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"Irrelevante", cor da pele ainda é tabu
DA REPORTAGEM LOCAL
Prestes a fazer história
na F-1, o inglês Lewis
Hamilton encerra hoje em
São Paulo sua primeira
temporada na categoria
cercado por um tabu: a cor
de sua pele.
A McLaren proíbe perguntas sobre o assunto. A
imprensa inglesa não cita
o fato de a maior revelação
do automobilismo do país
desde Nigel Mansell poder
se tornar o primeiro negro
a ser campeão de F-1.
Após o jornal espanhol
"El Publico" publicar uma
entrevista com Carlos
Gracia, presidente da federação espanhola de automobilismo, carregada de
comentários racistas, surgiu a questão: o fato de o
tema não ser tratado abertamente é racismo?
"É compreensível que
eles [ingleses] queiram
aproveitar ao máximo.
Mas, por serem tão racistas na Inglaterra, confiar
num piloto de cor...", teria
dito Gracia, que afirma ter
sido mal interpretado.
Para os jornalistas ingleses que estão em Interlagos, a razão de não abordarem o tema é simples: ele
não é mais relevante.
"No começo da temporada, ainda era importante
ressaltar que ele estava fazendo história", justifica
Edward Gorman, do "Times". "Mas rapidamente
isso passou a não importar. Os ingleses o vêem como um piloto inglês, não
como um piloto negro."
Apesar de apenas 2% da
população do Reino Unido
ser de afro-descendentes,
a maioria afirma que não
se trata de um país racista.
"O povo na rua não é racista. Nossas instituições
são", afirma Kevin Garside, do "Telegraph". "Não
há negros no alto escalão
do governo nem em postos
importantes nas indústrias. Mas, no esporte, isso
já não é novidade. Novidade foi nos anos 70, quando
Viv Anderson tornou-se o
primeiro jogador de futebol negro na Inglaterra",
explica Garside.
Repórter do "Independent", David Tremayne
completa a explicação.
"Deveria ser uma grande coisa, mas não é. No ano
passado, quando ele ainda
estava na GP2, talvez fosse. Mas agora todo mundo
já ultrapassou isso", afirma o repórter. "Não importa o que há embaixo do
capacete se você é rápido."
Bob McKenzie, do
"Daily Express", usa o GP
da Inglaterra, em Silverstone, para exemplificar.
"As pessoas estavam
enlouquecidas. A torcida
era maciça para ele, algo
como ocorria na época do
Mansell. Mas ninguém se
importava se ele era branco ou negro", diz. "A verdade é que ele é de origem
tão misturada que podia
ser de qualquer país."
Filho de pai negro e mãe
branca, desde pequeno
Hamilton foi criado em
um ambiente onde a cor
da pele nunca foi relevante. Por parte de pai tem um
irmão, negro. Por parte de
mãe, duas irmãs, brancas.
Por isso, sempre fez questão de tratar o assunto
com naturalidade.
"Isso é uma questão para a imprensa", afirmou
em entrevista ao "Independent" no ano passado.
"Não me vejo como um
pioneiro. Eu me sinto normal a não ser pelo fato de
ter confiança naquilo que
posso fazer", afirmou.
"Se é alguma coisa, minha cor é um fator positivo, e espero, no futuro, que
ela abra portas para outras
culturas. A F-1 não precisa
ser um esporte dominado
por brancos, pode ser
aberta a todos nós."
Hoje, a partir das 14h,
Hamilton pode dar o passo
que faltava. (FSX E TC)
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