São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

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Agnelo abre e não dá conta do pregão da Bolsa-Atleta

Lançado nesta semana sem esclarecimento, programa do governo para auxiliar competidores sem patrocínio causa frustração e correria ao Ministério do Esporte

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A demanda surpreendeu. Desde que o governo regulamentou o Bolsa-Atleta, na última segunda-feira, o Ministério do Esporte viu mais de 2.000 pessoas procurarem informações sobre o benefício. Ávidos por uma ajuda, cerca de 1.000 atletas de todos os tipos chegaram a bater à porta da pasta nesta semana. O esforço da maioria, porém, pode ter sido em vão.
Pouco informados sobre as regras para obter a verba, muitos dos que preencheram formulários não contemplam os requisitos necessários. Desde terça-feira, mais de 1.000 inscrições foram feitas -por internet ou Correios-, o site do ministério teve mais de 7.000 acessos e 300 e-mails chegaram à ouvidoria da pasta.
"Eu vi na TV uma entrevista do ministro Agnelo e decidi pedir a ajuda", afirmou o maratonista Arnaldo Sales de Sá, que esteve no ministério na quarta-feira. Pleiteia a bolsa categoria nacional -concede R$ 750,00 por mês durante um ano ao agraciado.
Maratonista de 41 anos, ele não ocupa as três primeiras posições do ranking brasileiro nem conquistou no mínimo o bronze no evento máximo da modalidade (no seu caso, a Maratona de São Paulo, que faz as vezes de Campeonato Brasileiro em 2004), requisitos para pleitear a bolsa.
Até falar com a reportagem, Sá acreditava que precisava estar entre os 24 melhores do país -o critério é utilizado para estudantes em modalidades coletivas.
"Tinha muita gente no ministério com resultados piores que o meu. Me disseram [um funcionário da pasta, cujo nome ele não sabe] para tentar mesmo assim. Se os primeiros do ranking não pedirem a bolsa, recebem os que vêem logo atrás", conta.
A informação não é correta. Segundo o Ministério do Esporte, se os melhores na categoria principal não pedirem o auxílio, ele deve ser estendido à divisão seguinte -juvenil, sub-23 etc.
"A intenção é claramente ajudar a base e aqueles atletas consagrados que sempre reclamaram ajuda", explica André Arantes, secretário de Alto Rendimento.
"Não surpreende que essas pessoas estejam procurando a bolsa. Ainda é novidade. A informação precisa ser repetida para que as pessoas assimilem. O bom é que estão buscando esclarecimento."
As tentativas de clarear os critérios de concessão do Bolsa-Atleta já chegam aos telefones das confederações olímpicas.
Martinho Nobre dos Santos, secretário-geral da entidade que comanda o atletismo, conta que a CBAt já recebeu inúmeras consultas. Uma das principais questões é a definição de qual é a "competição máxima da modalidade" -da qual os três primeiros colocados podem receber a verba.
O judoca Sandro Vieira, 23, também foi ao ministério nesta semana. Acredita que pode receber a bolsa porque ficou em terceiro lugar no Brasileiro da Liga Nacional de judô. A entidade, no entanto, não é a que oficialmente rege o esporte no país.
"Estou esperançoso. Eu não tenho nenhum patrocínio. Já enviei a documentação", conta.
Segundo o secretário, o ministério irá lançar uma cartilha explicativa sobre o projeto entre 15 e 20 dias. A avaliação da pasta é de que é necessária uma campanha para aumentar o alcance das informações, que hoje podem ser obtidas no site do ministério, pelo telefone ou em visitas à pasta.
O Bolsa-Atleta deve consumir R$ 5 milhões do orçamento do ministério em 2005, ainda não aprovado. No ano passado, a previsão é de que seria despendido o dobro com os benefícios.


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