que, se estivesse em forma desde o início do ano, a história do campeonato seria diferente a despeito da crise da McLaren.

Regulamento
Uma reunião de construtores com Charlie Whitting realizada logo depois do GP da Inglaterra adiou para o final do ano qualquer mudança nas regras de motor. Ou seja, a patrulha sobre as velocidades finais anunciada por Mosley logo depois da morte do fiscal australiano, no início da temporada, foi inócua. Das sugestões feitas, as principais foram refutadas: baixar a capacidade para 2.500 cc, o que o Pacto de Concórdia proíbe até 2007; e o banimento dos motores de classificação, que provocaria muitas "quebras" no sábado.

Rali
Após anos confinada a limites regionais, a categoria vive momento inédito de ascensão no Brasil. O Rali dos Sertões, por exemplo, que aguarda sua inclusão no Mundial da modalidade em 2003, cresceu a ponto de absorver até mesmo problemas que atormentam grandes ralis no exterior. Encerrado ontem, produziu três mortes, nenhuma delas, porém, vinculada diretamente à competição.

E-mail: mariante@uol.com.br


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