São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

O presidente avestruz



Affonso della Monica precisava apenas indicar um candidato para a eleição palmeirense, mas se omitiu


QUARTA-FEIRA , Gilberto Cipullo, vice-presidente do Palmeiras, trabalhava pela montagem do time para 2009. Um dos nomes em que pensava era o do lateral Júnior César, ex-Fluminense. Naquela manhã, Cipullo já sabia o que o diretor do São Paulo, João Paulo Jesus Lopes, afirma só ter tomado conhecimento no final daquele dia. Que a negociação do lateral com o Hertha, da Alemanha, havia fracassado. Era possível contratá-lo.
Na manhã de quinta-feira, Júnior César já era jogador do São Paulo, embora seu procurador tenha sempre deixado claro que foi o Palmeiras quem trabalhou mais, e há mais tempo, para ter o lateral. Por que, então, Júnior César optou pelo São Paulo, e não pelo Palmeiras? A resposta evidente é o desejo de dez entre dez atletas brasileiros de jogar pelo Tricolor. Outra parte da resposta está na ferida exposta pela guerra política em que se tornou o Parque Antarctica nos últimos meses.
Guerra política que tem um único vilão: Affonso della Monica. O presidente queria ficar no comando do Palmeiras por mais um ano. Não pense que pretendia perpetuar-se, como fez Mustafá Contursi. Queria menos do que isso. Della Monica é assim: quer sempre menos. Della Monica queria se esconder, atrás do muro de sua incompetência em gerir sua própria sucessão. Essa é função de todos os principais líderes políticos, no esporte ou fora dele. Sentado no porco poder palmeirense, sustentado de um lado pelos velhos aliados de Mustafá e de outro pelo movimento Muda Palmeiras -de Seraphim del Grande, Gilberto Cipullo e Luiz Gonzaga Belluzzo-, Della Monica precisava apenas indicar um candidato de um dos dois lados e fazer com que todos os demais seguissem sua recomendação.
Omitiu-se. Com um ano a mais de mandato, imaginava, as vitórias em campo tornariam incontestável a candidatura de alguém ligado ao futebol. O presidente não precisaria posicionar-se, coisa de que parece ter horror. Os troféus fariam isso por ele. Mas não pense que Della Monica provocou um debate amplo sobre sua permanência. Foi Cipullo, ao perceber que não havia mais tempo hábil para produzir a paz que o presidente não semeou, quem tratou de seduzir conselheiros e convencê-los de que a prorrogação do mandato seria a única solução viável.
O Palmeiras terá em janeiro a eleição mais disputada dos últimos 21 anos. A situação pode fazer de Cipullo o presidente, se trabalhar por uma coalizão com Hugo Palaia. Como Della Monica não se posiciona, Cipullo procurou Palaia para compor uma única chapa e ouviu que este não abrirá mão de ser candidato. Juntos, Cipullo e Palaia somariam 157 votos, número que elegeu Della Monica há dois anos. Separados, podem perder para a oposição de Roberto Frizzo, supostamente dono de 110 votos. Há ainda outro ingrediente: Mustafá pode não apoiar Roberto Frizzo e dividir a oposição. O Palmeiras está em guerra.
Todos os lados querem apenas uma posição do atual presidente: o seu candidato. E o presidente, que adora futebol e não entende nada, segue com a cabeça enterrada, qual uma avestruz. Ao seu redor, até Júnior César sabe que, desse jeito, o Palmeiras não tem futuro.

pvc@uol.com.br


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