|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A vila como ela é
Reportagem da Folha passa cinco horas na casa dos atletas no Pan do Rio e descobre craques da pista de dança, flagra cantadas e ganha
mosca no jantar
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Os cubanos lotam a pequena
sala de internet gratuita, vibram diante da TV com a vitória das compatriotas contra as
brasileiras no vôlei e um casal
de atletas namora escondido na
área de serviço de um dos apartamentos. Os haitianos se divertem na piscina e flertam
com as brasileiras. Os voluntários tietam e tiram fotos de tudo. Boas dançarinas, as jamaicanas dão show na pista e animam a badalada boate.
Estas são apenas algumas das
cenas presenciadas pela reportagem da Folha nas cinco horas em que esteve na Vila Pan-Americana, anteontem.
Construído para abrigar os
cerca de 5.500 atletas que disputam os Jogos, o condomínio
de 17 prédios é o local mais reservado do Pan. Centenas de
homens da Força Nacional tomam conta dos edifícios, e somente poucos credenciados
têm acesso aos atletas.
Apesar do frio e do pouco sol
que fazia no dia da visita, cubanos e haitianos se divertiam à
beira da piscina. "Isto aqui é
fantástico. O melhor lugar que
já fui", afirmou Wiselet Saint
Louis, 17, jogador de futebol do
Haiti, pouco antes de mostrar
suas habilidades em outro esporte: os saltos ornamentais.
"Desculpe, mas vou dar um
grito. Meninas!!! Vamos tomar
banho juntos?", bradou, em um
inglês macarrônico, para duas
voluntárias brasileiras.
Além de Louis, os outros sete
jogadores da seleção também
rasgavam elogios para a Vila.
"Estou realizando um sonho.
Sempre adorei o Brasil. Apesar
de ser difícil comprar alguma
coisa por aqui, vou guardar por
toda a minha vida o carinho de
todos", disse o zagueiro Widner Saint Cyr, que mora com a
avó em Porto Príncipe. Os pais
dele morreram de malária.
Mas, apesar da alegria dos
haitianos, são os prédios da delegação de Cuba os mais festivos. A vitória da seleção de vôlei aumentou a empolgação.
A sala de internet, que tem
dez computadores, é a mais desejada pelos atletas. O local só
fecha às 23h. Mesmo assim, os
organizadores têm dificuldades para tirá-los de lá.
A portaria é animada. Um rádio toca sucessos da música cubana. Vários atletas desfilam
com celulares, que também tocam músicas, a maioria dançante. Política é assunto tabu.
Mesmo assim, a propaganda
pró-regime está espalhada pelos corredores. Cartazes contam detalhes sobre "a revolução no esporte" iniciada por Fidel Castro. Trechos do discurso
do ditador, feitos dos esportistas e detalhes da estrutura esportiva do país estão por toda
parte. Uma das frases em destaque é de um pronunciamento
de Castro de 1963.
Nele, define a base
de seu modelo esportivo: "Na revolução no esporte, não
se pode conceber
um bom atleta que
não seja um bom estudante. Não se pode conceber um
campeão que não seja bom estudante".
Os jamaicanos
também fazem parte
dos festeiros. O som
de reggae pode ser
ouvido nas proximidades do
prédio ocupado por eles.
Mas um dos lugares de maior
interação dos atletas é no enorme restaurante da Vila, comandado pelo chef Luiz Incao, do
Copacabana Palace. No dia da
visita, porém, uma convidada
inesperada surgiu no jantar.
A salada oferecida tinha uma
mosca. "Só posso pedir desculpa. Mas queria deixar claro que
isso nunca aconteceu", disse
uma funcionária, que rapidamente tratou de tirar o prato.
A visita não estaria completa
sem um pulo na boate. Naquela
noite, as jogadoras de futebol
jamaicanas roubaram a cena
com suas coreografias. "Temos
que nos distrair um pouco, e
aqui é o nosso local preferido.
O Rio é ótimo", resumiu uma
delas, que escondeu a credencial para não ser identificada.
Texto Anterior: Vôlei: Dante e Rodrigão chegam com atraso Próximo Texto: Tom Phillips: Apesar dos pesares
Índice
|