São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Em SP, Schumacher é só vestígios

Um ano após sua aposentadoria, F-1 vive disputa acirrada e marcas do heptacampeão são raridades

Reservado e protegido, alemão é personagem de poucos causos em São Paulo, onde foi campeão de quatro GPs em Interlagos

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

GP Brasil de 2006. Felipe Massa vence em casa, Fernando Alonso é bi. Quem rouba a cena, porém, é um alemão, que, após cair para último, chega perto do pódio. Prova memorável, que ofusca os astros do dia.
Em sua despedida, Michael Schumacher mais uma vez provou por que é o maior vencedor da história da F-1. Mais uma vez deixou sua marca.
O cenário que viu seu adeus, porém, hoje parece ter apagado seus vestígios. Após uma temporada de acirradas disputas e polêmicas, a F-1 descobriu que pode viver sem Schumacher. E São Paulo deixou para trás o homem que ergueu quatro vezes o troféu em Interlagos.
Ontem, com a chegada da torcida, Schumacher esteve mais presente. Nas arquibancadas, faixas com dizeres como "Nunca iremos te esquecer" e "Schumi para sempre", em inglês, surgiam tímidas. As lembranças do heptacampeão na cidade são claras; as marcas, porém, pouco nítidas.
No hotel em que sempre ocupou a suíte 843, apenas a terceira mais luxuosa, o heptacampeão mundial é hoje um autógrafo no livro de recordações.
Além do risoto de tomate, seu prato favorito, que foi mantido no cardápio mesmo após mudanças no restaurante.
Ao contrário do irmão, Ralf, Michael não pedia segurança nem rotas especiais para fugir dos fãs. Reservado, garantia intimidade com passos rápidos e sua aura de "intocável". Deixava pouco espaço para o contato.
"Ele gostava de jogar tênis e todos os dias fazia musculação. Só isso", diz Charles Giudici, gerente do Transamérica.
O hóspede querido, porém, já criou problemas. Em 1996, sua mulher, Corina, encontrou uma cadela no autódromo e a carregou para o hotel. Detalhe: lá, animais são proibidos.
"Chamamos o veterinário e abrimos exceção. Afinal, era o Schumacher. Mas, depois, vários hóspedes cobraram a mesma regalia", afirma Giudici.
O causo é o único que o alemão deixou por lá. Autógrafos e fotos são artigos raros. Funcionários que os têm não revelam. São orientados a não incomodar os hóspedes. Regiane Guilherme só ganhou seu troféu no autódromo, quando estava "à paisana". "Um funcionário da Ferrari pegou o autógrafo", diz.
Nelson Bueno teve mais sorte. O professor de kart trabalha em Interlagos há 17 anos e sempre esteve nos GPs. Em 2006, cruzou o caminho do heptacampeão e decidiu arriscar -já ouvira um não de Felipe Massa.
"Não acreditei. Ele tirou a foto, sorriu e foi embora. Só conheço um segurança que tem foto dele também, mas não está trabalhando neste ano", conta.
Caio Davidoff guarda sua relíquia na garagem. Em 2003, levou uma scooter ao autódromo para ajudar o tio, que trabalhava no GP. Certa hora, percebeu um funcionário da Ferrari tentando "roubar" sua moto.
"Ele me disse que o Schumacher queria dar uma volta na pista. Eu emprestei, e ele pagou com autógrafo. Guardo a moto até hoje, mas, se algum torcedor fanático quiser comprar...".
Os sócios do Clube Atlético Indiano, perto da represa Guarapiranga, ressentem-se da falta de troféus mais imponentes. O registro das passagens do alemão é só uma pequena foto.
Nos últimos três anos, na quinta-feira antes do GP, Schumacher e a equipe da Ferrari faziam jogos de futebol ""secretos" regados a caipirinha e churrasco. Exigiam que a pelada não fosse filmada nem fotografada. Mas os sócios viam o bate-bola e até ganhavam algumas camisas e chuteiras.
Na última quinta-feira, o telefone do clube não parou de tocar, e o campo foi tomado por crianças. Mas não teve futebol.

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