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FUTEBOL
A sombra de Pelé
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Surge um novo Pelé."
A frase foi dita (e até escrita) por muita gente na euforia
que se seguiu à espetacular conquista do título brasileiro pelo
Santos. Referiam-se, obviamente,
ao fantástico Robinho.
Logo me vieram à lembrança
alguns jovens talentos de outras
épocas que também receberam
precocemente, um após o outro, o
peso do epíteto de "novo Pelé".
Alguns acabaram se libertando
da carga e construíram carreiras
de sucesso, ainda que bem mais
modestas que a do Rei. Um exemplo é Claudio Adão, que foi artilheiro no Santos, no Flamengo e
em mais uma dúzia de times pelo
mundo afora.
Mas alguém se lembra de Eusébio? Não, não estou falando do
magnífico craque da seleção portuguesa que encantou o mundo
na Copa de 1966, na Inglaterra, e
sim de um garoto que chegou a
fazer dupla com Pelé no Santos,
no início dos anos 70.
Não tenho a menor idéia do que
aconteceu com ele. Só sei que, durante algumas semanas, ele foi "o
novo Pelé". Talvez não tenha sido
forte o suficiente para suportar a
implacável comparação.
Essa busca frenética por um
"sucessor" foi mais intensa durante os anos em torno da aposentadoria do Rei.
Tostão, por exemplo, foi chamado de "Pelé branco", mas a interrupção precoce de sua carreira
frustrou os torcedores. Anos depois, foi a vez de Zico receber a
mesma denominação -e a mesma carga terrível de expectativas.
Quem não se lembra daquele
sambinha "A Camisa 10 da Seleção", que dizia: "Dez é a camisa
dele./ Quem é que vai ficar com a
dele?".
O tempo passou, novos craques
vieram, o Brasil conquistou mais
duas copas e produziu outros
"melhores do mundo" (oficialmente três: Romário, Ronaldo e
Rivaldo). Mas o fato é que Pelé é
uma figura tão grande que sua
sombra continua pairando sobre
o nosso futebol.
Tive uma primeira indicação
disso ao desembarcar em Paris,
para a Copa do Mundo de 1998:
um imenso painel com a imagem
de Pelé pendia do teto do saguão
principal do aeroporto Charles De
Gaulle. Pouco importa que se tratasse de uma propaganda de cartão de crédito. Para quem chegava à cidade, era como se ela estivesse sob a égide da divindade
maior do futebol.
A prova final veio com Robinho. Talvez por ser ainda um
adolescente franzino e abusado,
que até fisicamente lembra o Rei
no início da carreira, ele fez todo
mundo pensar em Pelé. (Outros
falaram também em Garrincha,
acrescentando algumas toneladas à carga simbólica que pesa
nos ombros do garoto.) Mais modestamente, lembrei de Dener.
Robinho, não resta dúvida, é
um jogador extraordinário, à altura dos maiores talentos que surgiram no país nos últimos anos:
Ronaldinho, o gaúcho, Kaká e
Diego, colega de Robinho.
Esses outros três jogadores têm
a vantagem de não se parecerem
(nem no físico, nem no estilo de
jogo) com Pelé.
E também de não terem brilhado tão intensamente numa final
de campeonato, o Brasileiro-2002, vista por todo mundo.
Se quiser escapar do destino de
Eusébio (o santista, não o moçambicano) e continuar encantando as torcidas, Robinho terá
de manter a cabeça no lugar e
sair, tanto quanto possível, da
sombra de Pelé.
Ainda bem que, pelo menos, sua
camisa não é a 10.
Pontos x mata-mata
Definiu-se, finalmente, que o
Brasileirão de 2003 será por
pontos corridos. Muito bem.
Mas confesso que os mata-matas do campeonato deste
ano foram tão eletrizantes
que fizeram balançar minha
velha preferência pelos pontos corridos. Estes últimos
são, sem dúvida, a fórmula
mais justa e racional. Mas um
torneio organizado dessa
maneira só é emocionante
quando praticamente todos
os jogos valem alguma coisa
-seja para classificar para
algum torneio importante,
seja para fugir do rebaixamento. Dito isso, talvez fosse
melhor só implantar o sistema de pontos corridos quando o campeonato tivesse apenas 20 participantes (o do
ano que vem terá 24 clubes) e
o novo torneio pan-americano estivesse consolidado a
ponto de tornar atraente a
disputa pela classificação a
ele. Ou seja: jornalista nunca
está contente.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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