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patrícios
Portugal importa talento e mira Brasil
País decola no esporte com naturalizações de imigrantes e atletas de ex-colônias; brasileiros estão entre os procurados
Depois de Deco no futebol,
europeus registram Luciana
Diniz, que defendeu o Brasil
no hipismo, e colecionam
feitos de sua nova política
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma carta acaba de chegar às
mãos de dirigentes brasileiros.
O remetente é José Vicente
Moura, presidente do Comitê
Olímpico Português. O assunto: a oficialização de uma transferência de atleta, prática deflagrada por sua administração
que não pára de render títulos e
criar celeuma no esporte.
No documento que enviou ao
Comitê Olímpico Brasileiro,
Moura informa que registrou
mais uma competidora nascida
fora Portugal nas suas seleções.
Trata-se de Luciana Diniz-Knippling, que vestiu uniforme
verde-amarelo no hipismo durante os Jogos de Atenas-2004.
Sobrinha de Abílio Diniz, dono da rede de supermercados
Pão de Açúcar, a amazona possui cidadania portuguesa e vive
na Europa. É a situação que o
cartola batiza de "ideal" para
agir. "Eu não faço aliciamento
de atletas, não saio por aí oferecendo dinheiro em troca de
uma naturalização. Sou apenas
favorável a buscarmos esportistas que tenham alguma ligação com Portugal e que estejam
dispostos a nos representar",
explica Moura à Folha.
Ele acredita que tal garimpo
de talentos é a única forma de
transformar sua nação numa
referência, já que boa parte da
população não tem "um biótipo ideal para o esporte".
Assim, Moura passou a atuar
em duas frentes: procurar prodígios entre a população de
imigrantes e acompanhar atletas de ex-colônias que tenham
alguma ligação com o seu país.
"Eles nos completam morfologicamente. Foi assim que
nosso futebol se desenvolveu.
Temos o Deco, do Brasil, e muitos outros. É assim que podemos crescer também no mundo olímpico", alega.
Resultados impactantes já
apareceram. Em Atenas, o país
levou a prata nos 100 m, a prova mais badalada do atletismo,
com Francis Obikwelu.
Natural da Nigéria, o corredor estava insatisfeito com o
tratamento que recebia na
África. Como vivia e treinava
em Portugal, consultou dirigentes sobre a possibilidade de
uma transferência em 2001.
Menos de três anos depois, já
empunhava a bandeira da nova
pátria no pódio olímpico.
Casos como este chamam a
atenção do Comitê Olímpico
Internacional. Para evitar uma
livre negociação de competidores, a maioria dos esportes estabelece períodos de carência
para a troca de seleções -atletas precisam ficar, por exemplo, dois ou quatro anos sem
vestir o uniforme do país natal.
Luciana Diniz não compete
pelo Brasil desde a última
Olimpíada, considera o período
de afastamento cumprido e já
fala como membro da seleção
portuguesa. "Eles me ofereceram ótimas condições. Foi uma
proposta irrecusável. Meus
avós são de lá, tenho ligação
com o país e recebi o apoio de
que preciso", diz a atleta, 80ª
colocada no ranking mundial.
Ela agora aguarda apenas assinatura de Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, para
não ter nenhum tipo de problema jurídico para saltar em Pequim. Questionado pela Folha
se concederia ou não a autorização final à amazona, o comitê
relatou que ainda "não deliberou sobre o assunto".
Competidores de elite com
passagem por outras delegações, como o caso da brasileira,
não são os únicos que interessam aos portugueses. Em categorias de base, a varredura
também é disseminada.
Prova disso são os resultados
obtidos por duas promessas em
2006. Vitaly Efimov não tem
nome nem cara de português.
Louro, olhos claros, imigrou
com os pais da Rússia quando
tinha 15 anos. Aprendeu com a
mãe, uma ex-campeã soviética
de tênis de mesa, os macetes
com a bolinha e a raquete. Aos
18, já brilha. É o campeão dos
Jogos da Lusofonia, que reúne
países de língua portuguesa.
O outro destaque é Nelson
Evora, que deixou a Costa do
Marfim para se tornar, sob a
bandeira de Portugal, campeão
europeu júnior do salto triplo.
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