São Paulo, sábado, 21 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Denílson, ou o elogio do drible

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"A entrada de Denílson no lugar de Bebeto foi um desses instantes fulminantes que quem viveu não esquece.
Um arrepio parece ter percorrido toda a platéia que lotava o Stade de France quando o moleque ex-tricolor partiu pela esquerda, semeando o pânico na defesa escocesa.
A meu lado na tribuna de imprensa, Alberto Helena Jr., até então afundado num silêncio tenso, jogou os braços para cima e exclamou: "Esse é o futebol brasileiro!".
Carlos Heitor Cony emendou: "Por que esse menino não entrou desde o começo?" (boa pergunta, por sinal).
Ninguém tinha ido ali para, "galvãobuenamente", torcer pelo Brasil.
Mas a arrancada de Denílson foi capaz de empolgar o mais frio dos observadores.
Estava ali, talvez, naquela sequência de dribles e toques -naquela exibição de ousadia e talento, em suma-, a resposta à questão que me inquietava durante o jogo."
Publiquei o texto acima na Folha no dia 11 de junho de 1998. Com ligeiras modificações, poderia valer para a partida da última quarta-feira.
Três anos depois, Denílson segue sendo o garoto que inflama o time e a torcida ao entrar durante o jogo, mas que não conquista a vaga de titular.
Talvez Felipão esteja certo em deixá-lo no banco, guardando-o como arma mortífera a ser usada no segundo tempo.
Se Denílson começasse jogando e decepcionasse, seria todo o nosso sonho de um futebol feliz que se frustraria. Assim, temos no banco uma reserva de esperança. E de esperança também se vive.
A torcida, tensa ou entediada, fica atenta a cada movimento no banco de reservas brasileiro, na expectativa de ver o artista se preparar para o seu show. Denílson tem consciência disso e talvez até goste de não começar jogando, só para ouvir a torcida gritando seu nome a plenos pulmões.
O futebol de Denílson, desde que ele surgiu no São Paulo, ainda adolescente, sempre foi luminoso. Mas, por conta de sua própria incandescência, era também inconstante e, às vezes, se esgotava em si mesmo.
Com os tropeços e a maturidade, o jogador aprendeu a se disciplinar taticamente e a melhorar os fundamentos em que era falho (notadamente o cruzamento e o chute a gol).
Movimenta-se mais no ataque, abrindo espaços para os companheiros, e aprendeu a servir quem está mais bem colocado. O passe sutil e preciso que deu a Belletti, no segundo gol contra o Paraguai, é a prova desse amadurecimento.
Sua luz, hoje, ilumina e aquece todo o time.

Falei de Denílson, mas queria na verdade fazer o elogio do drible no futebol.
Existe uma falsa idéia muito arraigada: a de que o drible é um luxo, um ornamento supérfluo, uma "frescura".
Penso o contrário. No futebol cada vez mais truncado de hoje, o drible é uma necessidade, desde que seja entendido em seu sentido amplo, de enganar o adversário, pegando-o no contrapé.
Ao enganar o goleiro na cobrança de pênalti, ao olhar para um companheiro e passar para outro, ao correr sem bola para arrastar um marcador, o atleta está driblando, usando força e movimento do rival contra ele mesmo.
Há quem prefira o bicão.

Olho nele
Um erro, ou até uma série de erros, não transforma um atleta num "grosso". Contra o Paraguai, Eduardo Costa errou passes, em dois deles armou o contra-ataque rival, mas, se eu não estiver enganado, será um grande jogador. Domina os principais fundamentos, sabe tanto marcar como sair jogando e atua com desenvoltura de veterano. É o tipo do volante de que estamos carentes no país.

Três patetas?
A questão não é saber se jogaremos com dois ou três zagueiros, mas quais serão esses zagueiros. Até agora, só Juan tem dado conta do recado. Roque Júnior só nos deu sustos com seu futebol peladeiro, e Cris exagerou na história de "bola para o mato, que o jogo é de campeonato". Gamarra, Mauro Galvão e Frank de Boer mostram que um passezinho certo não dói.

E-mail: jgcouto@uol.com.br



Texto Anterior: Atletismo: Joaquim Cruz diz a sucessor nos 1.500 m que marca ainda é fraca
Próximo Texto: Panorâmica - Automobilismo: Kenny Brack é o mais rápido em Michigan
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.