São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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AÇÃO

Nova dimensão

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

No momento em que você lê estas linhas, uma centena de surfistas está sentada em suas pranchas, olhando para o outside, à espera da maior onda do mundo. Seja Jaws, Cortez Bank, Mavericks ou na costa francesa, atletas dos quatro cantos do mundo aguardam sua vez de tentar dropar uma parede de água, fazer a curva e entrar direto na mitologia do surfe.
Em Jaws, Havaí, o Mundial de tow-in está no período de espera. O sinal verde será dado assim que as ondas superarem 40 pés. Lá se encontram as duplas brasileiras formadas por Carlos Burle e Eraldo Gueiros, Rodrigo Resende e Danilo Couto, Sylvio Mancusi e o havaiano Manny Carabello. Rodrigo irá defender o título, já que, em 2002 (no ano passado, o swell não atingiu a violência necessária e, portanto, não houve o campeonato), foi campeão formando dupla com o havaiano Garret McNamara. Quem ficar com o caneco embolsará US$ 100 mil.
Mas, nesse tipo de evento, não basta "querer" participar; o surfista deve ser "convidado", e a organização leva em consideração a experiência do atleta em ondas grandes e no reboque com jet-ski.
É assim também em Mavericks, onde, após uma parada de dois anos, Jeff Clark, o patrono do local, anunciou a volta do Mavericks Big Wave. Na lista de convidados, estão Darryl Virostko (ganhador dos últimos dois), Carlos Burle e Rodrigo Resende. Quando o swell entrar, Clark vai "bipar" os atletas, que terão 24 horas para se apresentar. Burle, que está em Cortez Bank com o Billabong Odissey, outro evento de ondas grandes, está ligado no bipe.
A diferença entre o XXL Billabong Odissey e os outros é que, além de pagar ao vencedor US$ 1.000 por pé de onda surfada, ele vai premiar com US$ 1 milhão aquele que encontrar e dropar uma onda de 100 pés. As apostas foram abertas há três anos e, embora algumas paredes de mais de 60 pés já tenham sido domadas, ninguém chegou perto do feito.
Quando isso acontecer, o surfe entrará em uma nova dimensão, que nada terá a ver com a que foi aberta em 1969 por Greg Noll.
Noll, na tarde do dia 4 de dezembro daquele ano, entrou sozinho nas águas de Makaha, Oahu, Havaí. Ali, um swell épico, resultado de uma tempestade sem precedentes no Golfo do Alasca, quebrava diante de seus olhos. Embora estivesse, como contou depois, petrificado, remou para o outside e dropou o que até hoje é considerada a maior onda do mundo (sem a ajuda de um jet-ski, claro). Saiu vivo, mas nunca mais foi o mesmo. Ele, que por 15 anos havia perseguido a maior onda do mundo, mudou-se para uma pequena cidade na Califórnia, virou pescador e nunca mais surfou.
Ao contrário do frenesi que existe hoje, Noll estava sendo observado por meia dúzia de pessoas. E por Shaun Tomson, campeão mundial em 1977, que filmou em super-8 o feito. Mas a passagem nunca foi vista por ninguém. Tomson garante que não sabe onde colocou a fita. Noll, dizem, prefere assim. "Ele não fez aquilo por dinheiro ou fama. Fez porque tinha que fazer", disse Tomson. Mas isso era 1969.

Reconhecimento
"Riding Giants", um documentário sobre ondas grandes que fala sobre o dia épico em que Greg Noll surfou Makaha, abriu o Sundance Festival, realizado em Park City, Utah, nos Estados Unidos, na noite do dia 16. Foi a primeira vez que um documentário foi escolhido para inaugurar o badalado evento.

Agora é aqui
Acostumados à discriminação no Tour Mundial da ASP, os surfistas brasileiros agora sofrem para competir no próprio continente. Decidido em assembléia da Alas (Asociación Latinoamerica de Surf) atletas do país foram vetados para disputar provas profissionais no continente. A alegação: no Brasil já existem muitos campeonatos profissionais.

E-mail sarli@trip.com.br


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