São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Zumbi 2005

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

O Campeonato Brasileiro morreu. Ainda vai empolgar, mais embaixo do que em cima da tabela, mas morreu. Filmes com mortos-vivos mobilizam os fãs do terror. Será assim, de vez em quando, com o campeonato zumbi.
Edilson Carvalho é o culpado número 1. Restringir as causas do óbito ao juiz ladrão implica, no entanto, contribuir para que a história se repita. A CBF o acolheu e o promoveu à Fifa. Tem responsabilidades evidentes.
Com a reedição da maioria dos 11 jogos anulados, ficou mais clara a conseqüência da decisão do STJD. O Figueirense enfiou 4 a 1 no Juventude na partida original. As provas colhidas indicam que Edilson ajudou o derrotado, não o vitorioso. Agora, deu 2 a 2.
É legítima a competição em que um time perde pontos que foram conquistados de modo limpo? E se a equipe catarinense cair? O ponto que o Juventude recuperou pode ser decisivo. Se deletar um triunfo obtido em campo não for virar a mesa, não sei o que é.
Pobre do Santos, que viu o seu passeio sobre o Corinthians se transformar em 2 a 3. Os jornais contam os esforços santistas para comprovar que Edilson não interferiu nos 4 a 2. Deveria ser o contrário: as provas são necessárias para anular. E elas falam de intenções do apitador contra o Peixe, não a favor.
Anuncia-se o julgamento de Giovanni e demais envolvidos na confusão da semana passada. Carimbar o craque pacato como vilão é recurso cômodo para evitar a pergunta elementar: o que ele e os outros faziam na Vila?
Giovanni errou com seu chutão, o árbitro errou (mais contra o visitante), os corintianos erraram com a farra em hora imprópria. São pecados menores, se comparados à anulação do primeiro jogo. É mais fácil avacalhar Giovanni do que encarar antagonistas mais parrudos.
Sem a anulação de Ponte 1 x 0 São Paulo, não haveria torcedores em busca de ingressos para o novo jogo, e o ponte-pretano Anderson não seria assassinado, aos 26 anos, com pedaços de pau e ferro. É correto afirmar que o STJD não tem culpa. Bem como é óbvio constatar que, se mantido o primeiro placar, ninguém teria ido ao Moisés Lucarelli.
Será que, mesmo depois da morte em Campinas, a remarcação por atacado ainda é considerada opção melhor que a anulação exclusiva das partidas com indícios de armação? A melhor solução sempre será fazer justiça onde houve injustiça e manter a justiça onde ela foi feita.
É injusto tratar como iguais jogos que não foram. Se dois bancos são assaltados na mesma rua, quem participou de um assalto não pode ser condenado também pelo outro, se com este nada teve a ver. Também não pode ser punido por roubo inexistente.
As mortes a bala do palmeirense Diogo, 23, e do corintiano Wellington, 25, são de autoria de bandidos. Ocorrem no momento em que a tensão que inflama os estádios é exacerbada por medidas tomadas fora deles. O Zumbi 2005 não deixará saudade.

Cinco toques
1) A transformação da derrota original em vitória sobre o Cruzeiro pode ser decisiva para o Paysandu. O novo resultado prejudica outros clubes. 2) A diretoria do Inter mostra a combatividade que falta ao comando do Santos. Marcelo Teixeira é bom de papo e ruim de fato, como se observou no episódio Robinho. 3) O STJD ganha em independência com Luiz Zveiter como presidente, em vez do vice, que é consogro de Ricardo Teixeira. 4) Heber Lopes: só a apuração poderá dizer se os seus tropeços são voluntários ou não. Como escrito aqui há três semanas, Lopes é exemplo da tolerância da CBF com a má arbitragem. 5) Será que nenhum clube terá peito de lançar mão do recurso legal e legítimo de ir à Justiça comum?


E-mail: mario.magalhaes@uol.com.br

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