São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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MOTOR

Éramos 12

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Éramos 12 os brasileiros naquele março de 2000 na sala de imprensa do Albert Park, em Melbourne. A missão, cobrir a estréia de Barrichello pela Ferrari.
Sim, aquele mesmo piloto que já era piada do Casseta, que não segurara a onda da morte de Senna, que sofrera anos sendo atacado nas conversas de botequim e nas mesas-redondas dominicais.
Mas naquele momento as circunstâncias passaram uma borracha em tudo. Era como se o Barrichello de vermelho fosse outro homem, diferente do personagem burlesco que vestira macacões azuis, dourados e brancos.
Por razões logísticas, 12 dos 11 viajamos do Brasil à Austrália seguindo a mesma rota, nos mesmos vôos. E a camaradagem, naquele GP, ficou no jumbão da Aerolíneas. A competição por informações exclusivas era ferrenha e já na quarta-feira, no paddock, dois colegas quase se estapearam pelo direito de ouvir o piloto.
Fast forward. Três meses depois, já éramos apenas oito os jornalistas em Hockenheim. E Barrichello conseguiu a primeira vitória brasileira na F-1 em quase sete anos.
Foi uma loucura inesquecível. Pecado capital para os padrões da FIA, interceptamos o vencedor e colhemos suas primeiras palavras antes mesmo da entrevista coletiva oficial, o que nos rendeu uma bela reprimenda. Páginas e páginas de jornal para preencher, deixamos o circuito na madrugada.
Reflexo de nova insuflação dos ânimos no país, na corrida seguinte, duas semanas depois, o grupo voltou a crescer. Fiz as contas: éramos dez em Budapeste.
Fast forward, agora mais prolongado. Éramos quatro os jornalistas brasileiros em Xangai, na semana passada, representando três veículos de comunicação.
Aguardamos Barrichello por uma hora após sua última corrida pela Ferrari. Não havia fila, confusão ou empurra-empurra. E valia mais pelo registro histórico. Porque, sinceramente, não tínhamos muito de novo a perguntar.
Bahrein, março do ano que vem, debute ferrarista de Massa. Sem medo de errar, seremos cinco, no máximo seis. Sete, jamais.
Mas, sim, voltaremos a ser 12, ou até mais que isso, caso o rapaz faça algo interessante. Porque se os anos Barrichello deixaram uma lição, foi a de que o país hoje prescinde de figuras hercúleas, discursos engajados ou atitudes politicamente corretas para elevar alguém à condição de ídolo.
Não foi sempre assim. Em tempos mais gloriosos, foram esses fatores o fiel da balança. Foram visões divinas, bom-mocismo e brigas políticas maniqueístas (bem x mal, bem x Prost, bem x Balestre) que transformaram Senna em mito e Piquet em anti-herói, independentemente de o segundo muitas vezes superar o primeiro.
Antes, Emerson enfrentou a desconfiança dos pioneiros e, no contexto dos anos 70, enfrentou um encardido duelo por espaço com Pelé, Tostão, Rivelino e cia.
Agora não. Há espaço na mídia, os corações andam vazios, o mercado vibra com cada novidade.
Basta um resultado. Ou menos: basta a expectativa de conseguir algum resultado para todos, da torcida à mídia, se empolgarem.
Somos todos, todos, volúveis.

Novato
O anúncio da contratação de Rosberg é só questão de tempo. Em Xangai, gente da Williams já dava os parabéns ao alemão. Pizzonia agora, como Zonta anos atrás, não pode reclamar de falta de chance.

Veteranos
Mansell, Emerson, Pattrese, De Cesaris, Johannson e Danner foram anunciados para os testes da GP Masters, quarta, em Silverstone. A primeira prova, talvez com Prost, será no mês que vem, em Kyalami.

Meia-vida
A Newman-Haas descartou um terceiro carro, e Junqueira não correrá as últimas etapas da Champ Car. Depois de passar cinco meses cuidando da coluna, é bom o mineiro começar a cuidar do emprego.


E-mail: fseixas@folhasp.com.br

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