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Morumbi "esquece" torcedores
Para atender à Fifa, reforma prioriza conforto de VIPs, imprensa e atletas em detrimento do público
Especialistas listam pontos de visão ruins na arena, escassez de estacionamento e distância excessiva entre o campo e a arquibancada
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O São Paulo já começou a se
mobilizar para fazer do Morumbi o palco da abertura da
Copa de 2014. Para o jogo de
hoje entre Brasil e Uruguai, investiu R$ 300 mil em pequenas
reformas no setor VIP e na estrutura utilizada pelos jogadores. Tudo isso na tentativa de se
adequar às exigências da Fifa.
Entretanto o público que pagou
entre R$ 30 e R$ 150 para ver a
seleção brasileira de perto não
irá usufruir das mudanças.
Lugares cegos nas arquibancadas, problemas de evacuação,
estacionamento escasso e distância do público em relação ao
gramado são os principais problemas apontados por especialistas em arenas esportivas
consultados pela Folha.
"A Fifa hoje está mais preocupada com a estrutura destinada a autoridades, imprensa e
atletas do que com o conforto
do público", constata o arquiteto Carlos de La Corte, que acabou de concluir uma tese de
doutorado sobre estádios brasileiros pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Um dos quatro focos de sua
pesquisa é o Morumbi. Além
das exigências da Fifa, La Corte
também utilizou como parâmetro a normativa adotada pela Europa e a "bíblia das construções esportivas", o Green
Book, da Inglaterra.
"De que adianta colocar as
cadeirinhas só para atender à
Fifa se o Morumbi tem problemas de visibilidade e a tendência é que as pessoas acabem ficando em pé para ver melhor?
Temos que estar atentos à demanda do público", diz o arquiteto, que é membro da Associação Internacional de Instalações Esportivas e Recreativas.
Em sua pesquisa, La Corte
constatou que 8.820 lugares do
estádio têm a visibilidade prejudicada por placas de publicidade, banco de reservas, guarda-corpos ou grades de separação. Em outras palavras, pouco
mais do que 13% das 67.500
pessoas que compraram ingressos terão problemas para
ver Kaká, Ronaldinho e cia.
O levantamento do arquiteto
indica que o setor mais prejudicado é o térreo, pois conta
com uma inclinação de 9, considerada baixa se comparada às
arquibancadas dos estádios europeus modernos, que têm entre 25 e 30.
A presença da pista de atletismo também é encarada como ponto negativo. As distâncias entre a primeira fileira da
arquibancada e o gramado variam de 36,40 m (setor azul) a
48,90 m (amarelo). Nos estádios modernos europeus, essa
distância vai de 6 m a 15 m.
"A pista afasta o público da
área de jogo", afirma Eduardo
de Castro Mello, integrante de
um grupo de estudos do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia que, recentemente, analisou 29 estádios no país.
Mesmo com um projeto de
reforma do Morumbi, que será
comandado por Ruy Ohtake a
partir do ano que vem, Castro
Mello não acredita que tirarão
a pista, tendo em vista que teria
que mexer muito na estrutura.
"Para prolongar as arquibancadas, teria que afundar o nível
do campo porque, se não, poderia agravar os problemas de visibilidade. Mas tem que ver
qual será o grau de investimento nesta reforma para viabilizar
isso", destaca o arquiteto.
Ainda não há estimativas de
quanto o São Paulo despenderá
na reforma. Além de prometer
uma cobertura para o estádio,
outro foco do projeto é a construção de um estacionamento
subterrâneo para 4.800 carros
em um terreno desapropriado
próximo ao estádio.
"Um estacionamento de
4.800 lugares não é nada para
um estádio de 70 mil pessoas",
comenta Castro Mello.
Mesmo contando com as
1.400 vagas estimadas ao redor
do estádio (incluindo terrenos
clandestinos e bolsões), o número está longe de atingir as
exigências da Fifa de uma vaga
para cada seis pessoas. Como o
projeto final prevê uma capacidade de 66.952 torcedores, o
estádio teria de oferecer pouco
mais do que 11 mil vagas.
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