São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2007

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Rio promete verba para Mundial e não cumpre

Para CBJ, orçamento enterra sonho do maior torneio de judô da história

Prefeito declara seguir o pactuado e até entenderia se o evento fosse para Belo Horizonte, que fez proposta mais vantajosa em janeiro

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Daniel Hernandes tenta aplicar golpe em Leandro Roim (de azul) em treino, ontem, no Pinheiros


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A menos de um mês da abertura do Campeonato Mundial de judô, no Rio, a organização foi surpreendida por um orçamento R$ 3 milhões menor que o esperado e agora já diz ser impossível realizar a competição que vinha sendo prometida.
Com 780 judocas de 129 países confirmados na última parcial de inscrições para o evento, o Mundial do Rio tem sido divulgado pela organização como "o maior de todos os tempos".
Mas os próprios dirigentes reconhecem que a meta ficou muito ambiciosa em razão de a Prefeitura do Rio ter liberado para o evento R$ 5 milhões, e não os R$ 8 milhões que eram esperados pelos organizadores.
"Se não chegarmos a esse valor [R$ 8 milhões], com certeza não vamos conseguir realizar aquela meta do melhor Mundial da história", diz Maurício Santos, diretor-executivo do comitê organizador.
Ainda durante o Pan, o prefeito do Rio, Cesar Maia, assinou um termo no qual o município se comprometia a arcar com R$ 5 milhões, com a possibilidade de complementar a verba em mais R$ 3 milhões, caso a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) não conseguisse outros investidores.
A assinatura da garantia foi inclusive divulgada em nota dos organizadores do Pan, que destacou o Mundial como "o primeiro legado dos Jogos".
Ontem, por e-mail, Maia confirmou ter liberado R$ 5 milhões e diz que o compromisso está sendo cumprido exatamente como foi assinado.
Já Santos conta que ficou sabendo que não teria os R$ 8 milhões só na semana passada e que isso o obrigou a conduzir severos cortes de gastos, até em aspectos exigidos pelo caderno de encargos. "É apertar o cinto e cortar com tudo o que não for estritamente necessário", alega o dirigente, que descarta assumir dívidas para realizar tudo o que foi prometido.
"Vamos adequar o Mundial ao orçamento, e não o orçamento ao Mundial", explica ele, que não esconde: "Vários itens que deveriam estar sendo contemplados não estão sendo".
O corte de custos começou por minimizar gastos com a produção do evento na Arena Multiuso, acompanhado de um drástico encolhimento nas despesas com hospedagens e passagens aéreas.
Nem mesmo a promessa de bancar dois bilhetes de ida e volta por delegação participante do evento -benesse inédita, à qual a Federação Internacional de Judô inclusive agradeceu formalmente em seu site oficial- está 100% assegurada.
Segundo o diretor-executivo do comitê organizador do Mundial, as condições hoje oferecidas pelo Rio são piores que a promessa feita, no início do ano, por Belo Horizonte para tentar realizar o evento.
"A proposta de BH era atender todo o caderno de encargos", lembra Santos, ponderando que a verba do convênio com o Rio "não é plenamente suficiente para atender as demandas do caderno".
Maia se diz surpreso com as queixas. "[A organização do Mundial] nunca me disse nada disso. São as pressões de sempre. A prefeitura não pode ir além do comprometido", escreveu o prefeito do Rio, que até admite, agora, perder o evento para a capital mineira.
"Entendo se ele quiser transferir o evento para Belo Horizonte com valores muito maiores. Lamentaria, mas compreenderia", conclui Maia.
Enquanto isso, além de refazer as contas e procurar despesas supérfluas do evento agendado de 13 a 16 de setembro para cortar, Santos critica a situação, com vistas a planos ambiciosos do município, como receber a Olimpíada de 2016.
"O Rio de Janeiro hoje pleiteia candidatura olímpica e de outros eventos internacionais de porte. Não poderia ficar exposto dessa maneira", aponta o dirigente, que ainda tem esperança de fechar algum investimento privado. "Há uma prospecção adiantada no mercado, mas, a 23 dias do Mundial, não é possível contar com esse recurso antes de termos certeza de que ele estará disponível."


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