São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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TOSTÃO

Realistas e ilusionistas


Não devemos confundir habilidade com técnica e criatividade. O craque precisa ter todas essas virtudes


SEMPRE QUE falo de grandes jogadores da história do futebol brasileiro, esqueço alguns.
Na última coluna, não citei Jairzinho. Desta vez, não me esqueci de Rivaldo, outro craque que é pouco lembrado.
Alguns jogadores excepcionais, por não serem modelo de craque que está no imaginário do brasileiro, são menos valorizados.
Jairzinho é mais lembrado pela força física, velocidade e por ter sido artilheiro da Copa de 1970.
Ele fez gol em todos os jogos. Jairzinho era muito mais que isso.
Era habilidoso, criativo e tinha uma excepcional técnica.
Foi brilhante no Botafogo e no Cruzeiro.
Rivaldo era desengonçado, grande e previsível.
Nada disso combina com um craque brasileiro. Mas era excepcional nas finalizações, além de executar com enorme eficiência os fundamentos técnicos de sua posição.
Rivaldo foi decisivo em quase todos os clubes em que jogou.
Toda vez que Maicon joga mal na seleção, é chamado de grosso.
Quando atua bem, é elogiada somente a sua força física.
Além de alto e forte, Maicon marca bem, chega com facilidade ao ataque e faz bons cruzamentos.
Não é um craque, mas é um excelente lateral.
Não devemos confundir habilidade com técnica e criatividade. O talento é a união de tudo isso, além de qualidades físicas e emocionais.
Jogadores como Kaká, Rivaldo e outros são habilidosos, criativos, porém se destacam muito mais pela execução dos fundamentos técnicos. Messi e Ronaldinho possuem ótima técnica, mas encantam muito mais pela habilidade. São artistas da bola, ilusionistas.
Jogadores com habilidade, mas com pouca técnica, como Denílson, nunca serão craques.
No máximo, serão bons ou excelentes jogadores. Não foi por acaso que o super-habilidoso D'Alessandro, que joga um futebol refinado e bonito, não se destacou nem em equipes médias da Europa.
Enquanto isso, o desengonçado, técnico e eficiente Rivaldo chegou a ser o melhor do mundo.
Robinho é veloz, criativo e extremamente habilidoso.
Falta a ele, para ser um candidato habitual ao título de melhor jogador do mundo, evoluir nos fundamentos técnicos, principalmente na finalização.
Pelé foi indiscutivelmente o melhor de todos os tempos porque reunia, no mais alto nível, todas as virtudes de um craque.
Por ter jogado ao seu lado e ser hoje um crítico, tentei, de todas as formas, encontrar uma deficiência em seu futebol. Não consegui. Dentro de campo, Pelé foi um deus.
Cada vez mais os jogadores evoluem na parte técnica e tática.
Por outro lado, estão menos habilidosos, menos artistas, menos fantasistas e menos inventivos.
Com isso, o futebol fica menos bonito. A realidade não pode viver sem a ilusão.
Para ser um craque, é preciso ter, em proporções variáveis para cada atleta, muita técnica, habilidade e criatividade.
O jogador, e qualquer profissional, necessita também ser guerreiro, ambicioso e sonhador.
"A vida é sonho." (Calderón de La Barca)


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