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FUTEBOL
Denílson, ou o elogio do drible
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"A entrada de Denílson
no lugar de Bebeto foi um
desses instantes fulminantes que
quem viveu não esquece.
Um arrepio parece ter percorrido toda a platéia que lotava o
Stade de France quando o moleque ex-tricolor partiu pela esquerda, semeando o pânico na
defesa escocesa.
A meu lado na tribuna de imprensa, Alberto Helena Jr., até então afundado num silêncio tenso,
jogou os braços para cima e exclamou: "Esse é o futebol brasileiro!".
Carlos Heitor Cony emendou:
"Por que esse menino não entrou
desde o começo?" (boa pergunta,
por sinal).
Ninguém tinha ido ali para,
"galvãobuenamente", torcer pelo
Brasil.
Mas a arrancada de Denílson
foi capaz de empolgar o mais frio
dos observadores.
Estava ali, talvez, naquela sequência de dribles e toques -naquela exibição de ousadia e talento, em suma-, a resposta à questão que me inquietava durante o
jogo."
Publiquei o texto acima na Folha no dia 11 de junho de 1998.
Com ligeiras modificações, poderia valer para a partida da última
quarta-feira.
Três anos depois, Denílson segue sendo o garoto que inflama o
time e a torcida ao entrar durante
o jogo, mas que não conquista a
vaga de titular.
Talvez Felipão esteja certo em
deixá-lo no banco, guardando-o
como arma mortífera a ser usada
no segundo tempo.
Se Denílson começasse jogando
e decepcionasse, seria todo o nosso
sonho de um futebol feliz que se
frustraria. Assim, temos no banco
uma reserva de esperança. E de
esperança também se vive.
A torcida, tensa ou entediada,
fica atenta a cada movimento no
banco de reservas brasileiro, na
expectativa de ver o artista se preparar para o seu show. Denílson
tem consciência disso e talvez até
goste de não começar jogando, só
para ouvir a torcida gritando seu
nome a plenos pulmões.
O futebol de Denílson, desde que
ele surgiu no São Paulo, ainda
adolescente, sempre foi luminoso.
Mas, por conta de sua própria incandescência, era também inconstante e, às vezes, se esgotava
em si mesmo.
Com os tropeços e a maturidade, o jogador aprendeu a se disciplinar taticamente e a melhorar
os fundamentos em que era falho
(notadamente o cruzamento e o
chute a gol).
Movimenta-se mais no ataque,
abrindo espaços para os companheiros, e aprendeu a servir quem
está mais bem colocado. O passe
sutil e preciso que deu a Belletti,
no segundo gol contra o Paraguai,
é a prova desse amadurecimento.
Sua luz, hoje, ilumina e aquece
todo o time.
Falei de Denílson, mas queria na verdade fazer o elogio do drible no futebol.
Existe uma falsa idéia muito
arraigada: a de que o drible é um
luxo, um ornamento supérfluo,
uma "frescura".
Penso o contrário. No futebol
cada vez mais truncado de hoje, o
drible é uma necessidade, desde
que seja entendido em seu sentido
amplo, de enganar o adversário,
pegando-o no contrapé.
Ao enganar o goleiro na cobrança de pênalti, ao olhar para
um companheiro e passar para
outro, ao correr sem bola para arrastar um marcador, o atleta está
driblando, usando força e movimento do rival contra ele mesmo.
Há quem prefira o bicão.
Olho nele
Um erro, ou até uma série de
erros, não transforma um
atleta num "grosso". Contra
o Paraguai, Eduardo Costa
errou passes, em dois deles
armou o contra-ataque rival,
mas, se eu não estiver enganado, será um grande jogador. Domina os principais
fundamentos, sabe tanto
marcar como sair jogando e
atua com desenvoltura de veterano. É o tipo do volante de
que estamos carentes no país.
Três patetas?
A questão não é saber se jogaremos com dois ou três zagueiros, mas quais serão esses zagueiros. Até agora, só
Juan tem dado conta do recado. Roque Júnior só nos deu
sustos com seu futebol peladeiro, e Cris exagerou na história de "bola para o mato,
que o jogo é de campeonato".
Gamarra, Mauro Galvão e
Frank de Boer mostram que
um passezinho certo não dói.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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