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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

South American-European Cup

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Mundial interclubes, Copa Intercontinental, Copa Toyota ou European-South American Cup, como queiram, sobrevive com uma curiosa realidade.
Não é uma disputa entre o técnico futebol sul-americano e o robotizado futebol europeu, como diriam os mais antigos. Até porque os grandes da Europa têm os principais talentos sul-americanos. A questão maior que envolve o jogo no Japão nos últimos anos é como continentes com situações financeiras tão diferentes podem se equilibrar em campo.
Especialmente a partir dos anos 90, seleções passaram a representar o velho continente com a camisa de um clube, em campo neutro, contra uma aguerrida equipe cheia de limitações que leva a bandeira da América do Sul. Nos anos 60, tinha um Santos de Pelé para fazer frente aos europeus.
Nos anos 70, havia antiesportividade para complicar a vida dos "gringos" ricos. A idéia do jogo único do outro lado do mundo favorece os mais poderosos, mas não foi isso o que se viu na década de 80, quando ainda não tinha aparecido claramente o clube-seleção (o Milan de 89 e 90 começou a consolidar esse modelo de esquadrão multinacional moldado no capitalismo selvagem).
A partir dos anos 90, só times dos geniais Telê Santana e Carlos Bianchi neutralizaram o favoritismo europeu. Esses cinco títulos (dois do São Paulo, um do Vélez Sarsfield e dois do Boca Juniors) mantiveram a América do Sul na frente em vitórias (22 a 20) e igualada em território japonês (12 a 12), uma grande façanha.
O salário de Inzaghi, reserva na decisão de domingo passado devido a uma contusão, é quase o salário de todo o Boca. Enquanto o campeão da Copa América ganhará US$ 1 milhão, o último colocado da Eurocopa embolsará mais de US$ 5 mi. Em época de crise financeira no futebol internacional, o Chelsea, que não integra o grupo dos mais poderosos da Europa, quer pagar 85 mi por Van Nistelrooy, o que seria a maior transação da história. Beckham, só a última estrela do Real Madrid, figura em terceiro lugar na lista dos esportistas mais bem pagos de 2003, algo impensável até pouco tempo para um jogador de futebol (lucrou 28,6 mi). E o clube campeão mundial não consegue impedir que Battaglia vá jogar no Villareal, modesto time que já desfruta de Riquelme.
Foi sorteada a maior e mais pobre Libertadores dos últimos tempos. O campeão fatura praticamente US$ 2 milhões (menos da metade do que a extinta Copa Mercosul ensaiou pagar). Agora quanto vale ir ao Japão com as duas mãos atrás e derrotar as milionárias celebridades européias? Fazendo comercial de graça, isso não tem preço. O título de campeão do mundo é válido e parece até pouco.
A América do Sul tem uma capacidade futebolística inigualável. Como o Mundial sub-17, o Mundial sub-20 viu três países do continente nas semifinais. Não há estrutura decente, a bagunça impera, os piores dirigentes estão aqui, mas os resultados são fantásticos. O futebol expõe cada vez mais um rosto latino, mas, na essência, latino-sul-americano.

América do Sul
Libertadores é sempre bacana, mas haverá confusão na última rodada da primeira fase. Com esse novo sistema de nove grupos, ridículo, alguns times serão lesados na luta pela classificação quando dependerem de outros resultados, já que concorrentes não jogarão no mesmo horário. E em 2005 serão 37 clubes na competição continental. Os dirigentes sul-americanos são até mais criativos que os jogadores do continente.

Europa
O Manchester United contratou Lee Martin, jogador de só 16 anos que atuava no Wimbledon, por quase 1,4 milhão de euros. Enquanto isso, a Conmebol anunciou com pompa que o time campeão do Pré-Olímpico do Chile ganhará US$ 90 mil. E-mail: rbueno@folhasp.com.br




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