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MOTOR
Malandro é malandro e mané é mané
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
É de se duvidar que o marquês
Montezemolo, executivo com
mestrados em Roma e Nova York,
presidente da Ferrari, da Maserati e da Fiat, tenha escutado, alguma vez na sua vida, a obra de Bezerra da Silva.
A chance é ínfima. Maranello e
o morro do Cantagalo são mundos opostos e, pelo que consta, o
italiano é fã incondicional dos
Beatles. O que só me leva a acreditar que as leis da malandragem
são universais, não interessando
se a vítima do caô são conglomerados multinacionais ou o dono
do botequim que aceitou o fiado.
Porque o que Montezemolo deu
à F-1, nesta semana, foi uma aula
sobre a arte de ser malandro. Malandro no sentido Bezerra da palavra, do sujeito que não cai, nem
escorrega, que não dorme, nem
cochila. E que não entra em fila.
Com uma canetada de seu presidente, a Ferrari furou a fila. Garantiu dinheiro na conta até 2012.
Pôs suas nove adversárias contra
a parede. Algumas, de joelhos.
Esta coluna havia opinado que,
na disputa entre Ecclestone e a
GPWC, a verdadeira F-1 seria
aquela que seduzisse a escuderia
italiana. Pois bem, o inglês venceu: assegurou a Ferrari na "sua"
F-1 por cinco anos além do Pacto
de Concórdia. E já começou a cobrar a adesão dos outros times.
McLaren, Williams, talvez Renault e BAR, podem até conseguir
um pedacinho maior do bolo.
Mas nada perto daquilo que vislumbraram por anos e anos. Sauber, Jordan, Toyota e Minardi se
darão por satisfeitas se mantiverem os tamanhos de suas fatias.
Qual foi o roteiro da malandragem? Como de hábito, tudo fica
mais claro com o caso encerrado.
Montezemolo sempre deu apoio
ao levante das montadoras. Mas,
na hora da formação da GPWC,
quatro anos atrás, foi a Fiat, e
não a Ferrari, que assinou a papelada. Para aplacar as desconfianças, Paolo Cantarella, alto
executivo da montadora italiana,
assumiu o comando dos rebeldes.
Mais: de tempos em tempos,
Montezemolo surgia para desancar publicamente o atual Pacto
de Concórdia, para defender uma
categoria paralela em 2008, para
dizer que às protagonistas do espetáculo só restavam migalhas.
Nos bastidores, porém (e as outras montadoras só souberam disse agora), negociava com Ecclestone. E as conversas certamente se
intensificaram com a saída da
Ford, no fim de 2004.
Ciente de que a Renault também ensaia uma retirada e sabedor do poder da marca que tem
em mãos, Montezemolo decidiu
mandar as bravatas da GPWC
para o espaço e fez uma proposta
ao inglês -especulações sobre o
valor do contrato vão atravessar
a década. Ecclestone, exultante,
pagou o que a Ferrari pediu, já
que poderia descontar a diferença
na negociação com as demais.
O que ficou da guerra montadoras x Ecclestone? Por sobre os escombros, a sobrevivência da F-1
pós-2007, com a Ferrari e o inglês
sorridentes, esfregando as mãos,
esperando os outros participantes. Em frangalhos, a GPWC e as
equipes nanicas, que sonhavam
tirar alguma vantagem do caso.
Não tem jeito, já dizia a lei de
Bezerra: malandro é malandro e
mané é mané. Capisci?
Sururu formado
A "Autosport" traz a foto do carro que Bruno Senna guiará na F-3 inglesa. O dono do time é Raikkonen e quatro etapas, entre elas as duas
últimas, serão em "Silvastone". Boas histórias à vista.
É o bicho
Programa bom para o feriado paulistano é acompanhar as Mil Milhas. Após um período de vacas magras, a corrida vai reunir quase 60
carros, times e pilotos estrangeiros. A largada será à 0h da terça.
Malandro não vacila
Em vez de construir uma equipe do zero, a Midland enxergou negócio melhor e vai comprar a Jordan. Não será em 2006 que a F-1 voltará a ver mais de dez times.
E-mail
fseixas@folhasp.com.br
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