São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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ATLETISMO

Bolt corre para não se "afogar" em 200 metros

Advesário diz que jamaicano "é brutal, faz tudo parecer simples"

Por terem pisado além do limite das raias, antilhano e americano perdem a prata e o bronze; confusão adia premiação para hoje


DO ENVIADO A PEQUIM

A passagem de Usain Bolt, que completa hoje 22 anos, foi tão fulminante pela raia cinco do estádio Ninho de Pássaro que atordoou seus adversários.
"É ridículo. Ele faz tudo parecer simples. É brutal. Brutal como um chute na bunda", falou Kim Collins, de São Cristóvão e Névis, ex-campeão mundial dos 100 m e finalista ontem.
"Pareceu fácil? Não, não foi. Senti como se estivesse me afogando e gritasse para mim mesmo: "Não morra, não morra". Não foi fácil. Dei tudo de mim na pista", rebateu o jamaicano, dono de um físico incomum para velocista: 1,96 m e 86 kg.
Independentemente do grau de dificuldade, o fato é que a velocidade de Bolt desconcertou os rivais. Dois deles foram desclassificados pouco depois de festejarem uma medalha olímpica na corrida histórica.
Wallace Spearmon chegou a se enrolar em uma bandeira dos EUA após chegar em terceiro e agradecer o apoio da torcida. Mas perdeu o bronze. "Realmente, dei três passos fora da raia", admitiu ele.
A eliminação de seu corredor gerou controvérsia na equipe. A Usaf (Federação de Atletismo dos EUA), encaminhou um protesto, pedindo revisão.
O pedido americano não valeu nada mais do que atrasar a cerimônia de entrega de medalhas, que estava prevista para ontem, mas, diante das circunstâncias, teve que ser postergada para hoje, às 8h38.
Menos de 20 minutos após formalizar a queixa, os EUA retiraram o pedido. No entanto, entraram mais uma vez no tapetão, dessa vez requerendo a anulação do resultado de Churandy Martina, que cruzara na segunda posição. Depois de reverem o teipe, os cartolas dos EUA acusaram o atleta das Antilhas Holandesas de ter cometido a mesma irregularidade.
Alheio ao problema, Martina até já dera entrevistas destacando o feito histórico para seu pequeno país. Era a primeira medalha antilhana no atletismo e a volta da ilha ao pódio olímpico depois de 20 anos.
"Não quis me preocupar com o Bolt, que fez um tempo incrível. Foquei apenas na minha corrida", declarou Martina, evitando falar do protesto americano. "Isso não me preocupa. Não fiz nada de errado."
Próximo dali, outro norte-americano, Shawn Crawford, falava sobre o terceiro posto. "Levarei esse bronze para casa. Ele é meu. Mas sempre lembrarei que terminei em quarto e alguém foi desclassificado."
Já eram 0h18 em Pequim quando finalmente saiu a decisão. Martina fora excluído.
"Isso não é espírito olímpico. Como um país tão grande como os EUA pôde fazer isso conosco?", lamentava Omayra Leflang, ministro do Esporte das Antilhas Holandesas.
O pódio da mais alucinante prova de 200 m da história olímpica havia sido modificado pela terceira vez em menos de duas horas. Agora com Crawford como vice-campeão e Walter Dix, mais um norte-americano, na terceira posição. O único lugar que permanecera inalterado era o do campeão.
A melhor definição da noite perturbadora veio de Stephen Francis, o badalado treinador de Asafa Powell, cujo recorde dos 100 m fora superado por Bolt em maio, em Nova York.
"Há pessoas que são exceções. Você tem o Einstein, o Issac Newton, o Beethoven. Você tem o Usain. Não há explicação para o que ele faz", comparou.
(ADALBERTO LEISTER FILHO)

8 ATLETAS
apenas tinham conquistado os 100 m e os 200 m numa edição dos Jogos. O primeiro foi Archie Hahn (EUA), em Saint Louis-04. Depois, ele viu compatriotas repetirem o feito: Ralph Craig (Estocolmo-12), Eddie Tolan (Los Angeles-32), Jesse Owens (Berlim-36) e Bobby Morrow (Melbourne-56). A façanha também foi alcançada pelo canandense Percy Williams (Amsterdã-28). O único europeu a obter o duplo triunfo foi o ucraniano Valeriy Borzov (Munique-72), pela ex-URSS. O último a atingir o feito antes de Bolt havia sido o americano Carl Lewis, em Los Angeles-84, que acabou esvaziada por causa de boicotes.


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