São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Irrelevante", cor da pele ainda é tabu

DA REPORTAGEM LOCAL

Prestes a fazer história na F-1, o inglês Lewis Hamilton encerra hoje em São Paulo sua primeira temporada na categoria cercado por um tabu: a cor de sua pele.
A McLaren proíbe perguntas sobre o assunto. A imprensa inglesa não cita o fato de a maior revelação do automobilismo do país desde Nigel Mansell poder se tornar o primeiro negro a ser campeão de F-1.
Após o jornal espanhol "El Publico" publicar uma entrevista com Carlos Gracia, presidente da federação espanhola de automobilismo, carregada de comentários racistas, surgiu a questão: o fato de o tema não ser tratado abertamente é racismo?
"É compreensível que eles [ingleses] queiram aproveitar ao máximo. Mas, por serem tão racistas na Inglaterra, confiar num piloto de cor...", teria dito Gracia, que afirma ter sido mal interpretado.
Para os jornalistas ingleses que estão em Interlagos, a razão de não abordarem o tema é simples: ele não é mais relevante.
"No começo da temporada, ainda era importante ressaltar que ele estava fazendo história", justifica Edward Gorman, do "Times". "Mas rapidamente isso passou a não importar. Os ingleses o vêem como um piloto inglês, não como um piloto negro."
Apesar de apenas 2% da população do Reino Unido ser de afro-descendentes, a maioria afirma que não se trata de um país racista.
"O povo na rua não é racista. Nossas instituições são", afirma Kevin Garside, do "Telegraph". "Não há negros no alto escalão do governo nem em postos importantes nas indústrias. Mas, no esporte, isso já não é novidade. Novidade foi nos anos 70, quando Viv Anderson tornou-se o primeiro jogador de futebol negro na Inglaterra", explica Garside.
Repórter do "Independent", David Tremayne completa a explicação.
"Deveria ser uma grande coisa, mas não é. No ano passado, quando ele ainda estava na GP2, talvez fosse. Mas agora todo mundo já ultrapassou isso", afirma o repórter. "Não importa o que há embaixo do capacete se você é rápido."
Bob McKenzie, do "Daily Express", usa o GP da Inglaterra, em Silverstone, para exemplificar.
"As pessoas estavam enlouquecidas. A torcida era maciça para ele, algo como ocorria na época do Mansell. Mas ninguém se importava se ele era branco ou negro", diz. "A verdade é que ele é de origem tão misturada que podia ser de qualquer país."
Filho de pai negro e mãe branca, desde pequeno Hamilton foi criado em um ambiente onde a cor da pele nunca foi relevante. Por parte de pai tem um irmão, negro. Por parte de mãe, duas irmãs, brancas. Por isso, sempre fez questão de tratar o assunto com naturalidade.
"Isso é uma questão para a imprensa", afirmou em entrevista ao "Independent" no ano passado. "Não me vejo como um pioneiro. Eu me sinto normal a não ser pelo fato de ter confiança naquilo que posso fazer", afirmou.
"Se é alguma coisa, minha cor é um fator positivo, e espero, no futuro, que ela abra portas para outras culturas. A F-1 não precisa ser um esporte dominado por brancos, pode ser aberta a todos nós."
Hoje, a partir das 14h, Hamilton pode dar o passo que faltava. (FSX E TC)

Texto Anterior: Interlagos revê hoje 5 pilotos da foto
Próximo Texto: Controle de tração se despede hoje da F-1
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.