São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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FUTEBOL

RODRIGO BUENO - rodrigo.bueno@grupofolha.com.br

Onde acaba a realidade e onde começa o mito

O MENINO queria sair de casa, mas a mãe não deixava, tinha que estudar.
Os amiguinhos brincavam de fazer um esconderijo, e ele não podia ir. O buraco deu um trabalho danado, pois ficava num barranco. Muito tempo escavando e, quando enfim o esconderijo ficou pronto, chegou a hora de fazer a lição. A chuva já tinha passado, mas o castigo em casa continuava. Foi a salvação. A chuva derrubou o barranco quando um dos coleguinhas estava dentro. Ele conheceu a morte.
Algum tempo depois, o menino voltava a brincar.
Mesmo sem saber nadar, aventurou-se com os colegas num mergulho. O amigo mais velho da turma o convenceu a atravessar o rio. Era só agarrar nele e bater as pernas. Os dois chegariam juntos à outra margem sem problema. Mas as mãos do menino escorregaram. Ele afundou, bebeu muita água e lutava para se segurar no companheiro, que não conseguia mais nadar e era puxado para baixo.
Um homem desconhecido foi o salvador desta vez. Ele ouviu os gritos de socorro da turma toda e estendeu uma vara para tirar o menino e o seu colega da água.
Como seria o futebol se o seu maior mito não tivesse existido ou se encontrasse um outro destino na vida? Quantos meninos que não tiveram sorte seriam tão geniais quanto ele com a bola?
Os 60 e tantos anos que se seguiram são muito conhecidos. Mais de uma geração pôde ver a consagração daquele menino. Mais de uma geração o viu virar homem. E já tem mais de uma geração que não o viu fazer nem seu último jogo, em 1990, quando completou 50 anos no San Siro num amistoso com várias estrelas.
Como um menino, ele ainda gostava de bola. Como um homem, levou a coisa a sério, aqueceu-se, alongou-se, correu, tocou, driblou e chutou como se fosse uma decisão, como se tivesse um pênalti no Maracanã para marcar seu milésimo gol.
O menino que virou homem já virou um senhor. O jogo dos 70 anos não foi nada real, é um vídeo sobre um mito. Só que esse mito é real.

REALIDADE
Pelé, aos 50, joga para uma geração que não o tinha visto em campo: http://is.gd/gabW8

MITO
Pelé, aos 70, joga para uma geração que não o viu nem em 90: http://is.gd/gac62


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