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AÇÃO
Nova dimensão
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
No momento em que você lê
estas linhas, uma centena de
surfistas está sentada em suas
pranchas, olhando para o outside, à espera da maior onda do
mundo. Seja Jaws, Cortez Bank,
Mavericks ou na costa francesa,
atletas dos quatro cantos do
mundo aguardam sua vez de tentar dropar uma parede de água,
fazer a curva e entrar direto na
mitologia do surfe.
Em Jaws, Havaí, o Mundial de
tow-in está no período de espera.
O sinal verde será dado assim que
as ondas superarem 40 pés. Lá se
encontram as duplas brasileiras
formadas por Carlos Burle e Eraldo Gueiros, Rodrigo Resende e
Danilo Couto, Sylvio Mancusi e o
havaiano Manny Carabello. Rodrigo irá defender o título, já que,
em 2002 (no ano passado, o swell
não atingiu a violência necessária e, portanto, não houve o campeonato), foi campeão formando
dupla com o havaiano Garret
McNamara. Quem ficar com o
caneco embolsará US$ 100 mil.
Mas, nesse tipo de evento, não
basta "querer" participar; o surfista deve ser "convidado", e a organização leva em consideração
a experiência do atleta em ondas
grandes e no reboque com jet-ski.
É assim também em Mavericks,
onde, após uma parada de dois
anos, Jeff Clark, o patrono do local, anunciou a volta do Mavericks Big Wave. Na lista de convidados, estão Darryl Virostko (ganhador dos últimos dois), Carlos
Burle e Rodrigo Resende. Quando
o swell entrar, Clark vai "bipar"
os atletas, que terão 24 horas para
se apresentar. Burle, que está em
Cortez Bank com o Billabong
Odissey, outro evento de ondas
grandes, está ligado no bipe.
A diferença entre o XXL Billabong Odissey e os outros é que,
além de pagar ao vencedor US$
1.000 por pé de onda surfada, ele
vai premiar com US$ 1 milhão
aquele que encontrar e dropar
uma onda de 100 pés. As apostas
foram abertas há três anos e, embora algumas paredes de mais de
60 pés já tenham sido domadas,
ninguém chegou perto do feito.
Quando isso acontecer, o surfe
entrará em uma nova dimensão,
que nada terá a ver com a que foi
aberta em 1969 por Greg Noll.
Noll, na tarde do dia 4 de dezembro daquele ano, entrou sozinho nas águas de Makaha, Oahu,
Havaí. Ali, um swell épico, resultado de uma tempestade sem precedentes no Golfo do Alasca, quebrava diante de seus olhos. Embora estivesse, como contou depois,
petrificado, remou para o outside
e dropou o que até hoje é considerada a maior onda do mundo
(sem a ajuda de um jet-ski, claro).
Saiu vivo, mas nunca mais foi o
mesmo. Ele, que por 15 anos havia perseguido a maior onda do
mundo, mudou-se para uma pequena cidade na Califórnia, virou
pescador e nunca mais surfou.
Ao contrário do frenesi que
existe hoje, Noll estava sendo observado por meia dúzia de pessoas. E por Shaun Tomson, campeão mundial em 1977, que filmou em super-8 o feito. Mas a
passagem nunca foi vista por ninguém. Tomson garante que não
sabe onde colocou a fita. Noll, dizem, prefere assim. "Ele não fez
aquilo por dinheiro ou fama. Fez
porque tinha que fazer", disse
Tomson. Mas isso era 1969.
Reconhecimento
"Riding Giants", um documentário sobre ondas grandes que fala sobre o dia épico em que Greg Noll surfou Makaha, abriu o Sundance
Festival, realizado em Park City, Utah, nos Estados Unidos, na noite
do dia 16. Foi a primeira vez que um documentário foi escolhido para
inaugurar o badalado evento.
Agora é aqui
Acostumados à discriminação no Tour Mundial da ASP, os surfistas
brasileiros agora sofrem para competir no próprio continente. Decidido em assembléia da Alas (Asociación Latinoamerica de Surf) atletas do país foram vetados para disputar provas profissionais no continente. A alegação: no Brasil já existem muitos campeonatos profissionais.
E-mail sarli@trip.com.br
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