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FUTEBOL
(Pode ser) melhor com elas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Discute-se agora a volta
das torcidas organizadas
aos estádios. Como se algum dia
elas tivessem ido embora!
Eu tenho opinião diferente de
90% dos meus colegas (e de boa
parte da população, reconheço).
Não acho que as torcidas devam
ser extintas e também não acredito que isso seja possível.
Um conhecido meu, que nunca
pertenceu a torcida alguma mas
também não concorda com a extinção, fez uma comparação descabida: "Se tem de acabar com as
torcidas porque os seus líderes
não conseguem ter controle sobre
os comandados, então tem de
acabar com a polícia também!".
Calma. A polícia tem sua função
importante na sociedade e não
deve deixar de existir; o despreparo, a corrupção, o abuso de autoridade e a violência é que têm de
ser combatidos.
A torcida organizada não tem
uma "função importante", mas
sua razão de ser não tem nada de
mau. É natural que torcedores do
mesmo time desenvolvam uma
identificação forte uns com os outros e se organizem em um grupo
com nome, sede, camisa, bandeira e, vá lá, grito de guerra. Humanos têm tendência a se agrupar
em função de interesses comuns,
seja para formar grêmio literário,
cineclube ou torcida.
O problema é a violência, a prepotência, o fanatismo. É quando
o aficionado não torce mais pelo
time, ele torce para a torcida. Futebol já não tem mais nada a ver
com isso. É enxergar o adversário
como inimigo e o jogador do seu
time como o defensor da sua honra, da sua virilidade.
Esse instinto sanguinário pode
ser reforçado no grupo. Mas o
grupo com que o sujeito se identifica também pode ter poder de
coerção na direção da civilidade.
Se o próprio chefe da torcida espanca um velho na rua, isso nunca vai acontecer. E, se ele é tratado como celebridade em programas de TV e pela diretoria do clube, a sua liderança indecente ganha força perante os miolos moles
à sua volta. William Figueiredo,
sexagenário do Rio de Janeiro, diz
que já viu esse filme -"não venham dizer que são maus elementos que se infiltram nas torcidas". Se o líder do bando é covarde e violento, ele tem razão.
Mas a torcida pode ser de outro
jeito. A quadra pode ser ponto de
encontro para um churrasco, um
show, um jogo, um ensaio de escola de samba. A torcida pode publicar revista, criar site e oferecer
oficinas de informática, percussão, adereços. Ela pode ser a base
para um projeto de conscientização para o uso de preservativo.
Acreditem, tudo isso já acontece.
Eu prefiro tentar trabalhar com
as torcidas a imaginar que é possível impedir as pessoas de se reunirem. O ignorante que sai de casa com um morteiro e três vizinhos prontos para a briga talvez o
fizesse de qualquer jeito. Se ele for
cadastrado em uma torcida, pode
ser mais fácil controlá-lo. E, se a
torcida for um núcleo mais civilizado, ele pode se "distrair" com
outras coisas que não dar porrada. O desafio é civilizar as torcidas, os cidadãos, a sociedade toda
- que cultua a violência, pelo
"bem" ou pelo "mal".
Demorou
A criação de delegacias móveis,
juizados especiais ou seja lá o
que for mais apropriado nos estádios é uma medida importante para punir vândalos e agressores com rapidez e rigor.
Nada a ver
O atleta que se apresenta a um
time não pode ser coagido a
vestir o boné de torcida organizada. Ele tem obrigação de vestir a camisa do time. Se quiser
confraternizar com a torcida,
tem de ser por vontade "livre e
espontânea" (existe outra?).
Time misto
Acho que se houvesse mais mulheres nas torcidas e nas arquibancadas, os estádios seriam
menos belicosos. Perdão pelo
mau português, mas é muito
homem junto.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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