São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Malandro é malandro e mané é mané

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

É de se duvidar que o marquês Montezemolo, executivo com mestrados em Roma e Nova York, presidente da Ferrari, da Maserati e da Fiat, tenha escutado, alguma vez na sua vida, a obra de Bezerra da Silva.
A chance é ínfima. Maranello e o morro do Cantagalo são mundos opostos e, pelo que consta, o italiano é fã incondicional dos Beatles. O que só me leva a acreditar que as leis da malandragem são universais, não interessando se a vítima do caô são conglomerados multinacionais ou o dono do botequim que aceitou o fiado.
Porque o que Montezemolo deu à F-1, nesta semana, foi uma aula sobre a arte de ser malandro. Malandro no sentido Bezerra da palavra, do sujeito que não cai, nem escorrega, que não dorme, nem cochila. E que não entra em fila.
Com uma canetada de seu presidente, a Ferrari furou a fila. Garantiu dinheiro na conta até 2012. Pôs suas nove adversárias contra a parede. Algumas, de joelhos.
Esta coluna havia opinado que, na disputa entre Ecclestone e a GPWC, a verdadeira F-1 seria aquela que seduzisse a escuderia italiana. Pois bem, o inglês venceu: assegurou a Ferrari na "sua" F-1 por cinco anos além do Pacto de Concórdia. E já começou a cobrar a adesão dos outros times.
McLaren, Williams, talvez Renault e BAR, podem até conseguir um pedacinho maior do bolo. Mas nada perto daquilo que vislumbraram por anos e anos. Sauber, Jordan, Toyota e Minardi se darão por satisfeitas se mantiverem os tamanhos de suas fatias.
Qual foi o roteiro da malandragem? Como de hábito, tudo fica mais claro com o caso encerrado.
Montezemolo sempre deu apoio ao levante das montadoras. Mas, na hora da formação da GPWC, quatro anos atrás, foi a Fiat, e não a Ferrari, que assinou a papelada. Para aplacar as desconfianças, Paolo Cantarella, alto executivo da montadora italiana, assumiu o comando dos rebeldes.
Mais: de tempos em tempos, Montezemolo surgia para desancar publicamente o atual Pacto de Concórdia, para defender uma categoria paralela em 2008, para dizer que às protagonistas do espetáculo só restavam migalhas.
Nos bastidores, porém (e as outras montadoras só souberam disse agora), negociava com Ecclestone. E as conversas certamente se intensificaram com a saída da Ford, no fim de 2004.
Ciente de que a Renault também ensaia uma retirada e sabedor do poder da marca que tem em mãos, Montezemolo decidiu mandar as bravatas da GPWC para o espaço e fez uma proposta ao inglês -especulações sobre o valor do contrato vão atravessar a década. Ecclestone, exultante, pagou o que a Ferrari pediu, já que poderia descontar a diferença na negociação com as demais.
O que ficou da guerra montadoras x Ecclestone? Por sobre os escombros, a sobrevivência da F-1 pós-2007, com a Ferrari e o inglês sorridentes, esfregando as mãos, esperando os outros participantes. Em frangalhos, a GPWC e as equipes nanicas, que sonhavam tirar alguma vantagem do caso.
Não tem jeito, já dizia a lei de Bezerra: malandro é malandro e mané é mané. Capisci?

Sururu formado
A "Autosport" traz a foto do carro que Bruno Senna guiará na F-3 inglesa. O dono do time é Raikkonen e quatro etapas, entre elas as duas últimas, serão em "Silvastone". Boas histórias à vista.

É o bicho
Programa bom para o feriado paulistano é acompanhar as Mil Milhas. Após um período de vacas magras, a corrida vai reunir quase 60 carros, times e pilotos estrangeiros. A largada será à 0h da terça.

Malandro não vacila
Em vez de construir uma equipe do zero, a Midland enxergou negócio melhor e vai comprar a Jordan. Não será em 2006 que a F-1 voltará a ver mais de dez times.

E-mail
fseixas@folhasp.com.br


Texto Anterior: Maradona estava fora de juízo, diz dirigente
Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Procuram-se matadores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.