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FUTEBOL
Zumbi 2005
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
O Campeonato Brasileiro
morreu. Ainda vai empolgar, mais embaixo do que em cima da tabela, mas morreu. Filmes com mortos-vivos mobilizam
os fãs do terror. Será assim, de vez
em quando, com o campeonato
zumbi.
Edilson Carvalho é o culpado
número 1. Restringir as causas do
óbito ao juiz ladrão implica, no
entanto, contribuir para que a
história se repita. A CBF o acolheu e o promoveu à Fifa. Tem
responsabilidades evidentes.
Com a reedição da maioria dos
11 jogos anulados, ficou mais clara a conseqüência da decisão do
STJD. O Figueirense enfiou 4 a 1
no Juventude na partida original.
As provas colhidas indicam que
Edilson ajudou o derrotado, não
o vitorioso. Agora, deu 2 a 2.
É legítima a competição em que
um time perde pontos que foram
conquistados de modo limpo? E se
a equipe catarinense cair? O ponto que o Juventude recuperou pode ser decisivo. Se deletar um
triunfo obtido em campo não for
virar a mesa, não sei o que é.
Pobre do Santos, que viu o seu
passeio sobre o Corinthians se
transformar em 2 a 3. Os jornais
contam os esforços santistas para
comprovar que Edilson não interferiu nos 4 a 2. Deveria ser o contrário: as provas são necessárias
para anular. E elas falam de intenções do apitador contra o Peixe, não a favor.
Anuncia-se o julgamento de
Giovanni e demais envolvidos na
confusão da semana passada. Carimbar o craque pacato como vilão é recurso cômodo para evitar
a pergunta elementar: o que ele e
os outros faziam na Vila?
Giovanni errou com seu chutão,
o árbitro errou (mais contra o visitante), os corintianos erraram
com a farra em hora imprópria.
São pecados menores, se comparados à anulação do primeiro jogo. É mais fácil avacalhar Giovanni do que encarar antagonistas mais parrudos.
Sem a anulação de Ponte 1 x 0
São Paulo, não haveria torcedores em busca de ingressos para o
novo jogo, e o ponte-pretano Anderson não seria assassinado, aos
26 anos, com pedaços de pau e
ferro. É correto afirmar que o
STJD não tem culpa. Bem como é
óbvio constatar que, se mantido o
primeiro placar, ninguém teria
ido ao Moisés Lucarelli.
Será que, mesmo depois da
morte em Campinas, a remarcação por atacado ainda é considerada opção melhor que a anulação exclusiva das partidas com
indícios de armação? A melhor
solução sempre será fazer justiça
onde houve injustiça e manter a
justiça onde ela foi feita.
É injusto tratar como iguais jogos que não foram. Se dois bancos
são assaltados na mesma rua,
quem participou de um assalto
não pode ser condenado também
pelo outro, se com este nada teve
a ver. Também não pode ser punido por roubo inexistente.
As mortes a bala do palmeirense Diogo, 23, e do corintiano Wellington, 25, são de autoria de bandidos. Ocorrem no momento em
que a tensão que inflama os estádios é exacerbada por medidas
tomadas fora deles. O Zumbi
2005 não deixará saudade.
Cinco toques
1) A transformação da derrota
original em vitória sobre o Cruzeiro pode ser decisiva para o
Paysandu. O novo resultado
prejudica outros clubes. 2) A
diretoria do Inter mostra a
combatividade que falta ao comando do Santos. Marcelo Teixeira é bom de papo e ruim de
fato, como se observou no episódio Robinho. 3) O STJD ganha em independência com
Luiz Zveiter como presidente,
em vez do vice, que é consogro
de Ricardo Teixeira. 4) Heber
Lopes: só a apuração poderá dizer se os seus tropeços são voluntários ou não. Como escrito
aqui há três semanas, Lopes é
exemplo da tolerância da CBF
com a má arbitragem. 5) Será
que nenhum clube terá peito de
lançar mão do recurso legal e
legítimo de ir à Justiça comum?
E-mail: mario.magalhaes@uol.com.br
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